
Não é por acaso que 'Isto é Gozar com Quem Trabalha' vence sistematicamente (ou quase) as noites de domingo na televisão generalista. Ricardo Araújo Pereira, apresentador e coautor do 'talk show' da SIC consegue fazer aquilo que grande parte dos meios de comunicação social não são capazes: ir à caça das gafes e disparates dos políticos portugueses. E, não contente, acaba por fazer ainda o papel de verdadeira oposição a todo e qualquer poder político instalado, desconstruindo-o, pondo à mostra fragilidades, défice de inteligência e estratagemas tontos de utilização deficiente do poder. RAP é a oposição. Ou melhor, é o sorriso que olha a política e nos faz pensar na sua inexplicável debilidade e leveza.
O resultado prático está à vista: coleciona legiões de fãs entre os espectadores/eleitores que o olham como "o tal" que põe o dedo na ferida, investiga, vai atrás, aponta o dedo a "uns e aos outros", sem olhar a cores políticas, preferências, quem é governo, quem quer ser, quem está do outro lado, quem nunca lá chegará, quem é "intocável"... ou nem tanto assim. Araújo Pereira é, possivelmente, o mais livre "comentador" da televisão, impondo em Portugal um olhar humorístico na melhor tradição anglo-saxónico sobre a realidade política e social.
Não será, pois, de estranhar que daqui até março – data das eleições Legislativas antecipadas – seja "sempre a subir". Se é verdade que os portugueses já privilegiam os espaços de informação – o 'Jornal da Noite', da SIC, continua praticamente imaculado na liderança dos programas mais vistos diariamente e a CMTV continua a ser, com distância e distinção, o canal por cabo preferido dos espectadores –, é expectável que um 'Isto é Gozar com Quem Trabalha' se mantenha no topo das escolhas. O que nos leva a colocar questões: por que razão os canais concorrentes não apostam nestes formatos e se mantêm fiéis aos enfadonhos debates?; e se realmente os portugueses são assim tão apáticos à política. A mim parece-me que não. Estão é fartos de quem a faz sem conhecer o País real.