1. Não tinha dúvidas nenhumas sobre o que vale Marisa Liz em televisão – e na vida real. Mas, se elas existissem, ficariam dissipadas agora em ‘The Voice Kids’. Duas semanas depois da estreia deste formato infantil da RTP1, e quando o silêncio sobre a sua qualidade é ensurdecedor, é justo reconhecer que a vocalista dos Amor Electro é a alma daquilo tudo.
É a mentora que gosta de ganhar. Qualquer discurso que faça esmaga o dos colegas. É a mãe de que os concorrentes precisam num momento difícil, conseguindo transformar lágrimas em sorrisos, por exemplo, com uma conversa à volta do TikTok. É a psicóloga e agente capaz de dar esperança a quem ficou pelo caminho e capaz de fazer acreditar que, para se vencer na vida, é preciso cair muitas vezes. É a amiga verdadeira, quando reconhece que Fernando Daniel é um "bom miúdo". É a mulher apaixonada pelo trabalho que tem em mãos. Que chora, que faz chorar quem está em casa, que vibra, que canta, que apoia, que sofre, que solta gargalhadas, que sente no coração o que diz, o que faz. As palavras, algumas ditas com a voz a tremer, são sinceras e ganham um peso maior neste mundo hipócrita e cínico que nos rodeia.
Vale mesmo a pena vê-la. É um espetáculo à parte, aos domingos à noite, ainda por cima sabendo nós que, à mesma hora, na TVI, há um ‘reality show’ que só alimenta a mentira, a intriga, a polémica e o sexo. Muito obrigado, Marisa.2. A TVI, que continua a apertar diariamente a SIC nas audiências, não pode chegar à liderança com uma estratégia nunca vista no mundo: isto é, não pode, de manhã e à tarde, apostar numa grelha popular e, depois, às 20:00, fazer uma coisa completamente diferente: um ‘Jornal das 8’ para as elites. A estação de Queluz de Baixo tem de ser coerente com a sua linha e apostar no povo, num regresso ao passado. Não se pode encostar ao poder, tem de denunciar e afrontar o poder. Tocar na ferida. Não pode ser cinzenta, tem de ter cor. Não precisa de ir buscar mais profissionais consagrados, tem de apostar na prata da casa, em gente nova com sangue na guelra. Só assim, com uma informação ousada, irreverente, que toque as pessoas, a conquista do horário nobre deixará de ser um mero sonho.
