
Simon Leviev, atualmente conhecido como "O Impostor do Tinder" é, provavelmente, um dos nomes mais procurados na internet desde a estreia do documentário da Netflix que dá a conhecer a história de um homem que usa uma identidade falsa para extorquir dinheiro a mulheres que conhece na famosa aplicação de encontros. Um conto de fadas que vira um pesadelo em poucos meses.
O israelita faz-se passar por filho de Lev Leviev, conhecido como "rei dos diamantes" e CEO do grupo LLD Diamonds. Encanta as mulheres nas redes sociais com a sua vida extravagante, recheadas de luxos: jatos privados, iates, carros que valem milhares de euros, hotéis de cinco estrelas, roupas de famosos costureiros... mas tudo não passa de uma farsa que acabou em vidas completamente destruídas. As vítimas que dão a cara neste documentário - a norueguesa Cecilie Fjellhøy, a sueca Pernilla Sjoholm e a holandesa Ayleen Koeleman - foram manipuladas por este homem que lhes extorquiu quantias milionárias, levando-as a pedir créditos que até hoje estão a pagar e cujos casos nunca chegaram a tribunal... mas já lá vamos.
As vítimas que dão a cara neste documentário - a norueguesa Cecilie Fjellhøy, a sueca Pernilla Sjoholm e a holandesa Ayleen Koeleman - foram manipuladas por este homem que lhes extorquiu quantias milionárias, levando-as a pedir créditos que até hoje estão a pagar e cujos casos nunca chegaram a tribunal... mas já lá vamos.
Simon Leviev - um dos nomes falsos que usou durante os seus esquemas - fez-se de apaixonado por estas mulheres. Prometeu-lhes mundos e fundos... até uma família. O que, para aquelas mulheres, tinha tudo para acabar com um final feliz, tornou-se um inferno. Depois de as deixar completamente vulneráveis ao seu amor, fingiu-se perseguido por "inimigos" e afirmava não poder mexer nas suas contas, pedindo-lhes dinheiro emprestado. Fez com que tivesse acesso às suas contas bancárias e com que elas contraissem créditos, fugindo sempre de qualquer responsabilidade.
Estas três mulheres burladas têm, por pagar, cerca de 712 mil euros, resultado de todo o dinheiro que deram ao vigarista. Mas afinal, quem é este homem? Qual é o seu perfil? O que leva estas mulheres a confiarem cegamente num homem que conhecem através de uma aplicação? Apaixonaram-se por ele ou por o seu estilo de vida? Fomos à procura de respostas... QUEM É O VERDADEIRO SIMON LEVIEV? O nome verdadeiro deste golpista é Shimon Hayut, é israelita e tem 31 anos de idade e, desde cedo, que começou a viver à conta das mulheres que vai conquistando. Até à data, segundo as autoridades, este homem roubou mais de 8,76 milhões de euros, valor cujas todas as vítimas continuam a pagar. Leviev já esteve preso... mas por pouco tempo quando comparado aos danos que causou.
QUEM É O VERDADEIRO SIMON LEVIEV?
Mas antes disto, em 2008, Simon já tinha roubado uma família nos Estados Unidos - para quem trabalhou como "ama" - a quem desviou cerca de 32 mil euros. Três anos depois foi obrigado a fugir de Israel, onde era procurado por fraude, falsificação e roubo. O ESQUEMA DE UM SOCIOPATA THE MAG falou com Vera Ribeiro Patrício, psicóloga clínica, que nos desvenda o perfil deste homem que enganou dezenas de mulheres. "
O ESQUEMA DE UM SOCIOPATA
Simon era, para estas mulheres, um homem ausente que cimentava as suas relações com fotografias, declarações de amor, emojis, mensagens escritas e áudios, fazendo assim que este encantamento foi, em grande parte, alimentado pelas vítimas que se apaixonavam por um perfil que as encantava mas de quem pouco conheciam. "Era tudo muito por mensagens. Ele até podia ter um texto escrito, que fosse igual para todas. Um género de um guião. Não se percebe até que ponto ele cultivava um enamoramento. Sinceramente, parece-me que não. Parece-me que as vitimas estavam a querer acreditar num sonho. Quando a pessoa se apaixona acaba por idealizar muito a relação e, mesmo que a pessoa não seja muito romântica, na cabeça delas passa a ser."
"Parece-me ser um sociopata com um transtorno antissocial brutal. Aquele esquema romântico que ele cria é exclusivamente para extorquir mulhere, sem se importar com sentimentos"Vera Ribeiro Patrício, Psicóloga clínica
Para a psicóloga, este vigarista não escolhe um estereótipo de mulheres para enganar, até porque para homens com um perfil como o de Leviev, isso pouco importa. "O que é importante é a arte de manipular psicologicamente o outro e isso não é para todos. Nem toda a gente consegue fazer isso, sem qualquer sentimento. Se se for muito bom nessa matéria, não importa qual seja o perfil da vítima. Ele vai sempre tentar encontrar esses pontos fracos e tentar fazer essa manipulação de forma profunda."
SEM PUNIÇÃO E COM MAIS POPULARIDADE
Se assistiu ao documentário até ao fim, provavelmente ficou chocado. Como em tudo na sua vida, o protagonista deu a volta à situação: está em liberdade, tinha uma namorada - uma modelo israelita - e continua a fazer a mesma vida de luxo. Como? Ninguém sabe responder.
"É inacreditável uma pessoa que foi alvo de todo este mediatismo continuar a fazer um estilo de vida que faz", afirma Vera, que chama a atenção para um pormenor ainda mais perturbador. "Ele agora tem imensos seguidores. Infelizmente, a nossa sociedade acha muito bem este tipo de coisas e age ao contrário. Este culto do virtual é maléfico. No documentário foi-lhe dada muito mais visibilidade e força porque este é o culto da nossa sociedade atual."
A psicóloga ataca, reforçando que o "documentário não passa uma imagem de punição. É uma vingança de três mulheres mas ele sai ileso disto tudo e com muito mais visibilidade, ou seja, popularidade."
"Este culto do virtual é maléfico. No documentário, foi-lhe dada mais visibilidade e força porque esse é o culto da nossa sociedade atual"
Vera Ribeiro Patrício afirma que, tal como em muitos crimes de caráter passional ou romântico, as vítimas são, mais uma vez, menosprezadas.
"Isto é uma extorsão completa e elas reconhecem isso. Ninguém ouve nenhuma das vítimas afirma que se ele não fizesse isto ainda estariam juntos ou que ainda o ama. E isso não acontece porque não há base para uma relação duradoura, exatamente porque o sociopara não permite isso. Ele esteve com todas aquelas pessoas da mesma forma, com a mesma postura. É um ritual dele, um papel que está a desempenhar. A vitima é menosprezada, apontando-lhe o dedo do género: 'Tu é que te meteste nesta situação, foste seduzida, agora tens que arcar com as consequências."
O AMOR ATRAVÉS DE UM "MATCH": NO QUE É QUE NOS TORNÁMOS?
Há cada vez mais pessoas a registarem-se em aplicações de encontros. Porquê? O que leva alguém a encontrar-se com um desconhecido?
Neste caso específico: as vítimas apaixonaram-se por ele ou pelo seu estilo de vida? A psicóloga responde: "Apaixonam-se por ele e por um estilo de vida extravagante. A primeira impressão nestas aplicações é sempre a aparência física, é a única informação que os inscritos têm. Depois o estilo de vida que as pessoas têm, o seu status social, são outras das coisas que contam bastante. Nesta situação foi aquilo que fez as vítimas avançar, certamente. Não houve tempo sequer para haver um envolvimento emocional."
Com todos os riscos que se corre ao conhecer alguém através da internet, o uso deste tipo de aplicações ainda é benéfico? O que é que se perdeu? "Quando este tipo de aplicações apareceu foi muito benéfico para pessoas que viviam isoladas, em zonas mais rurais, que não tinham acesso a encontros sociais... Agora, acho que o estatuto se está a perder um bocadinho, nomeadamente esta parte da conquista, da sedução. É tudo muito eletrónico e, muitas vezes, não real. Podemos passar por outro estilo de personalidade, podemos ter outra imagem... perde-se o contexto de sedução."
Vera Ribeiro Patrício realça ainda a forma como esta nova forma de conquista "fácil" pode mudar os valores das novas gerações. "Estamos a construir uma imagem da questão da conquista e do belo errada, levando a que os jovens acabem por ir pelo mesmo caminho. Acabam por achar que é pela internet que temos amigos. Quantos mais seguidores, mais importantes as pessoas são. Está-se a implementar um modo de estar na vida irreal."
E AGORA? COMO ESTÁ A VIDA DE LEVIEV?
Como já mencionámos, o protagonista do documentário está em liberdade e a vida de luxo em nada mudou... e as mentiras continuam.
Segundo a imprensa internacional, em dezembro de 2020, Leviev fez-se passar por um profissional de saúde para ser um dos primeiros a ser vacinado contra a Covid-19. Há "pequenas coisas" que não mudam...
Dois dias antes do documentário estar disponível, Simon fez uma publicação no seu Instagram onde afirmou que se estava a preparar para contar a sua versão da história. Porém, acabou por fechar a sua conta da mesma rede social. Mas esta não é a primeira vez que o protagonista desta história se diz inocente. "Tenho o direito de ter escolher o nome que quiser. Nunca me apresentei como filho de ninguém, as pessoas é que usam a usa imaginação... Talvez tenham havido corações partidos durante este processo. Nunca lhes tirei um centavo, essas mulheres divertiam-se na minha companhia, divertiam-se e puderam ver o mundo com o meu dinheiro", afirmou ao canal 12 de Israel.
Ao contrário do que é dito no final do documentário, a modelo isrealita, Kate Konlin, afirma que já não está numa relação com Simon. Em e-mails trocados com um meio de comunicação, a rapariga afirmou que ainda são amigos, que ele é um empresário na área do imobiliário e que as acusações contra ele eram falsas.
A 4 de fevereiro, o Tinder baniu Hayut da plataforma acrescentando que "conduziu investigações internas" e que este "não está mais ativo no Tinder sob nenhum dos seus pseudónimos conhecidos".
VÍTIMAS CRIAM COWDFUNDING PARA PAGAR DÍVIDAS
Depois desta história se ter tornado viral, Cecilie Fjellhøy, Pernilla Sjoholm e Ayleen Charlotte criaram um 'crowdfunding' na plataforma GoFundMe com o objetivo de atingir 712 mil euros. Só nos primeiros três dias, o fundo arrecadou mais de 45 mil euros, contando neste momento com mais de 85 mil euros.
"Provavelmente está aqui porque ouviu falar da nossa história e agradecemos-lhe por dedicar algum tempo a pesquisar e encontrar esta página. Os últimos dias foram um turbilhão, e nós as três ficámos completamente chocadas com a enxurrada de compaixão e apoio de todos. O amor puro é mais do que esperávamos, e agradecemos muito a todos vocês."
Aos poucos, estas três mulheres vão refazendo as suas vidas. Pernilla Sjöholm teve que deixar a sua vida e voltou a morar com a mãe. "Ainda é uma luta. Para mim, foi uma traição. O meu melhor amigo quis destruir-me", disse, em declarações a revista 'GQ'. Esta foi a única mulher que nunca teve uma relação amorosa com o acusado.
Ayleen Charlotte a mulher que denunciou o israelita, fugiu com as suas roupas de luxo e continua a vendê-las online, de forma a reaver parte do seu dinheiro. Recentemente publicou uma fotografia no Instagram com um óculos de sol e a descrição surpreendeu os seguidores. "Sim, estes óculos são dele", brincou.
Cecilie Fjellhøy criou uma fundação na Noruega que tem como foco ajudar outras vítimas de fraude, a Action:Reaction. "Ainda há muitas falhas. Precisamos de leis e legislações.".