
Andamos a toque de imagens vazias. Num primeiro instante, vemo-las como se fossem vagas apocalípticas para, de seguida, se dissolverem nas imagens que seguem, num movimento perpétuo de impulsos que se esgotam no instante em que explodem à nossa frente. A fuga de cinco detidos no estabelecimento prisional de Vale dos Judeus pôs os noticiários em polvorosa.
Prometeram-se reformas, promoveram-se dezenas de debates e, durante uma semana, o País minguado de outras notícias alimentou essa novela como se fosse o grande acontecimento do ano. Não passou de um punhado de imagens ocas, sem consequências que, rapidamente, cederam o passo a nova onda nascida dos terríveis incêndios que devastaram boa parte do território. Promoveram-se mais debates, insinuaram outras tantas reformas e, durante um punhado de semanas, as televisões esgotaram o arsenal de palavras, submersas por nova onda, agora com o epicentro das imagens nos Estados Unidos. Trump não iria ser eleito. As sondagens, as fastidiosas sondagens, libertavam-nos do pior pesadelo do Ocidente. Todos os canais de televisão possuem um punhado de comentadores todo-o-terreno. Gente especializada em imagens não especializadas e que garantiam Donald Trump fora do baralho.
A fazer fé nas suas incautas e fervorosas palavras, Portugal era a prova provada de que Kamala Harris era o esplendor da vitória. Imagens desertas, fugazes, e à falta de melhor, lá se foi reconhecendo que tudo não passara de um fogo fátuo que entretivera o País durante algumas semanas.
E, de repente, vaga atrás de vaga eis que surge o deputado das malas. Foi um estoiro a despropósito. Nem aqui, na Terra do Nunca, havia peito que aguentasse com tanta falta de vergonha. Mais umas dezenas de debates e de comentários sobre o partido que o acolheu e que não teve tempo para expulsar, pois o galhardo deputado da República, pôs-se ao fresco, com uma manobra rasca que fez dele independente, criando uma bancada unipessoal de trafulhas. Não se podia cair mais baixo na representação parlamentar.
O homem tratou da sua vidinha embora desonrando os Açores. O povo açoriano, ingénuo e incauto, entregou-lhe um mandato para o representar com esmero e honradez. Uma imagem que o Arruda das malas desfez em menos de um ai. Não demorou muito tempo a chegar nova vaga de imagens pobres saídas do tempo pobre que dá corpo a este Portugal decadente. Uns punhados de vereadores, deputados, funcionários dos partidos foram apanhados com as calças na mão, em negociatas espúrias contra o serviço público que juraram honrar. É tudo irreal. Até os comentadores são irreais.