Crime e castigo: conheça as razões que levaram a socialite Maria das Dores a encomendar a morte do marido
Maria das Dores deixou a cadeia de Tires ao fim de 16 anos, depois de ter sido condenada a 23 anos de prisão por ter mandado matar o marido, Paulo Pereira da Cruz. Recordamos o que aconteceu.
Maria das Dores a socialite que encomendou a morte do marido, o empresário Paulo Pereira da Cruz – pai de Duarte, o seu filho mais novo – que se queria divorciar dela, à martelada, está em liberdade depois de ter cumprido 16 anos da pena de 23 anos de prisão a que foi condenada em 2008, numa história macabra que abalou o País.
Em 2019, Cristina Ferreira foi à prisão de Tires entrevistar Maria das Dores. A socialite confessou arrependimento e explicou as razões que a levaram a cometer o crime em declarações inéditas. "Acho que tudo o que me aconteça de mal, eu mereço. E mereci", começou por dizer Maria das Dores, que explicou que viveu em negação nos primeiros anos.
"Três, quatro anos depois, comecei a aperceber-me de que, na realidade, tinha causado uma catástrofe. Tinha vitimizado muita gente. E tinha sido a causadora daquilo tudo. E aí comecei a sofrer, a aperceber-me do porquê. (...) Ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. E isso, nunca me vou desculpar", disse.
Maria das Dores contou que foram os ciúmes, os maus tratos verbais e a consequente baixa autoestima que a levaram a cometer o crime, mas que amou profundamente o marido no início da relação.
"Quando o conheci foi uma paixão avassaladora (...) Idolatrava-o (…) Nós davamo-nos muito bem. Eu era casada. Contrariamente ao que se diz, eu tinha uma vida. Trabalhava num banco (…) Não cometi este crime por dinheiro. Cometi este crime por ciúme e por me sentir com a autoestima completamente em baixo. Porque eu era, simplesmente, maltratada", recorda.
A socialite perdera um braço alguns anos antes, num acidente de viação onde Paulo Cruz ia a conduzir. Algo que contribuiu para o afastamento do casal. "Comecei a sentir que estava gorda (…) Fui-me apercebendo do afastamento... rejeição, em termos íntimos, porque lhe fazia confusão o braço", contou.
Os insultos do marido
Maria das Dores tentou explicar o que a levou à sua decisão, embora garanta que ainda hoje não consiga perceber realmente o que aconteceu. "Foi depois de muita, muita coisa. Muitos episódios de maus-tratos verbais. De me chamar 'Maria gorda', de dizer: 'Olha aquela tão gira'. Depois de tantas coisas feias. E de eu cada vez me sentir mais pequenina (...) Era tratada como 'não tens braço. Pesas 100 quilos'", contou na altura a Cristina Ferreira.
Maria das Dores continuou na espiral descendente até tomar a derradeira decisão. "Aquilo foi um momento que eu tive. Comecei a pensar em tudo. Fiquei sem um braço. Ele não esteve no velório da minha mãe. Pensei em tudo. 'Vais-me pedir o divórcio. Vais ficar com o Duarte. Eu, se calhar, vou ficar sem nada. Eu não posso ficar sem o Duarte'. Eu sabia que ele me ia pedir o divórcio. Eu não queria. Não sei explicar. Estou tão arrependida (...) Não sei explicar o que se passou comigo".
A encomenda do assassinato
O empresário foi morto com duas pancadas na cabeça por homens contratados por Maria das Dores. "A Maria mandou matar o seu marido", disse-lhe Cristina Ferreira. "Sim (…) Não pensei", admitiu Maria das Dores, acrescentando: "Disse só [ao motorista] que queria que lhe batessem. E ele perguntou: 'mas bater como?' e eu disse: 'quero que o Paulo morra. Quero que o meu marido morra'. Disse isso."
Maria das Dores mostrou-se arrependida ao longo de toda a entrevista, garantindo no entanto que não é "uma psicopata". "Ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. É o que sei. E eu fi-lo. Portanto, tudo de mal que me aconteça é pouco. Tenho de pedir perdão às pessoas que vitimizei. Agora, não sou uma psicopata nem ando para aí a pensar em matar pessoas", afirmou.
Agora, 16 anos depois de ter sido condenada, Maria das Dores está de novo em liberdade.