"A minha vida teve muitos altos e baixos", assumiu Paula Coelho a Júlia Pinheiro, em março de 2021, durante uma longa conversa em que a antiga apresentadora do 'Nutícias' abriu o jogo sobre os anos difíceis de rebeldia e revolta que marcaram as suas infâncias e adolescência.
Durante a conversa com a veterna apresentadora da SIC, Paula Coelho assumiu que cresceu com muita pobreza e que a morte dos pais adotivos a tornaram na pessoa rebelde. Uma rebeldia que manteve até ao fim da vida. Paula Coelho faleceu este sábado, no hospital, onde lhe foi diagnosticado um cancro após ter sofrido um AVC.
A infância foi feliz, apesar de ter sido vivida num "bairro de barracas" e marcada pela pobreza, ao lado da irmã gémea, Sandra. “Não me incomoda minimamente dizer que vivi numa barraca, que não tínhamos casa de banho, que pedíamos esmola… porque isso fez de mim a pessoa que sou hoje”, confessou a Júlia Pinheiro.
Aos 12 anos de idade, Paula Coelho descobriu que tinha sido adotada com apenas 8 dias de vida. A morte dos pais adotivos foi o golpe mais duro, o gatilho para a rebeldia. “Só soubemos que éramos adotadas quando a minha mãe estava às portas da morte”, revelou a Júlia Pinheiro. “Um dia, minha mãe [adotiva] chegou ao pé dela [a mãe biológica] com duas meninas ao colo e disse ‘Que meninas tão lindas, não me quer dar uma’ e a minha mãe biológica, que não sei o nome, disse: ‘Até lhe dou as duas’. Não sabemos como é que tudo se processou. Ela na altura ficou connosco, criou-nos como se tivéssemos nascido em casa”, recordou Paula Coelho.
Com a morte dos pais adotivos, Paula e Sandra ficaram órfãs e desamparadas. Valeu-lhes, na altura, uma irmã mais velha: “Ela fica connosco, mas também não consegue ficar durante muito tempo porque não tinha como. Ela já tinha um filho, nós éramos mais duas, depois ela entrou num processo de separação.” A forma que as irmãs encontraram para lidar com todos estes dramas foi rebelarem-se. “Nós não fomos inundadas por tristeza, nós fomos inundadas por rebeldia. Tudo fruto de revolta”, referiu. “Nós éramos muito insurretas. Eramos gémeas. Não queríamos cumprir regras, então a minha irmã [mais velha] pôs-nos num colégio de freiras.”
O colégio, em Alvalade, não criou boas memórias a Paula: “Não tenho assim boas memórias. Tenho muito poucas. Não nos encaixamos.” Com apenas 15 anos, Paula e Sandra deixam o colégio e vão viver sozinhas. “Não havia dinheiro. Era um dia de cada vez. Lavar a roupa à noite para vestir de manhã, porque não tínhamos roupa. Estudávamos das oito às seis da tarde, ainda era naquela altura em que a escola era o dia inteiro. Depois, às sete da tarde íamos trabalhar para a hamburgueria, saíamos à meia-noite/uma da manhã. Só jantávamos na hamburgueria e às vezes ainda tínhamos que lavar a roupa. Às vezes [a roupa] ia molhada. Levávamos as calças de pijama por baixo das calças de ganga porque a roupa ainda estava meio húmida”, recordou Paula Coelho na conversa com Júlia Pinheiro. “Tínhamos que trabalhar, se quiséssemos comer”, assegurou.
Ainda assim, Paula Coelho conseguiu concluir o 12.º ano de escolaridade e acabou por licenciar-se anos mais tarde. Uma vida marcada por dificuldades mas também por conquistas difíceis e, por isso, mais gratificantes.