
Ruy de Carvalho, um dos maiores nomes da representação das últimas décadas em Portugal, continua sem entender porque foi afastado da TVI. O ator queixa-se em entrevista à TV Guia que foi mandado embora sem qualquer justificação. Garante ainda que estão a fazer o mesmo com outros atores mais velhos.
Aos 95 anos, Ruy de Carvalho recorda este momento complicado na vida... que ainda lhe deixa uma grande mágoa.
"Falou em maldade, vaidade, pessoas avarentas. Uma das coisas que mais o magoou foi terem-no afastado das novelas em 2014 quando estava na TVI?
Mandaram-me embora! Estava lá há 14 anos e não me disseram nada. Quando se tem uma pessoa há 14 anos a trabalhar, o mínimo que se diz é: "Olha, a gente agora não precisa de ti, mas quando precisarmos, chamamos-te outra vez. Um grande abraço e obrigado."
Gostava que o tivessem chamado e lhe tivessem dito ao menos isso?
É uma questão de boa educação. Não estou zangado com a TVI. Estou é cansado de não respeitarem as pessoas que trabalham para eles. Aliás, estão a fazer isso a muitas atrizes e atores. Estão a mandá-los embora por serem velhos!
Já no Teatro Nacional Dona Maria II se tinham descartado de si e de alguns colegas seus da companhia. Por questões políticas?
Do Dona Maria sai há 30 anos porque achavam que eu estava velho. Fiquei a descontar, a ver se ainda ganhava mais qualquer coisa na reforma, mas não somaram. Não ganhei nada com isso.
Mas não foi também uma questão política?
Não, para mim a política não conta nada. O meu partido é Portugal. É para todos os portugueses que eu trabalho.
Para quem se dedica tanto, o afastamento da TVI [quando o ator Carlos Benito era diretor da Plural] foi a coisa que mais o magoou e deixou apreensivo?
É a maneira como as pessoas lidam. Vivem em liberdade e não têm respeito pelo seu semelhante. Liberdade e respeito são dois dos pilares da democracia. São coisas que não se deviam perder quando se conquista a democracia num País. Desde que se perca o respeito, perde-se a lealdade.
Lealdade é um dos seus valores favoritos?
É. E é uma coisa bonita. A lealdade de alguém que te diz: "Gosto muito de ti, mas não vais bem como ator." Olhe, a crítica e escritora Alice Vieira, que faz o favor de ser minha amiga, teve a coragem de me dizer isso. E hoje é tão leal que é muito minha amiga. E eu dela. Não perdeu nada. Só ganhou em ser leal.
Há colegas seus tão bons e tão importantes que não aceitam uma crítica?
Esses são os de montra, que são desleais. Não são os de bengala. Felizmente há cada vez menos gente de montra. A gente nova que vem para o teatro e para a televisão sabe que é preciso fazer sacrifícios. E às vezes ser ridículo. Já fiz muitos papéis ridículos e diverti-me muito, em especial em televisão, mas nunca me disseram que eu estava mal.
Sei que o Ruy é um homem de solidões, não de solidão. Como são essas solidões?
São as que eu quero e não as que me impõem. A Plural, por exemplo, atirou-me para a solidão. Descartarem-se de mim sem me dizer. Foi, profissionalmente, a pior solidão. Como homem, não tenho respeito nenhum por pessoas assim. São daquelas que têm a mania que sabem tudo e não sabem nada.
Já se cruzou com elas?
Elas evitam falar comigo. Quem faz mal é sempre covardão.
Quem são elas?
Não sei o nome delas nem quero saber. São gente que não tem nada a ver comigo. Só quero que tenham muito juízo". Leia o resto da entrevista na TV Guia, que está esta quinta-feira, dia 14 de abril, nas bancas.