
A rejeição é uma lâmina partida no interior do que sentes. Está lá. Não mata. Mas está.
O amor, quando é mesmo amor e não acontece, não mata mas continua a estar.
Disseste que me querias mas que não podias querer-me. Que havia a vida a separar-nos. Um catálogo de impossibilidades.
Quando amas, todas as impossibilidades são imaginárias. Ou então é possível que não ames.
Disse-te que queria lutar pelo tempo que temos. Agarrar o que não pode ser pelos colarinhos. Disse-te ainda que eras a pessoa que mais me fez ser pessoa. A pessoa que mais me fez perceber o que sou e o que tenho de ser. A melhor pessoa de mim.
Amar é sermos a melhor pessoa que temos em nós: a melhor pessoa que somos nós.
Não ficarei acabado se me rejeitares, apenas passarei a perceber que a luz fica mais pequena a cada dia sem ti. Continuarei a ser a pessoa de sempre, à espera de que haja algo que me devolva o que tu me mostraste que existia.
O amor existe para nos mostrar que há coisas que só com amor existem.
Até que por fim apareceste e disseste que não dava, que não conseguias deixar de ser a minha mulher porque era eu que tinha de ser o teu homem. Acrescentaste que pensaste que para um amor resultar era necessário que duas personalidades soubessem encaixar uma na outra, que imbecilidade.
A razão está tão sobrevalorizada, meu Deus. Quase que aposto que foi inventada por quem não ama nem é amado para não custar tanto a tristeza e o vazio que é a sua vida.
Para um amor resultar basta que aquele que é amado ame também, tão simples. O resto são questões científicas, matemáticas até: tu cedes um bocado aqui, eu cedo outro bocado ali, e às tantas a equação impossível está resolvida.
O amor é uma equação que mesmo toda errada dá certo.
Agora continuamos por vezes a não saber lidar com o que o outro é, continuamos a ser amiúde incapazes de entender algumas das palavras que dizemos, mas continuamos, acima de tudo, a ser duas pessoas que se amam.
É o que basta para um amor resultar.
Vontade: s.f. Aquilo que chega e sobra para um amor sobreviver.