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THE MAG - 2024 o ano de todas as mudanças

Apagou-se o sorriso! O mês de inferno de Ruben Amorim, como se isola na sua 'bolha' e o medo pelos filhos

Há um mês, era o novo herói do Manchester, agora é olhado de soslaio, já tem dedos apontados e todos os dias sofre um pouco mais com a pressão dos resultados para ontem, que não aparecem. O sorriso fácil de Ruben Amorim apagou-se neste final de ano, em que ele começa a colocar tudo em perspetiva, inclusivamente a mudança da família que se prepara para mudar de armas e bagagens para o Reino Unido.
Rute Lourenço
Rute Lourenço
28 de dezembro de 2024 às 10:44
Ruben Amorim
Ruben Amorim

É difíci acreditar que apenas um mês e meio separa estas imagens. Na primeira, Ruben Amorim, 39 anos de idade, chega a Manchester de jato privado e é recebido como um rei no centro de treinos do clube. O sorriso não cessa, os gestos leves são analisados ao pormenor por especialistas em linguagem corporal: o português transborda confiança, é afável, está seguro do que vai fazer e o sorriso é a sua maior arma. Chamam-lhe o 'The Smile One'.

Rúben Amorim, Manchester
Rúben Amorim, Manchester Foto: Getty Images

A segunda imagem é de agora, depois das derrotas, dos maus resultados, das contestações, os olhos estão raiados de vermelho, o frio britânico a não ajudar, a barba mais desalinhada, e o rosto mostra-se tenso, o seu famoso sorriso está apagado.

Ruben Amorim
Ruben Amorim

Ruben Amorim chegou a Inlgaterra com o estatuto de um rei, uma espécie de Dom Sebastião que prometia tirar o Manchester do buraco negro em que se encontra. Ronaldo, conhecedor dos cantos da casa, avisou que não seria fácil, que o clube está doente e que o treinador nunca será um salvador da pátria, é preciso uma restruturação total. "É difícil. A Premier League é o campeonato mais difícil no mundo. Todas as equipas são boas, todas as equipas lutam, todas as equipas correm muito, todos os jogadores são fortes e o futebol de hoje em dia está diferente. Já não existem jogos fáceis hoje em dia. Eu já disse isto há um ano e meio e vou dizê-lo outra vez: o problema não é o treinador."

Por outro lado, a exigência também é muito maior. Ruben Amorim tinha de apresentar resultados para ontem, mas o seu plano a longo prazo pode não ser compatível com as expectativas dos dirigentes e dos adeptos. "Sei que é um momento difícil, que esta situação não pode ser normal neste clube. Estamos focados no presente, em melhorar para que isto não volte a acontecer no futuro. Sei o que estou a fazer, temos um projeto, mas também sei que temos de ganhar", disse Ruben Amorim. Mas será que vai ter esse tempo? E será que vai conseguir superar os desafios num país onde os milhões que recebe exigem resultados na hora, os adeptos cobram mais e os tablóides seguem, como falcões, todos os gestos do português?

Uma coisa é certa: o início periclitante de Amorim não abala a confiança que os portugueses têm nele. Num altura em que o ano se aproxima do fim, os deslizes não lhe tiram a aura de herói, de figura que eleva o nome nacional além-fronteiras, quase como um filho pródigo a quem se tudo correr mal se estende os braços de volta.

SACRIFÍCIOS PELA FAMÍLIA

Numa fase de desafios, Ruben entrega-se ao trabalho mais do que nunca. Sozinho em Manchester, vive num hotel e dedica-se 24/7 ao clube. Só pensa futebol, respira futebol. E se em Lisboa tinha a mulher e os filhos para aligeirar o ambiente naqueles dias em que nada dava certo, em Inglaterra essa não é uma realidade. O Natal foi passado sozinho, provavelmente o primeiro sem uma cara familiar por perto, num sacrifício que assumiu pela preparação para o jogo que tinha no dia 26, em que voltou a perder.

"O Natal vai ser com ninguém. Vou ficar a trabalhar e, para não mudar muito, já vão mudar tanta coisa, quero que passem o último Natal em Portugal e também com a família", disse em alusão à grande mudança de vida que os filhos vão fazer ao irem viver para Manchester, e que representará outra dor de cabeça para Amorim.

É que, apesar da instabilidade de uma carreira no futebol, Amorim sempre conseguiu manter a base para a família. Enquanto futebolista só por uma vez jogou no estrangeiro, no Qatar, mas ainda nem sequer tinha filhos, e desde que foi pai que a sua carreira de treinador o manteve sempre por Portugal, logo as crianças nunca foram obrigadas a grandes mudanças.

Agora, preparam-se para ir viver para Inglaterra, para se deparar com toda uma realidade, mas o cenário é tão instável que a família estará certamente tão preocupada com o futuro de Amorim como com o dos filhos, que podem mudar e ter de voltar à estaca zero se o pior acontecer.

Muitos problemas e uma carga pesada que fazem com que este últimoi mês represente certamente muitas vidas para Ruben Amorim, o herói nacional que tem pela frente o Cabo das Tormentas, mas também o super estatuto de Vasco da Gama, capaz das maiores conquistas em nome da pátria.

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