
24 jogadoras da seleção de futebol feminino da Venezuela lançaram um comunicado coletivo a denunciar o "abuso físico, psicológico e sexual" exercido pelo treinador panamiano Kenneth Zseremeta, que orientou a equipa de sub-17 'vinotinto' até 2017.
No texto, partilhado esta terça-feira nas redes sociais pelas várias atletas, entre elas, Deyna Castellanos, do Atlético de Madrid, que já chegou a estar nomeada para o prémio The Best, da FIFA, pode ler-se o seguinte: "Nós, as jogadoras da seleção da Venezuela, decidimos quebrar o silêncio para evitar que as situações de abuso e assédio físico, psicológico e sexual perpetradas pelo treinador Kenneth Zseremeta façam mais vítimas no futebol feminino e no mundo. Entre 2013 e 2017, surgiram numerosos incidentes ao redor da sua figura, os mais comuns foram o abuso físico e psicológico durante os treinos. Muitas de nós continuam com traumas e feridas mentais que nos acompanham no dia-a-dia."
"Ainda que soe uma loucura para nós, era algo normal o nosso treinador opinar, comentar e perguntar-nos sobre a nossa sexualidade e intimidade, inclusive às raparigas menores de idade. Os membros da equipa técnica eram coniventes com muitas destas situações e agora percebemos que estas ações tinham como objetivo manipular-nos e fazer-nos sentir culpadas", acrescentam, continuando, "as jogadoras da comunidade LGBT+ eram constantemente questionadas pela sua orientação sexual e o assédio às jogadoras heterossexuais era constante. Existiram ameaças e chantagens de revelar aos pais das jogadoras a sua orientação sexual caso não fossem disciplinadas ou rendessem como deveriam. As insinuações sexuais eram temas do quotidiano, assim como os comentários sobre o quão atraentes eram as jogadoras."
COMUNICADO. #NoMasAbusos
— Deyna Castellanos (@deynac18) October 5, 2021
#ProtejanALasJugadoras #ProtectThePlayers pic.twitter.com/KJ2alEE0Jz
O comunicado alude também a uma atleta em específico, que terá sofrido com as ações do selecionador: "No ano passado uma das nossas colegas confessou-nos que foi abusada sexualmente desde os 14 anos pelo treinador Zseremeta, que durou até este ser despedido. O seu cúmplice em tudo isto foi Williams Pino [preparador físico]", tendo depois desenvolvido, "muita gente poderá perguntar-se porque tardámos a dizer isto, mas não foi fácil para nós este processo, mas atualmente percebemos que, como vítimas de abuso, era importante levantar a nossa voz para defender a honra da nossa companheira e para que alguém assim jamais volte a ter o poder de magoar qualquer outra rapariga ou mulher. A nossa companheira está hoje num lugar melhor mental e fisicamente, não obstante todo o trauma que esta pessoa lhe causou, sendo uma sobrevivente a um monstro que não abusava dela só de forma sexual, mas que passou por um constante assédio emocional ao ponto de preferir não ser convocada."
Esta notícia surge pouco tempo depois de duas ex-jogadoras da seleção australiana, Lisa de Vanna e Rhali Dobson, terem também alegado sido vítimas de assédio sexual durante a sua carreira de futebolistas, acrescentando que houve proteção dos agressores por parte de outras mulheres e de instituições.