Júlia Pinheiro reagiu às propostas conservadoras que vieram a público nos últimos dias, de grupos que querem discutir direitos adquiridos pelas mulheres nos últimos 50 anos.
Sem mencionar nomes, a apresentadora das tardes da SIC pareceu fazer um ataque ao livro 'Identidade e Família', apresentado por Pedro Passos Coelho e assinado por 20 figuras da direita portuguesa, e à proposta do Movimento Acção Ética, sobre a criação de um "estatuto" e subsídio para a "mulher dona de casa", que, embora não exclua os homens, defende que as mulheres são "mais propensas" a estar em casa, tal como explicou o professor Paulo Otero.
Júlia Pinheiro falava na entrega dos prémios As Mulheres Mais Influentes de Portugal, da Executiva. "Estamos a comemorar os 50 anos do 25 de abril e muitos dos direitos e das garantias que nós, mulheres, temos hoje em dia devem-se ao trabalho que foi feito desde que temos democracia. Por isso, estou aqui como cidadã deste tempo, uma sexagenária que teve acesso à escola, à saúde, às oportunidades, a construir uma carreira profissional. Tudo, todas as escolhas, a liberdade sobre o meu corpo, por exemplo, tudo isso foram garantias que vieram com a democracia", afirmou no discurso, citada pela 'Nova Gente'.
"Em 2024, muitas destas liberdades e garantias podem ter um retrocesso", argumentou. "Estou aqui também para dizer que o futuro tem de trazer mais paridade, tem de trazer mais igualdade salarial, carreiras mais estruturadas. Influenciar é ter responsabilidade. Influenciar é cidadania", defendeu ainda.
Aos jornalistas, a apresentadora da SIC disse também que "temos de agradecer às gerações que nos antecederam terem conquistado direitos que as mulheres não tinham no passado". "Direitos sobre os quais, de vez em quando, ouço dizer que há quem faça avaliações diferentes. Nós temos de ter muita voz. Estamos num momento da nossa História em que temos de estar presentes, de sermos cidadãos de pleno direito".
Júlia não foi a única apresentadora a defender a liberdade das mulheres. Também Cristina Ferreira subiu ao palco para receber o prémio e destacar a importância do direito à escolha. "Eu tive uma sorte, que foi a sorte de ser filha de uma dona de casa. Uma dona de casa livre. Ela fez a gestão da sua própria vida, embora trabalhando sempre em casa. Desistiu de uma carreira profissional para acompanhar o meu pai, mas nunca dependeu dele para nada. Aliás, não é a única. Eu sou fruto de uma série de mulheres que eram donas de casa, mas cujos maridos nunca fizeram farinha com elas", afirmou.
"Elas foram muitas vezes líderes das suas vidas e da vida da família. Foi com esses exemplos que eu cresci e, portanto, percebi que era isso que eu também queria ser".
Aos jornalistas, Cristina apontou que hoje em dia tem a tarefa de "influenciar um rapaz de 15 anos que não é filho de uma dona de casa. É filho de uma gestora, administradora, diretora, que por acaso também faz coisas em casa".
"Acho que o meu filho olha para mim da mesma forma que eu olhei para a minha mãe durante todos este anos: como uma mulher que tem a liberdade de ser, que é gestora da sua própria vida e que não há também homem nenhum que faça farinha com ela", declarou.
"A única coisa que eu gostaria de passar é esta liberdade de sermos o que quisermos nas escolhas que quisermos fazer, sem que os outros as possam questionar", sublinhou.