
Depois de nomes como Robbie Williams ou Justin Timberlake, o fenómeno das ‘boys bands’ produziu mais estrela, mas esta com pouco em comum em relação às restantes. Outrora a cara dos marcantes One Direction, Harry Styles é hoje um artista multifacetado, que combina o sucesso na música com uma entrada de rompante pelas portas de Hollywood.
Com ‘Não te Preocupes Querida’, filme realizado pela sua atual companheira, Olivia Wilde, que chegou esta semana à HBO Max, o natural de Redditch cimentou o seu lugar na indústria cinematográfica, depois de já o ter feito na música. Para além disso, o inglês de 28 anos conseguiu construir de forma cuidadosa uma imagem e uma aura que o distingue dos demais, através dos seus visuais que variam entre o excêntrico e o extravagante.
O INÍCIO
Tudo começou no ‘X Factor’, concurso de talentos britânico que tinha Simon Cowell como jurado, quando a produção agrupou cinco dos cantores cujas candidaturas a solo haviam sido inicialmente rejeitadas: Niall, Louis, Zayn, Liam e Harry não se conheciam, mas eram agora um novo conjunto, de nome One Direction.
O sucesso dos ‘1D’ não necessita de vastas descrições: nos seis anos em que esteve ativo, o conjunto lançou cinco álbuns, num total de 70 milhões de discos vendidos, com praticamente duas centenas de galardões no bolso. Quando a banda entrou num hiato, que dura até aos dias de hoje, Harry Styles tornou-se no mais bem-sucedido do quinteto.
O êxito a solo foi tão estrondoso que até o seu antigo companheiro Louis Tomlinson admitiu recentemente até ter sentido inveja: "Estaria a mentir se dissesse que não me incomodou inicialmente. Não sabia onde me colocar e o meu único ponto de referência eram os outros membros da banda. Mas não me surpreende, porque ele enquadra-se perfeitamente no molde de uma estrela moderna."
Com um pop mais refinado, o seu álbum homónimo de estreia foi moderadamente bem recebido pela crítica e foi um sucesso entre os fãs, com o single ‘Sign of the Times’ como figura de proa e um dos temas mais ouvidos do ano, colecionando prémios e entrando mesmo na lista das 500 melhores músicas de sempre, elaborada pela famosa publicação da especialidade ‘Rolling Stone’.
Seguiram-se ‘Watermelon Sugar’, do mesmo álbum, e ‘As It Was’, do sucessor ‘Harry’s House’, lançado em 2022, enquanto temas que encheram o espaço sonoro, com este último a assumir um pop de sintetizador mais reminiscente de décadas idas, tornando-se num dos singles mais populares do ano.
OS VISUAIS
Enquanto músico, no capítulo visual, Harry Styles tem feito a diferença associando-se ao movimento que pretende quebrar as normas de género na escolha de visuais. Os espetáculos do cantor ganharam uma dimensão análoga a desfiles de moda, com os fãs a interrogarem-se por vezes mais sobre qual o ‘look’ com que o músico vai surgir do que a própria ‘setlist’.
Efetivamente, considerado pela 'GQ' como "o músico mais bem vestido do mundo", Styles faz da variedade o seu forte, quer optando por vezes por estilos clássicos, desde fatos a t-shirts, quer por roupas mais "flashy" com padrões pouco ortodoxos e acessórios plenos de cor.
A paixão por marcas como a JW Anderson, a Marc Jacobs e particularmente a Gucci, que lhe providenciou alguns dos visuais mais fora da caixa que já envergou, é algo que Styles não esconde e que acaba por solidificar a sua posição enquanto ícone de moda – em 2020, tornou-se o primeiro homem a surgir a sós na capa da ‘Vogue’.
Ao mesmo tempo, sua extravagância já foi por muitos associada a rumores sobre a sua sexualidade, levando o músico a ter alguns dissabores com a imprensa e a ter sido acusado nas redes sociais de "queerbaiting", termo que descreve alguém que se tenta aproximar da comunidade ‘queer’ com o propósito de ganhar fãs.
Este cenário levou-o mesmo a esclarecer: "Se estou a espalhar pepitas de ambiguidade sexual para ser mais interessante? Não estou. Eu tomo decisões em termos dos colaboradores com quem quero trabalhar. Eu quero que as coisas pareçam de uma certa forma, não porque me façam parecer gay, heterossexual ou bissexual, mas porque eu acho que são fixes", disse ao ‘The Guardian’, em 2019.
Acerca da sua sexualidade, explicitou, na mesma entrevista: "Não é que eu tenha uma resposta e estou a protegê-la dos outros. Não é um caso de não te vou dizer porque não quero dizer, não é ‘isto é meu e não é teu’. É ‘quem é que quer saber?’, isso faz sentido?", questionou.
Posteriormente, em declarações à ‘Rolling Stone’, havia desarmado alguns dos argumentos frisando: "Às vezes as pessoas dizem, ‘só tens estado publicamente com mulheres’, e eu não acho que tenha estado publicamente com alguém. Se alguém tira uma fotografia de ti com outra pessoa, não significa que estejas a escolher ter uma relação pública ou algo assim", referiu.
O CINEMA
Foi com ‘Dunkirk’, de Christopher Nolan, que Harry Styles fez, em 2017, a sua estreia enquanto ator, numa atuação que mereceu vários elogios na imprensa. O realizador justificou a escolha do cantor para interpretar a personagem Alex, um soldado britânico na Evacuação de Dunquerque, por Styles ter uma cara "à antiga".
"O Harry nunca quis ser uma ‘estrela’ ali. Ele é um tipo humilde que não queria a atenção. Gostou da ideia de não levar carregar o filme às costas, de fazer parte de um grupo", referiu o icónico cineasta londrino, responsável por filmes como ‘Memento’ ou ‘O Cavaleiro das Trevas’. Já Styles admitiu que sempre foi um sonho estar no grande ecrã: "Eu comecei a ser ator quando era mais novo na escola. Sempre gostei, e sempre fui um grande fã de filmes", declarou à ‘Vanity Fair’.
Depois de ‘Dunkirk’ (excluindo um pequeno cameo em ‘Eternos’), Harry Styles teve de esperar até 2022 para voltar a ver o seu nome na lista de estreias, algo também explicado pelas interferências causadas pela pandemia nas produções cinematográficas. Ademais, fê-lo em dose dupla: em setembro que ‘Não te Preocupes Querida’ chegou às salas de cinema, enquanto ‘My Policeman’, de Michael Grandage, teve o mesmo destino em outubro. Curiosamente, ambos chegaram ao streaming nos últimos dias: o primeiro, como já referido, através da HBO Max, e o segundo, da Amazon Prime.
A POLÉMICA
Se ‘My Policeman’ estreou com pouca pompa e circunstância, os tempos que antecederam a chegada de ‘Não te Preocupes Querida’ foram claramente mais caóticos, com rumores de mal-estar nos bastidores entre a realizadora Olivia Wilde e a atriz e protagonista Florence Pugh a somarem-se a outros que alegavam desentendimentos entre Harry Styles e Chris Pine a mancharem de forma surpreendente a habitual ronda de apresentações.
Inicialmente, até fora Shia LaBeouf o eleito para interpretar Jack Chambers. Notícias davam conta que o ator de 36 anos tinha desistido do projeto devido a conflitos entre compromissos. Ora, relatos surgiriam de que foi Wilde quem o despediu por mau comportamento, algo que depois acabaria por confirmar, mas um vídeo vazado da própria dava a entender que foi, na verdade, um conflito entre o ator e a protagonista Florence Pugh que levou à sua dispensa.
Harry Styles acabou por ser o seu substituto, com Olivia Wilde a apontar o seu sentido de moda como fator decisivo, já que se coadunava com o tom "opulento" do filme. Curiosamente, o par acabaria por se envolver romanticamente durante as gravações do filme, começando uma relação amorosa que se prolonga até aos dias de hoje.
O drama à volta de realizadora e elenco do filme, incluindo um vídeo que se tornou viral nas redes sociais, no qual Harry Styles aparentava ter cuspido em Chris Pine num evento de apresentação do filme. Todos os intervenientes negaram que tal tenha sucedido, mas as achas ficaram na fogueira e o falatório aumentou exponencialmente.
Já o cinematógrafo do filme, Matthew Libatique, em entrevista ao podcast ‘Behind the Screen’, negou qualquer "acrimónia" durante as rodagens, dizendo que "as histórias são completamente falsas", contudo aceitando que não sabe o que se passou na pós-produção.
O FILME
No que toca o filme em si, a história começa com o casal formado por Jack e Alice Chambers a viver ao estilo da década de 1950, no pequeno bairro de Vitória, na Califórnia, onde os habitantes têm um estilo de vida padronizado. Os homens saem todos para trabalhar de manhã na sede da mesma empresa, longe das suas moradias, enquanto as mulheres são donas de casa, que desconhecem a natureza exata do lavoro dos companheiros, mas vivem em harmonia entre si.
O bem-estar começa a ficar corrompido quando Alice, a mulher de Jack, vê uma das suas vizinhas, Margaret, a revoltar-se com a sua vida, começando assim a suspeitar daquilo que o rodeia e de Frank, homem que controla as operações da cidade e que é visto, entre os cidadãos, como o génio que está a gizar um caminho em direção ao progresso.
Para além do interesse natural em relação à atuação de Styles, Florence Pugh foi o alvo de uma avalanche de elogios pela sua atuação na pele de Alice. A performance da jovem inglesa de 26 anos, que já havia figurado em projetos como 'Midsommar' ou 'Viúva Negra', foi considerada por crítica e espetadores como sendo de altíssimo nível e pode mesmo colocá-la na calha para prémios durante esta temporada.