
Ruy de Carvalho é o decano dos palcos. O ator de 95 anos continua a pisar as tábuas e a trabalhar no pequeno ecrã. Garante que a sua memória continua a trabalhar em pleno, mas assume, em entrevista à TV Guia, que há quem o queira ver falhar.
Abalado com a morte da amiga e colega Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho confessa que não vale pensar na morte porque ela é certa.
"Já pensou como gostava que fosse a festa dos seus 100 anos?
Mas já pensou que gostava de chegar aos 100 anos?
Gostar gostava, mas nunca sabemos.Já sei é que não quer fazer 100 anos e estar cheché.
Não, cheché não quero. De bengala já ando. E ando porque tive uma hérnia discal. Fiquei um bocado coxo por causa disso.
Mas, neste momento, sente-se bem?
Estou ótimo! Olhe, vou representar daqui a um bocado.
Quando fez 90 anos, numa entrevista, disse que tinha essa idade no Cartão do Cidadão, mas cabeça de 18. Como é que é agora?
Continuo a ter. Tenho estes 18 anos, porque me dão uma possibilidade enorme. Os 18 anos são a entrada na idade adulta e assim sou um homem livre e não me proíbem a entrada em parte alguma. Até aos 18 anos somos pessoas presas: somos infantis, adolescentes.
Apesar dos 95 anos, a sua cabeça é juvenil e jovial.
Sim, decoro bem as coisas. Faço teatro. Entro na telenovela Por Ti, da SIC, em que faço o papel de Hilário, um homem de 80 anos. Como também tenho 80 n’A Ratoeira, a peça de teatro que estou a fazer.
A vantagem de ter 95 anos e estar bem é que consegue fazer papéis de homem de 80 sem problemas.
Eu consigo, mas há uns colegas com 80 que já não conseguem.
E sempre com uma memória incrível.
Acho que a minha memória é incrível, mas já me dá mais trabalho. Toda a vida estudei aquilo que faço. Não levo para lá só words, só palavras. Gosto, acima de tudo, de levar ideias que têm palavras, que estamos a construir à medida que falamos.
Nunca teve medo de falhar?
Penso nisso. Penso que pode acontecer… O que vou dizer é perverso, mas acho que anda muita gente à espera de ver se me engano. É perverso, mas é verdade. Eu sei que é.
Um ator, além das falas, também não pode falhar na expressão facial, nos tempos em palco…
É um trabalho complexo e que tem de incorporar a maneira de ser da personagem: ou cínico, ou bom, ou hipócrita. A hipocrisia e o cinismo andam muito perto. A maldade e o bem andam distanciados. Tudo tem uma expressão. Os olhos podem dar isso tudo. O físico também: pode ser coxo, pode ser homossexual. Pode ser maricas e pode ser homossexual sem ser maricas. Leia a entrevista completa na TV Guia, já nas bancas.