
Sofia Aparício foi uma dos quatro portugueses que fizeram parte da flotinha humanitária que rumou a Gaza com o objetivo de romper o cerco àquele território palestiniano e levar alguma ajuda aos sobreviventes que continuam a tentar sobreviver à guerra entre as tropas israelitas e o Hamas – neste momento existe um acordo de cessar-fogo entre as forças da IDF e o movimento islâmico palestiniano, mediado pelos EUA, com ajuda do Catar, do Egito e da Turquia.
A flotinha acabou intercetada pelo exército israelita, com os mais de 400 ativistas que iam a bordo a serem detidos. Os quatro portugueses – Sofia Aparício, Mariana Mortágua, Miguel Duarte e Diogo Chaves – foram libertados a 5 de outubro.
A atriz e antiga modelo, de 55 anos de idade, esteve na manhã desta terça-feira, 14 de outubro, à conversa com Cristina Ferreira e Cláudio Ramos no 'Dois às 10', na TVI, e começou por lamentar não ter conseguido cumprir o objetivo de entregar a ajuda planeada aos palestinianos. “Tive esperança até ao dia anterior à nossa interceção”, assumiu Sofia Aparício.
Contrariando muitas críticas de que foi alvo, a atriz esclarece que participou na flotilha porque não conseguia "ficar sentada no sofá a ver". "É um genocídio, nós vemos crianças a ser mortas, estropiadas, a ser amputadas a sangue frio no nosso feed e na televisão e se me é dada oportunidade de fazer uma coisinha mais, eu não consigo dizer que não”, justificou a Cristina Ferreira.
Na memória dos acontecimentos, ficam momentos marcantes em que Sofia Aparício teve que lidar com o medo e a impotência. Os mais angustiantes foram seguramente aqueles que foram vividos no cárcere israelita. “Cheguei ao porto, fui atirada contra o chão, fiquei imenso tempo naquela posição (…), um rapaz ao meu lado foi espancado só porque sim e eu não pude fazer nada. (…) É uma frustração e um sentimento de impotência muito grande e de raiva”, recordou.
“Eu fui sequestrada e o meu barco foi intercetado em águas internacionais, são dois crimes ao abrigo da lei internacional, eu não cometi crime nenhum. Mas lá fui, passar pelo processo de emigração, sempre aos empurrões, revistaram-me da cabeça aos pontapés, aos gritos connosco (…). Arrancaram-me um casaco, meteram-me numa carrinha de transporte de presos, meteram-me numa caixinha pequenina com uma companheira com o ar condicionado no máximo de frio, foram 4 horas de tortura. Chegámos à cadeia e meteram-nos numa jaula”, descreveu, sublinhado que foi insultada por Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel.
Esta foi uma situação de grande tensão e angústia, em que Sofia Aparício chegou a temer pela própria vida. "Temi pela minha vida sim, mas é essa coisa de… Eu tive uma mira apontada à cabeça, eu temi pela minha vida mas é sempre no momento a seguir à coisa estar a acontecer porque nós temos instintos de sobrevivência e o meu funciona assim, eu não sabia que ia funcionar assim numa situação tão extrema”, assumiu Sofia Aparício.