
A SIC tem em mãos uma missão complicada: recuperar as audiências que perdeu desde que estreou 'Papel Principal' no lugar de 'Sangue Oculto', e viu desaparecer espectadores incapazes de achar graça àquela novela. O que está a correr mal na produção criada para o horário nobre da estação, cuja missão é concorrer com a super líder de horário (e já veterana) 'Festa É Festa'? Por correr mal, entenda-se menos de meio milhão de espectadores em horário nobre – na sexta-feira da semana passada, ficou em 16.º lugar do top auditado pela Media Monitor, com 452 mil espectadores, quase metade de 'Festa É Festa', com 751 mil. Mais: ficou atrás da novela da SIC que se lhe segue, 'Flor sem Tempo', de 'Joker', da RTP1, das novelas e comentários de 'reality shows' de final de dia, enfim... uma tragédia às 10 da noite.
Tem a SIC e Daniel Oliveira em particular, criador da ideia, razões para estarem preocupados? Na minha modestíssima opinião, é evidente que sim! Este desastre mostra duas coisas: a falta de jeito dos autores para escreverem esta ficção, a incapacidade da direção de programas da SIC para perceber o que o público dos canais generalistas privados procura e, sobretudo, a inacreditável falta de agilidade para "dar uma guinada" e pôr fim à novela.
É certo que Daniel Oliveira quer "mudar" e já foram colocados vários cenários em cima da mesa. Nenhum deles rápido e eficaz o suficiente para estancar "o sangue" desta ferida. A questão aqui e simples e é isto que diferencia 'Papel Principal' de 'Festa É Festa': enquanto a novela da TVI é feita em formato semelhante a uma 'sitcom' – sem nenhum desprimor – recorrendo a cenas rápidas, sem histórias, a roçar o 'nonsense', 'Papel Principal' tenta ser uma novela a sério mas com humor, no velho o inverosímil cenário do teatro de revista. Ou seja, nada bate certo. Há solução? Há: a mesma de 'Travessia', a novela da Globo agora a passar no fim da noite: matar a novela mais cedo do que previsto. É o ideal? Não, mas quando o mal está feito...