
Discretamente, sem alaridos, a RTP vai fazendo o seu trabalho – aquilo que é exigido a um serviço público. Investe em ficção nacional de qualidade, recorrendo e aumentando parcerias com operadoras de streaming, o próprio Estado (através de subsídios do ICA), produtoras privadas e canais internacionais. É certo que nem todas as produções que daqui resultam são boas. Longe disso: as diferenças entre produtos chegam a ser gigantes, oscilando entre o muito bom e o que envergonha, mas a verdade é que há investimento e vontade e trabalho.
Investe em música. Todo o tipo de música: tem 'The Voice Kids', com um júri que não vemos nos canais privados e divulgação pelas vozes dos miúdos de temas de diferentes géneros e artistas; tem música popular nos fins de semana (como as "concorrentes") e teve na passada semana NOS Alive com uma emissão que devia envergonhar as privadas que pretendem ser inovadoras. Não, não estou a falar da coragem do horário para transmitir concertos em canal aberto – esse é um luxo ao qual só um serviço público se pode dar, e ainda bem que o faz quando a ocasião o merece. Mas a operação de cobertura do evento, os meios e o "estilo" de profissionais chamados a fazer as reportagens mostraram capacidade de escolher as pessoas certas para os lugares certos. Aplausos. E, ainda sobre música, ainda há fado (já aqui falámos na fantástica aposta 'Em Casa d’Amália'), clássica e dança (na RTP2).
Investe em pessoas. Vejamos Fernando Mendes, Catarina Furtado, José Carlos Malato, Jorge Gabriel, Filomena Cautela. Não há outro canal onde façam sentido. Se mudassem, perderiam não só alma como liberdade de trabalho para fazerem o que melhor sabem: entreter com classe e/ou personalidade.
Dir-me-ão: "Ah, mas o serviço público tem de ter audiências e faltam audiências, e somos nós que pagamos e blá-blá-blá." Respondo: errado. O serviço público, se existe, é para formar e mostrar princípios de cidadania. Nem que sejam em forma de grande entretenimento. É neste equilíbrio entre gerir com sabedoria financeira (o dinheiro também – mas não só – dos contribuintes) e cumprir a sua missão que se encontra a alma do negócio.