
Li as medidas do governo como resposta à hecatombe infernal que se abateu sobre o norte e centro do País. Não é a primeira vez que, no todo ou em parte, li escritos semelhantes por anteriores governos. É um palimpsesto. Uma lista de boas intenções ditadas pela atmosfera sombria que resulta da ressaca dos incêndios. Vem na linha de outras não menos famosas atitudes declaradas com dogma de fé por outros governantes. Ainda me recordo de ouvir o senhor Costa proclamar com gravidade que a destruição do pinhal de Leiria, pelo enorme incêndio de 2017, seria completamente restabelecido enquanto, mais recentemente, depois de igual calamidade ter assolado a serra da Estrela, a ministra Vieira da Silva declarava que depois do investimento do governo, a serra ficaria ainda mais linda. Palavras de vento que se esboroaram com as primeiras chuvas.
Os governos são o que são e, felizmente, a Natureza não se lhes submete e encarregar-se-á de repor grande parte daquilo que o fogo destruiu.
Planos de ordenamento do território, planos de reflorestação, programas de substituição da flora, trocando eucaliptos por carvalhos ou nogueiras por choupos são uma miríade, um propósito cujo sentido é não fazer sentido nenhum.
O programa deste governo para responder ao caos que os incêndios trouxeram, tal como os restantes programas similares, quando chegar o momento de o pôr em prática já novamente o fogo chegou para destruir mais umas centenas de milhares de hectares. Talvez, neste momento de aflição para tanta gente, fosse bem melhor que o governo não quisesse mostrar que é muito inteligente e erudito e ter a humidade de contribuir com aquilo que de mais básico existe na prevenção de incêndios. Fazer aceiros.
Há uma história das áreas ardidas. Uma história que permite concluir sem grandes erros de cálculo, os territórios onde o fogo é rei. Contratar duas ou três dúzias de tratores de rasto para multiplicar aceiros pelas serranias é, seguramente, mais barato do que contratar verdadeiros esquadrões de aviação. Era um bem público mais rentável, mais eficaz e mais barato.
Esta ação tem a desvantagem de não ser amiga de grandes números de circo, com desfile de ministros engalanados e fazendo de conta que se preocupam. É trabalho que vale por mil manifestos antifogos.