
Finalmente começou o julgamento do processo que ficou conhecido por Operação Marquês. Onze anos depois do seu início. Só este brutal lapso de tempo deveria levar os vários poderes a refletir sobre esta circunstância. Não é possível, em nome da salubridade judiciária, que se continuem a construir megaprocessos que levam anos e anos para chegar à barra de um tribunal. É que a Justiça para ganhar reconhecimento quer-se rápida e firme. Ligeira, mas rigorosa.
Quem não está disponível para reformas no sentido de agilizar o processo-crime, escuda-se com os expedientes de José Sócrates apresentando requerimentos, contestando processualmente os magistrados querendo colar-lhe à pele a demora que assistimos. Não é inteiramente verdade, basta que se diga que existem processos ainda mais morosos que, até à presente data, não se lhe conhece uma acusação.
Seja como for, este julgamento começou e chegará o dia em que vai ser produzido um acórdão de primeira instância. Não significará o fim da querela pois são inevitáveis os recursos para tribunais superiores, porém é o fim de uma longa jornada até ter chegado ao altar onde se realiza a Justiça: o tribunal de julgamento. É aqui que se vão apresentar provas, testemunhas, perícias que podem, ou não, produzir sentenças condenatórias.
Por isto mesmo, que tenha ficado perturbado com os verdadeiros comícios que Sócrates gerou à porta do tribunal, disparando em todos os sentidos. Contra a juíza presidente, contra o Procurador-Geral da República, contra o próprio processo num espaço e num tempo descontextualizado, alimentando notícias e reportagens televisivas, mas sem qualquer proveito para a causa que se disputa e onde ele está acompanhado por duas dezenas de pessoas.
Sócrates padece da doença que todos aqueles que fizeram o seu percurso de vida na política. Mostra-se-lhe um microfone e são incapazes de estar calados e, nesta altura, o silêncio só o beneficiaria e não prejudicaria outros arguidos que estão ao seu lado no banco dos réus. A luta pelo seu bom nome só tem espaço para ser defendido no interior da sala de julgamento. É aí, criticando provas, contestando juízos prévios, demonstrando as impossibilidades de tais acusações. A continuar esta gritaria comicieira não irá longe.