A vingança serve-se fria. José Sócrates tramado em tribunal pela ex-cunhada, disposta a tudo para recuperar herança da filha por direito
Tânia Gouveia, viúva de António Pinto Sousa, irmão de Sócrates que morreu em 2011, é uma das primeiras testemunhas a ser chamada pelo Ministério Público no julgamento da 'Operação Marquês' que envolve o antigo primeiro-ministro. A ex-cunhada do ex-governante já falou de viagens, de transporte de dinheiro para a Suíça e ainda colocou em causa a alegada fortuna da ex-sogra, Maria Adelaide. Para além disso, está disposta a lutar pelo direito da filha à herança da mãe de Sócrates.Continua a decorrer o julgamento de José Sócrates no Campus da Justiça, em Lisboa, no âmbito da 'Operação Marquês'. Esta é a primeira vez que um antigo primeiro-ministro é levado à barra do tribunal por corrupção em Portugal. No total, Sócrates é acusado de 22 crimes, dos quais três de corrupção, 13 de branqueamento e seis de fraude fiscal. Após muitos adiamentos e constrangimentos processuais, o julgamento começou no início de julho, 10 anos depois da detenção do ex-primeiro-ministro.
Em tribunal, e para além da discrepância entre o nível de vida de Sócrates e os rendimentos do antigo político e das alegadas ligações do ex-primeiro-ministro a empresas como a Portugal Telecom, BES ou Grupo Lena, irão vir a terreiro também relações familiares, que envolvem a mãe e o irmão de José Sócrates, ambos falecidos.
De acordo com o 'Correio da Manhã', Tânia Gouveia – ex-companheira de António Pinto de Sousa, irmão de Sócrates – será uma das primeiras testemunhas a ser chamada pelo Ministério Público. Isto depois de, em dezembro 2014, Tânia ter garantido que o antigo companheiro ia com regularidade à Suíça depositar dinheiro nos bancos. A ex-cunhada de Sócrates assegurou que esse dinheiro não era dela nem de António Pinto de Sousa, uma vez que ela estava desempregada e o irmão do ex-primeiro-ministro ganhava 700 euros, tendo admitido que o dinheiro só poderia ser de José Sócrates ou do primo José Paulo, tal como foi noticiado pelo 'Correio da Manhã'.
Mas Tânia Gouveia disse mais. Sobre a alegada fortuna da mãe de Sócrates, Maria Adelaide, Tânia referiu-se aos imóveis da antiga sogra como "casinhas de porteira", casas pequenas e antigas que não valeriam mais de 35 mil euros. De acordo com a viúva de António Pinto de Sousa, os irmãos eram bastante próximos e viajavam regularmente. Recordou ainda viagens que fez com o companheiro e que, segundo ela, foram sempre tratadas pelo gabinete do antigo primeiro-ministro. Algarve, Veneza, Brasil estão entre os alegados destinos. Referiu não ter conhecimento de onde provinha o dinheiro para pagar as viagens. Aos investigadores do processo, garantiu apenas que não tinha dinheiro para aquela vida milionária.
A SOBRINHA QUE RECLAMA A HERANÇA DA ALEGADA FORTUNA DA AVÓ
Pelo meio, está ainda a filha de Tânia e de António Pinto de Sousa, sobrinha de José Sócrates, que, segundo a mãe nada recebeu depois da morte do pai, apesar de ser herdeira. De acordo com a viúva do irmão de Sócrates, a sogra, Maria Adelaide, apoderou-se do pouco que tinham após a morte do companheiro.
“Vou lutar por aquilo que é da minha filha por direito”, garantiu, citada pelo 'Correio da Manhã', em 2021. Com 21 anos de idade, e segundo a mãe, a sobrinha de Sócrates “não tem nenhum contacto” com o tio. “Se a vir na rua nem a conhece”, revelou Tânia Gouveia ao jornal, ao mesmo tempo que garantiu ser “ignorada pela família” do falecido companheiro. Tânia reclamava então o dinheiro que a sogra, Maria Adelaide Monteiro, doou ao ex-governante ao longo dos anos. “Ela fez-nos a vida negra”, apontou Tânia Gouveia ao 'CM', sublinhando que “aquilo que foi doado em vida ao outro filho também pertence às herdeiras, que são as netas”.
Recorde-se que o processo 'Operação Marquês' faz referência a imóveis vendidos pela mãe de Sócrates a Carlos Santos Silva, o empresário amigo do antigo primeiro-ministro. Negócios que lhe terão rendido 775 mil euros, dos quais terá doado 555 mil euros ao filho Sócrates, tal como noticiado pelo 'Correio da Manhã'.