A infância e juventude "alemãs" de Rui Rio que o marcaram para sempre: do pai austero, à morte do irmão e à mulher que faz dele o que quer
Reservado, discreto e fruto de uma infância ditada pelas regras rígidas do pai. A juventude do líder do PSD tornou-o no homem que é hoje. Não esquece a morte do irmão, que perdeu a vida quando o político tinha apenas 8 anos e preserva o seu lado mais íntimo ao lado da mulher e da filha. Toda a história do "velho"-novo candidato a primeiro-ministro.
Primeiro os factos recentes.
Rui Rio, de 64 anos de idade, foi reeleito, no passado domingo, 28 de novembro, presidente do PSD nas eleições diretas que disputou com Paulo Rangel, 53 anos, com 52,43% dos votos. Separou-os menos de 2 mil votos. Mais extatamente 1746. Uma vitória "à tangente" mas suficiente para o objetivo de Rio.
Mas afinal, quem é este homem que no seu discurso de vitória afirma, perentoriamente, que sabe que vai ser o próximo primeiro ministro de Portugal? Quais as suas raízes? De onde vem a sua postura austera? Então, vamos às respostas.
Foi a educação rigída do pai que levou Rio a estudar no Colégio Alemão
Hoje, diz-se um pai diferente daquele que foi o seu. Preserva a vida familiar. Quem bem o conhece diz que a mulher, Lídia Azevedo é a única capaz de o "desarmar" e torná-lo num homem descontraído e de sorriso fácil. Afinal, que educação moldou este homem?
Esta é a história de Rui Rio.
Esta é a história de Rui Rio.
A DURA EDUCAÇÃO DO PAI
Quando olha para trás, o político fala do pai como "um comerciante, e filho de um comerciante abastado". "Viveu na Suíça francesa, depois de acabar o liceu. Ficou sempre com uma certa sedução pela Europa central. O meu pai era muito rigoroso, demasiado rigoroso. Daí talvez o seu encanto com os alemães", justificando assim, de certa forma, o seu lado mais austero.
Ao longo da entrevista, Rui Rio repete várias vezes que o pai era "rigoroso" no que dizia respeito à sua educação. Afirma que "pouco ou nada levou e nem era preciso bater". "Mantinha uma certa distância, cortava-me os brinquedos, estudava nas férias. Está a ver o que é um miúdo de nove anos, 10 anos, 11 anos, 12 anos ter de estudar nas férias? Posso tentar recordar coisas desse género… Ganhei quatro campeonatos seguidos de slot-cars. [carros de pista, elétricos]."
As horas nessas corridas são os momentos mais carinhosos que guarda com o pai. "Era o meu pai que me arranjava os carros, era o meu pai que me via os tempos, era o meu pai que sofria com a minha performance na corrida. Mais do que eu próprio", recorda.
Afirma que não vivia com o desejo de impressionar o pai e questionado se nada era suficiente para que o pai ficasse satisfeito com, Rui Rio responde: "Não sei… A partir dos meus 17 anos, e até aos 40 e tais, o meu pai estava ainda bem, e foi muito diferente."
Apesar deste ambiente rigído em que cresceu, o líder do PSD garante que nunca teve uma má relação com o pai: "Em bom rigor, nunca foi má. Foi razoavelmente positiva. Nos anos 60, um miúdo com 12, 13, 14 anos era muito subjugado aos poderes paternais. Mesmo os que não andavam no Colégio Alemão. Depois há uma idade em que se fica mais espigadote. Quando fui para a faculdade, o meu pai até manifestava algum orgulho."
PAI TORNOU-O O HOMEM QUE É HOJE
Rui Rio cumpriu três anos de mandato à frente da Câmara Municipal do Porto de 2001 a 22 de outubro de 2013. No ano desta entrevista - em 2013 -, o líder do PSD afirma que o pai estava "numa situação fraca em termos de saúde. Não tem á consciência."
No entanto, o progenitor ainda estava bem quando ganhou, pela primeira vez, a Câmara da Invicta. "Em 2001 esteve na sede até tarde e sentiu uma grande alegria. Em 2005 já estava débil. O que ele fez, na minha infância, foi com boa intenção. Era para eu ser alguém."
Tornou-se um homem influente na política e não tem pudores em caracterizar-se: "Não sou mais rigoroso para os outros do que sou para mim mesmo. Isto que acabei de lhe dizer é aquilo que me imponho. Não para transmitir aos outros, ou porque, em política, temos de ter o cuidado de não mentir. Estamos sempre a ser avaliados – e acho muito bem. Ponho as contas da Câmara em ordem e esforço-me por ter prazos de pagamento aos fornecedores. Mas não faço isto para ter esta imagem, faço porque é correcto. Nunca devi nada a ninguém. Dizem-me: "Não é crime nenhum dever". Mas não me sinto bem."
O PAPEL DAS MULHERES DA SUA VIDA
O pai focava-se na disciplina e na sua visão sobreva pouco tempo para que Rui pudesse ser apenas aquilo que era: uma criança. Esse lado infantil era explorado pelas mulheres que o criaram e é dessas relações que guarda os mimos que recebeu durante o crescimento.
"Essa parte, tenho-a com a minha mãe. Tinha na minha mãe e na mãe dela um refúgio, que, não sendo um refúgio contra o meu pai, dava esse complemento. Para a minha avó materna, o Ruizinho era tudo. E havia a minha tia-avó, que era solteira. Um triunvirato de mulheres", conta.
A DOR DA MORTE DO IRMÃO
"Quando eu tinha sete anos, quase a fazer oito, perdi um irmão." É desta forma fria e direta que Rui Rio relembra um dos piores momentos que marca a sua infância. O irmão do também economista não conseguiu vencer a batalha contra uma leucemia. "Era mais novo do que eu dois anos. Detetámos a doença em Julho de 1964 e morreu em Junho de 1965. O meu pai passou a projetar tudo num só filho. O grau de exigência, que já era grande por força do seu perfil, aumentou. Isso marca muito a minha educação."
Rui Rio agradece a si próprio por ter tirado deste período o melhor e garante que podia não ter corrido tão bem. "Podia marcar para bem, para mal ou para assim-assim. Para mal se, fruto de uma educação apertada e rigorosa, somada aos alemães, desse para, na zona dos 14/15 anos, explodir. E hoje andava aí a militar pelas extremas-esquerdas, contra tudo e contra todos. Podia dar também para seguir aquela linha completamente rigorosa."
UM PAI DIFERENTE PARA A FILHA: "É UMA EDUCAÇÃO VERGONHOSA"
Rui Rio é casado com Lídia Azevedo que, segundo os amigos, é das únicas pessoas que é capaz de desbloquear a rigidez do líder do PSD, mas uma parte privada da sua vida que o nortenho prefere preservar. O mesmo aconteceu com a filha que, para "desgosto" do pai, parece ter-se encantado pelo mundo da política.
Em plena campanha para as diretas de 2018, Rui Rio esteve em Amarante a apadrinhar a entrada na JSD de um grupo de jovens. A cerimónia não ficaria para a história se entre os novos militantes não estivesse Marta, a sua filha. Até àquele momento, a rapariga de, na altura, 16 anos era desconhecida do público. Mas quem estava no auditório percebeu a relação especial entre o político e a tímida miúda que dava os primeiros passos na política.
Anos antes, Rui Rio manifestava a pouca vontade que tinha de arrastar a sua única filha para o seu mundo. "Não a vou influenciar em nada, mas preferia que a Marta não fosse por este caminho. Se pudéssemos recuar no tempo 30 ou 40 anos, poderia dizer que teria orgulho que ela seguisse uma carreira política, porque é uma atividade de grande nobreza. Mas hoje a sociedade desconfia de quem vai para a política. A continuar assim, não é uma atividade prestigiante, portanto, se a minha filha não for por aí, não é mau. Se for, é porque é a vocação dela. Mas gostava de a ver a fazer outras coisas", disse à revista 'Caras'. Comparando a educação que dá à filha com aquele que o pai lhe deu, Rui Rio é muito direto e brinca: "É uma educação vergonhosa, se comparar com a do meu pai. Devia ser mais apertada."