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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

O inferno

Os governos, os sucessivos governos, seja qual for a cor da sua bandeira, passam pelos fogos como cão por vinha vindimada.
07 de agosto de 2025 às 19:31
Incêndio em Penafiel
Incêndios consomem vegetação; fumos densos no ar Foto: CMTV

Desabou sobre o País mais uma tempestade de fogo. Como é hábito, nesta época, as chamas devoram milhares de hectares levando consigo árvores, animais e o que sobra dos mais pobres. É esta desdita dos pobres dos campos.

Os governos, os sucessivos governos, seja qual for a cor da sua bandeira, passam pelos fogos como cão por vinha vindimada. Umas palavras de apreço aos bombeiros, uma atenção para com aqueles que ficam espoliados dos seus bens, o mesmo palavreado de circunstância, a mesma indiferença sobre a tragédia que se abate sobre o interior do País.

Esta indiferença tem contribuído para que enorme problema se torne num gigantesco bico de obra. O despovoamento e o envelhecimento são as causas maiores para explicar o que nos acontece. Perderam-se os vigias perpétuos da floresta – os homens. Morreram os laços de solidariedade, devido ao envelhecimento e isolamento das populações, aqueles que dado o alerta acorriam em primeira instância ao lugar onde nascera o incêndio. Na verdade, qualquer incêndio, seja pequeno ou torne-se grande do mesmo metro quadrado. Uma coisa é conseguir apagá-lo quando falamos de metros quadrados. Outra coisa é fazer-lhe frente quando se espraia por hectares de terreno, ou seja, tempo demais para ser controlado.

Recordo-me, quando era adolescente, que vivia numa herdade do Alentejo. Possuía duzentos trabalhadores que se ocupavam de várias fainas. Quando chegava o alerta de incêndio, chamavam-se os bombeiros e, simultaneamente, os homens disponíveis saltavam para roulottes de tratores acudindo rapidamente ao fogo. Lembro-me que, pelo menos três vezes, quando chegaram os bombeiros a sua função foi vigiar o incêndio já vencido no combate contra os camponeses.

Trago este exemplo com a consciência que o tempo não regride, que as condições económicas e financeiras para investir nos campos são diferentes da idade que eu tinha nessa altura. Porém, seja qual for a solução – e há muitas que podem ser executadas – é urgente devolver homens e mulheres ao interior do País. É urgente criar maneira de fixar pessoas para além do litoral. É urgente ressuscitar aquela grande parte de Portugal que está velho, só e moribundo. Porque são dois terços do território que estão desvalidos de investimentos e de pessoas. Porque é urgente recuperar a dignidade perdida, ceifada pelas chamas.

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