
Os dias em Manchester não são difíceis, são terríveis para Ruben Amorim, cuja única marca que, até agora, conseguiu fixar em Inglaterra foram as quatro derrotas consecutivas no campeonato, que fazem deste o pior arranque de qualquer treinador na história do clube ao longo dos últimos 100 anos. Com o Manchester United na 14ª posição e um próximo jogo difícil - a dia 5 de janeiro contra o primeiro classificado Liverpool - não é difícil fazer contas de cabeça. O português bem vai dizendo que precisa de tempo, mas não há muita margem para errar e um mar de preocupações fazem deste o momento mais difícil da vida do treinador.
Até porque não é só a pressão e os maus resultados que o fazem tremer. A mudança dos filhos para Inglaterra é algo que está a preocupar e muito toda a família, uma vez que esta é a primeira vez que as duas crianças, em idade escolar, vão ser sujeitas a uma alteração de vida tão profunda, mudando de país, de escola e alterando todas as suas rotinas. De acordo com aquilo que tem sido noticiado pela imprensa britânica, a chegada da família completa a Inglaterra deverá acontecer muito em breve, com Amorim a preparar, no meio dos desafios enquanto treinador, esse momento.
Segundo o 'Daily Mail', o português já saiu do hotel em que se encontrava e onde passou os primeiros tempos em Manchester - à semelhança do que aconteceu com José Mourinho quando treinou o clube - e está agora a viver numa casa temporária no sul da cidade, enquanto procura a moradia perfeita para a família viver. De acordo com a mesma publicação, o técnico está à procura de casa na zona de Hale, precisamente onde Bruno Fernandes e também outras caras do clube britânico residem.
No entanto, a instabilidade que vive faz com que os planos que antes encarava como de futuro tenham agora um prazo de validade mais curto, sendo que a tensão é visível a olho nu, com Ruben Amorim a ter perdido o sorriso que o caracterizava e mostrar-se mais fechado, ao mesmo tempo que tenta esgrimir uma revolução no clube que lhe permita o milagre da recuperação.
Em Inglaterra, os críticos já falam em "suicídio futeboístico" com Danny Murphy a escrever, na sua coluna de opinião do 'Daily Mail' que o sistema de jogo de Amorim não funciona na Liga inglesa. "Foi suicídio futebolístico, e, a não ser que Amorim mude o sistema ou quem o pratica, as exibições e os resultados não vão mudar, o que é particularmente preocupante, visto que o Manchester United é 14.º. Sabemos que o 3x4x3 de Amorim funcionava extremamente bem, no Sporting, mas a Premier League é um sítio implacável", sendo que se fala que o português se prepara para fazer uma limpeza no balneário e mandar seis jogadores para a rua.
"Sei que é um momento difícil. Esta situação não é normal para este clube", admite Amorim, que não se escuda em desculpas, mas carrega, sozinho, o peso das derrotas às costas, no final de ano mais desafiante na sua vida.
O NATAL E A VIDA SOLITÁRIA EM MANCHESTER
Quando, em novembro, Ruben Amorim chegou a Manchester, a aura doruada que o rodeava fazia sonhar. Recebido com passadeira vermelha, o português era visto como o grande salvador do clube, que repetia chicotadas psicológicas na tentativa de encontrar um futuro que Cristiano Ronaldo admite só lá ir com uma reestruturação profunda.
Entusiasmado, com a frescura dos seus 39 anos, entregou-se ao trabalho para reverter a situação, ainda que, neste momento, a frustração já comece a pesar, até porque na fase mais difícil da sua vida está, de repente, sozinho e sem os seus grandes suportes.
Amorim, que enquanto jogador só viveu uma vez fora do país e ainda não tinha filhos, debate-se agora com a solidão quando mais precisava dos mimos dos filhos e, pela primeira vez em muito tempo, o Natal foi passado longe das crianças.
"O Natal vai ser com ninguém. Vou ficar a trabalhar e, para não mudar muito, já vão mudar tanta coisa, quero que passem o último Natal em Portugal e também com a família", disse em alusão à grande mudança de vida que os filhos vão fazer ao irem viver para Manchester.
Apesar de as saudades já pesarem, a verdade é que a mudança da família se afigura como uma verdadeira dor de cabeça, uma vez que há a grande preocupação de Amorim a estar a sujeitar os filhos a uma alteração profunda, que se revele inconsequente.