
Não sabes. Não queres saber. Faço mil e uma coisas e nada dizes. Penso mil e uma coisas e nada procuras perceber.
Amar é querer saber, ficas agora a saber.
A curiosidade não é algo que faz bem a uma relação; a curiosidade é aquilo que mantém um casamento inteiro.
Sem curiosidade, sem constante procura, sem constante busca pelo que o outro é, quer, sente, deseja ou deixa de desejar, sem isso não há uma união, nem sequer uma parceria, muito menos um amor; há um espaço que aos poucos vai ficando por preencher, um espaço que vai aumentando, um vazio cada vez maior, e cada vez mais frágil.
O que apaixona é sempre a curiosidade, sempre, sempre.
O que apaixona é o novo: é querer saber mais. E se não queres saber mais da mesma pessoa vais ter de ir buscar a novidade a outras pessoas: se não podes encontrar a novidade na pessoa de sempre vais procurar a novidade que é sempre uma pessoa nova.
Por favor tenta saber de mim.
Por favor volta a tentar saber de mim. Pergunta-me o que fiz, o que quero fazer. Pergunta-me o que sonho fazer, o que nunca pensei fazer mas acabei por fazer. Pergunta-me tudo, tudo, porque quero que tudo sirva para nos salvar da ausência.
Um amor sobrevive a muitas ausências; mas nenhum amor resiste à ausência de quem nele habita.
Quando te conheci eras isso: foi também isso o que me apaixonou em ti. Essa urgência em me saberes. Era a tua mulher e era a tua musa e era a tua fonte de saber, de informação. Consumias-me como se precisasses de mim para saberes de ti.
Amar é precisar de saber do outro para sabermos de nós.
Amar é o que nos localiza: estamos localizados no lugar que amamos. Sem ti, sem que queiras saber onde estou, fico sem entender o que me segura a mim. E inexoravelmente a ti.
Onde estás quando quero dizer-te que estou triste? Onde estás quando quero dizer-te que estou cansada, ou amuada, ou desalentada, ou motivada? Onde estás? Onde estás? Onde estás?
Amar é querer saber onde está quem amamos. E ser lá o exacto sítio onde queremos estar.
Já não estou certa disso, sabes?
Não sabes, claro. Não queres saber.
Pode ser que em breve não consigas mesmo saber.
*
Estou a perder-te,
o que dói mais do que saber que estamos a perder quem nos faz não nos perdermos?,
estou a perder-te, sei que estou, e não consigo mudar, não consigo acordar,
o mais perigoso é o tédio, o não saber como sair dali, de um buraco que sabemos que fomos nós que cavámos, e que quando mais nos mexemos mais fundo vai ficando,
o mais perigoso é o cabrão do tédio,
a cabra da preguiça,
deixei-me parar aqui, diante da incomparável felicidade de te ter, e adormeci ali, a contemplar sem proteger,
um amor não se contempla,
protege-se,
com tudo o que temos, com tudo o que somos,
porque é aquilo tudo o que somos,
és tudo o que sou, é isso que te quero dizer,
e nunca digo,
mantenho-me abúlico, sitiado numa malha de incapacidade,
sinto-me pouco para ti e quanto mais me sinto pouco para ti mais pouco para ti vou ficando, entendes-me?,
apouco-me de cada vez que te vejo mais gigante,
és tão grande,
amo-te tanto, minha rainha,
e sei que não querias que me ficasse por aqui, simples servo,
queres fazer de mim o teu rei quando nem sobre o que sou consigo reinar,
és a que nunca vou merecer,
é essa a consciência que me impede de te merecer mesmo,
quando me olhas e me pedes sem uma palavra para te procurar sou eu que não me encontro,
ficarei sem ti porque não te quero perder,
que estupidez,
é o meu medo de te perder que me fará perder-te,
não sei o que faço para reagir,
e sei que me bastava mesmo isso,
reagir,
se um dia voltar a casa e não estiveres sei que te perdi por ausência,
pior do que a ausência é a falta de presença, penso agora, e percebo que são coisas bem diferentes,
nunca me ausentei mas também raramente estive presente,
estava a pensar na melhor maneira de te agradar,
e isso fatalmente te desagradava,
quando um dia te lembrares de mim recorda-me como o cobarde que nada fez porque temia as consequências de tudo o que fizesse,
mas basta-me que me recordes seja como for para cada segundo nosso ter valido a pena,
prometes, prometes?