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Luísa Jeremias
Luísa Jeremias No meu Sofá

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No dia em que acabar o dia da mulher

Tenho a certeza que o dia da mulher foi uma invenção de um machista do pior, daqueles que continua a dividir as mulheres em duas categorias: as parideiras e as que só servem para "o que é".
08 de março de 2017 às 10:44

No dia em que acabar o dia da mulher significa que a guerra está ganha. Que já não é preciso haver um dia amoroso para lembrar que as mulheres, coitadas, até merecem ter o seu dia.

Querem que explique melhor? Eu explico. Sou contra cotas (nas universidades, no parlamento, nas empresas) pura e simplesmente porque elas nos (a nós, mulheres) diminuem. Elas fazem com que continuemos a ser olhadas como alguém ou algo (não percebo bem o conceito) que, por ser de uma "espécie", tem de ter o mínimo de oportunidades. Como se essas oportunidades não viessem da competência, da capacidade, da luta por chegar a um lugar, mas sim de um direito adquirido. Cotas são um conceito classificativo e reaccionário. São o mesmo que dizer: coitado, é preto, tem de ter direito a estar a aqui, ou, coitada, é mulher, temos de abrir vagas para ela… A existência de cotas para qualquer coisa é a primeira prova de que pouco está resolvido no universo masculino/feminino no campo social, laboral e, sobretudo, na cabeça de quem (ainda) "manda" no mundo.

Quando no dia da mulher me oferecem uma flor (ou outro presente qualquer estúpido só porque é dia da mulher) penso dez vezes antes de reagir "a quente", ser malcriada e deita-lo no lixo. Porquê? Porque presentes têm de ser dados todos os dias, por feitos realizados, porque resistimos, porque lutamos, porque somos boas e maravilhosas e ainda por cima inteligentes! Não é porque até ganhámos direito a ter um dia. E não, dia da mulher não é como dia da criança ou Natal. É mais uma espécie de dia dos namorados, essa invenção criada para gastar dinheiro e pôr casalinhos a inventar programas alegadamente românticos para mostrar que, pelo menos naquele dia, está tudo bem. Se assim o fazem… é porque não está. É porque precisam de uma desculpa para namorar. Os apaixonados de verdade, namoram todos os dias e quando bem lhes apetece. Pois assim é com as mulheres.

Tenho a certeza que o dia da mulher foi uma invenção de um machista do pior, daqueles que continua a dividir as mulheres em duas categorias: as parideiras e as que só servem para "o que é". Senão não o teria inventado. Porque, caríssimos (estou a usar só o masculino porque ele engloba os dois géneros, não precisamos de fazer como os políticos que dizem: portuguesas e portugueses, como se isso fosse sinónimo de mais respeito pelo sexo feminino), caríssimos, dizia eu, infelizmente essas duas "categorias" continuam a ser bem reais em muitas cabeças masculinas e (infelizmente) até femininas. E essa é, por enquanto, a nossa grande derrota. Enquanto aceitarmos ser olhadas como "elas" estamos tramadas. Nunca seremos iguais.

Iguais… Iguais, note-se, não é ser homens! Calma! Ninguém aqui quer ser mais do mesmo. Ser mulher, em toda a singularidade e feminidade do género, é maravilhoso… como ser homem, com todas as características que fazem dele o que é, é uma delícia. Cada um, cada qual. O que falamos aqui é de oportunidades, de respeito, de dia a dia, de vida, de sociedade. O que falamos aqui é não ter "rótulo". O que falamos aqui é de não haver distinção. Haver democracia.

Por isso, caríssimos, no que me toca, continuarei a fazer de todos os dias o dia da mulher e, já agora, daqueles que puder, o dia do homem! Ou melhor, e falando mais a sério, continuarei a lutar e dar o meu melhor para que não haja dias. Haja realidades. Um mundo melhor, ser rótulos, barreiras, espartilhos, preconceitos. Um mundo mais livre e feliz, no qual se recebem rosas… só porque sim, e não para parecer bem ou é dia de alguma coisa…

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