
Há uma velha expressão portuguesa que fala em "dois galos para o mesmo poleiro" e usada quando se quer explicar que essa situação não complica só a vida dos "galos" como de todo o "galinheiro". No passado fim de semana, ao assistir à apresentação da nova grelha da TVI, fiquei com a sensação de que aquela orquestra tocava a dois ritmos diferentes: o de Moniz – ou, sendo mais clara, o da dupla Piet-Hein Bakker, atual diretor da Plural Entertainment, e do braço-direito, Gabriela Sobral – e o de Cristina Ferreira. Se dúvidas existissem sobre a diferente forma de abordar aquilo que deve ser a programação de uma estação, elas desapareceram assim que foram apresentadas as produções de ficção da era "Moniz/Piet-Hein", a estrear – como eles dizem – "brevemente": a novela 'Cacau', as minisséries, até o filme comprado, realizado por Diogo Morgado e que resgata Pedro Teixeira (e bem) para uma personagem dramática. Esta é uma TVI/Plural que recupera uma linguagem de novela na qual foi líder e que que lhe dá uma roupagem nova, em grande parte com "estética Netflix", a pensar que o mundo é redondo e que toda e qualquer produção feita hoje tem de pensar em vendas e coproduções apetitosas para o mercado internacional e não apenas na nossa pequena aldeia.
Onde é que Cristina Ferreira entra nesta equação? A questão das "duas TVI" chega a ser irónica, uma vez que foi Moniz quem trouxe o 'Big Brother' para o canal, há mais de 20 anos, que popularizou a forma de fazer televisão e mostrá-la aos espetadores numa época em que estes estavam viciados nos ‘apanhados’ e 'sitcoms' da SIC. Só que, a questão é muito simples de ser compreendida: duas décadas depois as coisas mudaram. Televisão é negócio, é compras e vendas, é influência, vai muito além do barómetro diário das audiências. Televisão é fazer contas no fim do mês, ver lucros e prejuízos e onde andam os investimentos da publicidade. Televisão são novos negócios (como Cristina tão bem sabe), 'streaming' e expansão. E por isso, sim, vamos ver duas TVI diferentes, pensadas de forma própria, cada uma com a sua função: cativar e fazer dinheiro. Resta saber se regidas por duas cabeças ou só uma.