Afinal o pesadelo é muito maior! Beijo de Rubiales desvenda escândalos do futebol feminino em Espanha. Toda a história que começou há mais de uma década
Numa história que já fez correr muita, mas mesmo muita tinta, e que já teve reviravoltas e episódios peculiares, continua o braço de ferro entre Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, e a seleção feminina de futebol tal como grande parte dos apoiantes desta, depois do beijo que já foi repetido até à exaustão. Mas as polémicas no futebol feminino espanhol não começaram neste Mundial: conheça toda a história desde o polémico selecionador Nacho Quereda até às várias reviravoltas, como a comparação a Iker e Carbonero no autocarro, que se sucederam a um triunfo espanhol em Sydney que saiu ofuscado e indelevelmente manchado por toda esta controvérsia.
O futebol feminino tem estado em franco crescimento nos últimos anos, com o Mundial de 2023, jogado entre Austrália e na Nova Zelândia, a ter demonstrado amplamente toda esta nova popularidade.
O recorde de dois milhões de espetadores nos estádios, juntou-se aos números conseguidos em audiências televisivas em diversos países e às receitas geradas, na ordem dos 570 milhões de dólares, números revelados pelo presidente da FIFA, Gianni Infantino, tornaram este torneio no primeiro Mundial jogado por mulheres a conseguir um 'break-even', isto é a igualar as despesas, mesmo com o aumento dos prémios às federações participantes. No final, foi a Espanha quem conquistou este Mundial de futebol feminino histórico
Nos dias que se seguiram, a vitória de La Roja ficou colocada em segundo plano, com o incidente a dominar as atenções a nível internacional e a gerar um foco de atenção em Rubiales, com múltiplas entidades a instarem o responsável do futebol espanhol a demitir-se, algo que, até hoje, se recusou a fazer.
Contudo, esta é apenas a ponta do icebergue em toda a controvérsia à volta da participação da seleção de Espanha no Mundial, com os casos polémicos a acumularem-se na última década, sempre com a federação espanhola no olho do furacão e a colocar-se por diversas vezes do outro lado da barricada daquelas que deveriam ser as protagonistas: as jogadoras.
AS PRIMEIRAS POLÉMICAS
Para compreender a extensão desta querela, é necessário recuar até ao ano 2011. Na altura, a seleção espanhola era treinada por Ignacio Quereda, madrileno cujo envolvimento no futebol começou nas escolas do Real Madrid, onde foi jogador, antes de trocar o equipamento pelo fato de treino, tendo sido treinador do modesto Móstoles, da quarta divisão. Em 1988, foi o eleito da RFEF para comandar uma seleção feminina que somente cinco anos antes havia disputado o seu primeiro jogo oficial: uma derrota por 1-0 contra Portugal.
Quereda manteve-se no cargo durante 27 anos, assistindo de perto ao crescimento do futebol feminino em todo o globo. Todavia, entre 1991 e 2011, a seleção espanhola apenas se conseguiria qualificar para uma das grandes competições internacionais, o Euro 1997, no qual até alcançou o terceiro lugar.
A partir de 2011, tornou-se público o sentimento de revolta por parte das jogadoras espanholas perante o contexto em que viviam. Nesse ano, a goleadora Laura del Río abandonou a seleção e afirmou que nunca iria voltar enquanto Quereda fosse selecionador, ele que, quando questionado sobre o assunto, frisou que Del Río teria sempre as portas abertas para a seleção.
Já no ponto de vista desportivo, os fãs do futebol feminino em Espanha protestavam a manutenção de Quereda no cargo durante tanto tempo, dado o fraco rendimento da equipa, com dedos a serem apontados a Ángel Maria Villar, à altura presidente da federação.
Foi apenas cerca de uma década depois que se compreendeu toda a extensão da conduta questionável de Quereda enquanto selecionador, através do lançamento do documentário ‘Romper el Silencio’, na Movistar+, e do livro ‘No las llames chicas, llámalas futbolistas’, de Danae Boronat, em 2022.
Nestas obras é relatado que o selecionador tinha as "costas quentes", gozando de proteção por parte de Villar, não obstante o desempenho medíocre nas competições de futebol, como as queixas feitas pelas jogadoras quanto ao seu comportamento longe das câmaras.
Frases como "A ti o que te faz falta é um bom macho", "Cuida-te, que estás gorda" ou "Sabes como os galos fecundam as galinhas?", esta última enquanto beliscava o rabo de uma jogadora, foram alguns dos exemplos chocantes de declarações machistas da autoria de Quereda, às quais se juntavam acusações de abusos psicológicos, homofobia e obsessão pelo controlo: "Obrigava-nos a deixar as portas abertas dos quartos e à noite passava uma por uma a controlar. Até se comprávamos qualquer coisa, analisava os nossos sacos", revelou Mar Prieto, ex-internacional espanhola.
Num vídeo retirado do documentário, que recentemente se tornou viral nas redes sociais, é ainda possível ver Quereda a importunar as jogadoras, deixando-as visivelmente incomodadas.
A CONTESTAÇÃO DE "LAS 15"
Após a eliminação do Mundial de 2015, com apenas um ponto nos três jogos da fase de grupos, o plantel lançou uma carta aberta, pedindo a demissão de Quereda: "Acreditamos que esta era chegou ao fim e queremos uma mudança. Esta geração tem o talento e o compromisso para chegar bem mais longe", podia ler-se, com críticas à preparação levada a cabo na antecâmara do torneio.
Quereda anuiu a este pedido e deixou o cargo de selecionador espanhol. A escolha da federação para o substituir recaiu em Jorge Vilda, à altura com 34 anos, que havia treinado as seleções de sub-16, sub-17 e sub-19, e é filho de Ángel Vilda, antigo preparador físico do Barcelona de Johan Cruyff e que havia também treinado nos escalões de formação da seleção feminina.
Apesar da troca, a relação entre as jogadoras e o selecionador rapidamente se deteriorou. Depois de a Espanha ter caído aos pés da Inglaterra no Europeu de 2019, e já com Luis Rubiales como presidente da RFEF, o plantel voltou a acusar a estrutura do futebol feminino de não ter a direção adequada ao talento que havia à disposição.
O balneário estava desintegrado entre as futebolistas do Barcelona e as do Real Madrid, dividindo a equipa em dois grupos, num mau ambiente que ficaria demonstrado no Clássico entre os dois grandes rivais meses depois. A isto, somavam-se as críticas que já vinham de antes, novamente sobre a proibição de as jogadoras trancarem as portas dos seus quartos, tal como de acompanhamento nutricional insuficiente.
A polémica chegou ao seu zénite em setembro de 2019, quando quinze jogadoras, entre as quais elementos importantes da equipa como Aitana Bonmatí e Mapi León, enviaram emails à federação, no qual deixavam claro o seu descontentamento e davam a entender que não iriam jogar pela seleção: "Os últimos acontecimentos na seleção espanhola e a situação que se gerou, factos dos quais vocês são conhecedores, estão a afetar de forma impactante o meu estado emocional e, portanto, a minha saúde", declararam.
Jenni Hermoso, uma das capitãs de equipa, não se incluiu no conjunto que ficou conhecido como ‘Las 15’, mas expressou o seu apoio às colegas em comunicado e adjetivou toda a situação como "insustentável". Do lado da federação não houve quaisquer recuos e inclusive foram emitidas declarações nas quais ficou explícito que as jogadoras apenas regressariam às convocatórias se "assumirem o seu erro e pedirem desculpa".
Ao aproximar-se o Mundial, algumas das futebolistas de ‘Las 15’ e as suas apoiantes, mostraram alguma abertura em voltar à seleção espanhola, e iniciaram-se assim negociações entre a FUTPro, associação criada para defender os direitos laborais das futebolistas em Espanha, e a federação para que se alcançasse um meio-termo.
Na realidade, para além de Hermoso, apenas três das 15 carimbariam o seu retorno a ‘La Roja’: Aitana Bonmatí, Mariona Caldentey e Ona Batlle. Já Sandra Paños, Patri Guijarro, Mapi León e Claudia Pina, do Barcelona, Lola Gallardo e Ainhoa Vicente, do Atlético de Madrid, Leila Ouahabi e Laia Aleixandri, do Manchester City, Amaiur Sarriegi e Nerea Eizaguirre, da Real Sociedad, Andrea Pereira, do Club América e Lucía García, do Manchester United, mantiveram-se irredutíveis e deixaram claro que a sua renúncia à seleção se iria manter.
Quando inquirido após revelar a convocatória, Jorge Vilda não quis comentar a irrevogabilidade da decisão das 12 jogadoras, reconhecendo que houve "conversas privadas" com as três regressadas, que conduziram à sua decisão de representar Espanha no Mundial.
Na competição disputada na Oceânia, a formação espanhola chegaria à final com um percurso quase imaculado, exceção feita à surpreendente e pesada derrota contra o Japão por 4-0 ainda na fase de grupos. Contudo, Vilda voltaria a criar polémica ao dar uma entrevista antes do encontro decisivo, ao jornal desportivo ‘Marca’. Questionado sobre como seria enfrentar um balneário que duvidou das suas capacidades respondeu que não havia nada a fazer para além de se concentrar no trabalho e fazer o que haviam feito até ali.
Já à questão de se se havia sentido maltratado pela imprensa espanhola, frisou: "Não dou importância. Quando ganhas és muito bom e quando perdes és muito mau, tens de relativizar. O que me chateou sim, foi quando duvidaram da minha honra e aí foi quando chegámos à conferência de imprensa e dissemos que qualquer jogadora que não fosse tratada com respeito poderia sair. Não saiu ninguém e ficou demonstrado que, nestes quinze anos, a relação foi profissional".
RUBIALES, O VILÃO
A caminhada de Espanha até à vitória no Mundial não decorreu, todavia em harmonia. Mesmo que nenhuma das partes o tenha verbalizado, o ambiente nefasto no seio da seleção foi percetível através de pequenos instantes captados pelas câmaras: Alexia Putellas não cumprimentou Vilda ao sair de campo frente aos Países Baixos, uma jogadora sentada em lágrimas no balneário enquanto o resto da equipa festejava, o afastamento das jogadoras e Vilda no momento de festejar a qualificação para a final.
Ninguém, no entanto, esperava que o copo transbordasse desta forma depois da merecida vitória no jogo da final. Primeiramente, o foco até esteve na montanha-russa de emoções pela qual passou Olga Carmona. A capitã espanhola e autora do único golo da final perdera o pai dias antes e foi apenas informada nesse dia: "E sem sabê-lo, já tinha a minha estrela antes do início do jogo. Sei que me deste a força para conseguir algo único. Sei que me estás a ver esta noite e que estás orgulhoso de mim", escreveu depois no Twitter, emocionando os fãs da seleção.
E depois… a tempestade. Imagens do beijo dado por Luis Rubiales a Jenni Hermoso começaram a espalhar-se pelas redes sociais, pelos sites de notícias e rapidamente se transformou no assunto do dia em jornais, televisões e nos cafés, ultrapassando fronteiras e sendo comentado em todo o globo. Depois da vitória conseguida em campo, o plantel espanhol começava um outro duelo: o de derrubar o dirigente de 46 anos.
Esta não foi a primeira polémica de Luis Rubiales. No passado, foi acusado de agressão por Yasmina Eid-Mached, a arquiteta principal encarregada dos planos de renovação da sua casa, de corrupção, após ter assinado um contrato de 40 milhões de euros com a empresa saudita Sela, com a Kosmos, a empresa de Piqué (na altura ainda jogador do Barcelona) a receber comissões de 4 milhões por torneio, e de utilizar os fundos da RFEF para pagar a renda da sua casa em Madrid.
Foi ainda acusado pelo seu tio, Juan Rubiales, de organizar festas de natureza sexual numa propriedade em Granada. O tabloide britânico 'The Sun' publicou fotografias desta moradia, na qual, segundo relata, Rubiales, assim como delegados da federação, eram acompanhados por oito a dez jovens, trazidas por um amigo, na época da pandemia de covid-19.
Numa entrevista publicada pelo 'El Confidencial' nesta quinta-feira, Juan Rubiales voltou a relembrar este episódio e arrasou o sobinho, a quem adjetiva de "homem cobarde": "Um dia ele anuncia que à tarde vai haver uma festa e que vão chegar raparigas. (...) Quando vi as raparigas, de 18, 19 e 20 anos, eu fechei-me no quarto, disse ao Luis, 'Isto é uma loucura. Estamos a perder o norte, estás aqui com miúdas de 18 anos que podiam ser tuas filhas'".
Ainda em declarações à publicação espanhola, confirmou que esteve na viagem de Luis Rubiales a Nova Iorque, no qual foram usados fundos da RFEF para que ele se encontrasse com uma pintora mexicana, Roberta Lobeira, com quem tinha uma relação sentimental, realçando não ter havido quaisquer reuniões: "Nos cinco ou seis dias de viagem esteve exclusivamente com ela. (...) Até creio que foi o 'El Confidencial' que publicou um áudio de como ele nos dá instruções: 'Liga à imprensa, diz-lhes que de manhã temos a reunião com a ONU e com a MLS [liga norte-americana de futebol] e com não sei quem'. Ele dava-nos instruções para encobrir essa viagem. (...) A viagem foi toda montada pela RFEF", afirmou.
Na sequência da nova polémica, foi alvo de outras acusações, desta vez por parte de Tamara Ramos, dirigente do sindicato espanhol Futebolistas ON: "Não me surpreende de forma alguma, principalmente porque o conheço há muitos anos e sofri com ele, o que me surpreendeu foi que ele tenha feito isso em público", referiu, citada pelo 'Semana', acrescentando: "Sofri humilhações, golpes e palavras, que não posso repetir, por parte de Rubiales, foi uma barbaridade por muito tempo (...). Na frente de todos, com o sarcasmo que tem, ele dizia-me: 'Vamos lá, vá, vieste para colocar as joelheiras'. (...) Ele perguntava-me qual era a cor da roupa íntima. Sendo mulher, ainda por cima no mundo do futebol em que somos poucas, com o poder que ele tinha e ainda tem hoje, é muito difícil enfrentá-lo", rematou.
Voltando à final de Sydney, foram múltiplos os episódios bizarros que envolveram o dirigente: para além do beijo a Hermoso, também foi visto a agarrar a virilha enquanto celebrava a vitória espanhola, mesmo estando a poucos metros da rainha Letizia e da infanta Sofia, e a carregar a futebolista Athenea del Castillo sobre o ombro, sem razão aparente.
O pior veio depois: após a futebolista do Pachuca, de 33 anos, ter afirmado que não tinha gostado da atitude de Rubiales, a federação espanhola lançaria uma mensagem alegadamente da autoria da jogadora na qual dizia que o beijo fora algo "totalmente espontâneo" e um "gesto mútuo devido à imensa felicidade de vencer um Mundial". Hermoso mais tarde desmentiu ter redigido esta resposta.
E eis que, quando, perante uma mensagem forte, à qual se haviam juntado várias jogadoras e clubes, numa conferência de imprensa, Luis Rubiales surpreendeu ao exclamar repetidamente que não se iria demitir, recebendo aplausos do seu auditório, onde se incluíam os selecionadores das equipas masculinas e femininas Luis de la Fuente e Jorge Vilda. Adicionalmente, culpou o "falso feminismo" pelas críticas que estava a receber, mostrou-se intransigente e afirmou que o beijo havia sido "espontâneo, mútuo e consentido".
Acrescente-se que, posteriormente, a RFEF publicou uma série de imagens para defender Rubiales e comprovar a sua posição de que foi Hermoso quem levantou Rubiales nessa mesma cerimónia.
Hermoso não desarmou e lançou um comunicado, em conjunto com a FUTPro, expressando a "condenação de comportamentos que violam a dignidade das mulheres", pedindo à RFEF para "acionar os protocolos necessários para assegurar os direitos das jogadoras" e "tomar medidas exemplares", fazendo ainda um repto ao Conselho Superior de Desportos para que "apoie e promova a prevenção e intervenção contra o assédio e abuso sexual e/ou o sexismo".
INIMIGO PÚBLICO N.º1
Esta foi a gota de água. O momento que fez perceber que nenhuma das partes iria recuar um só centímetro nas suas pretensões. Perante a mensagem de Rubiales, todas as jogadoras campeãs mundiais por Espanha renunciaram de imediato à seleção, tal como 58 outras atletas e onze membros da equipa técnica, entre os quais não está incluído Jorge Vilda. Inclusive, até Borja Iglesias, jogador da seleção masculina espanhola, juntou-se ao movimento, dizendo que não irá jogar enquanto Rubiales se mantiver como presidente.
As mensagens de repúdio a Rubiales tornaram-se aqui demasiadas para as descrever de forma integral. Alexia Putellas, estrela do Barcelona e da seleção espanhola, escreveu: "Isto é inaceitável. Acabou. Contigo, companheira, Jenni". Aitana Bonmatí afirmou: "Há limites que não se podem cruzar e isto não podemos tolerar. Estamos contigo, companheira". De Portugal também saíram múltiplas mensagens de solidariedade. "É de loucos. Inaceitável", frisou Jéssica Silva na rede social X (ex-Twitter), com Tatiana Pinto, também ela internacional portuguesa, a sublinhar: "Não é falso feminismo. É um discurso vergonhoso de Rubiales! Pior? Os aplausos de toda uma sala".
Do lado masculino do desporto-rei, advieram igualmente diversas mensagens que têm como alvo Rubiales. Xavi, atual treinador do Barcelona, disse que Jenni Hermoso tem o seu "apoio incondicional", acrescentando "condenar a conduta inaceitável do presidente da RFEF". Os ex-jogadores Andrés Iniesta e Iker Casillas, os internacionais espanhóis David de Gea, Hector Bellerín e o treinador do Villarreal, Quique Setién, tal como os clubes Real Madrid, Barcelona, Sevilha, Celta, Valência e Espanhol e o presidente da liga espanhola, Javier Tebas, fizeram parte do "tsunami" de críticas a Rubiales.
O caso teve também repercussão política, com Pedro Sánchez, primeiro-ministro, Maria Jesús Montero, ministra das Finanças e Função Pública, Irene Montero, ministra da Igualdade, e Yolanda Díaz, ministra do Trabalho a intervirem com palavras duras com o natural de Las Palmas como alvo. Estas intervenções por parte de membros do executivo espanhol levou a que se criasse uma fricção na sociedade espanhola: segundo uma sondagem da Sigma Dos para o 'El Mundo', 71,1% dos inquiridos pedia a demissão de Rubiales, mas, escrutinando a amostra pela cor política, denota-se uma diferença importante: 90,1% dos eleitores do Sumar, plataforma eleitoral de esquerda, posicionaram-se contra Rubiales, contra apenas 55,2% dos do Vox, o partido mais à direita do parlamento espanhol.
Na sequência destes acontecimentos, a FIFA suspendeu provisoriamente Rubiales por 90 dias e a realidade é que a margem se tornou muito curta para o dirigente, que cada vez mais perde apoiantes: até o selecionador Jorge Vilda, durante vários anos protegido por Rubiales, parece ter mudado a sua opinião, desde as suas polémicas palmas, e disse que a vitória de Espanha ficou manchada pelo seu "comportamento inapropriado". Caso a demissão se efetive, Rubiales corre o risco de perder a remuneração de quase mil euros que aufere por ano, tal como as regalias adjacentes ao cargo, como telemóvel, carro e motorista, por ser presidente da RFEF e os mais de 200 mil euros por ano relativos às funções de vice-presidente e membro do Comité Executivo da UEFA.
Num outro ‘twist’ bizarro, na manhã desta segunda-feira, a mãe de Rubiales fechou-se numa Igreja em greve de fome, pedindo que a "perseguição desumana" feita ao seu filho terminasse e que Hermoso "diga a verdade". No mesmo dia, a 'Onda Cero' revelou que a RFEF teria pedido à UEFA que suspendesse a própria federação por interferência governamental, por numa decisão que colocou, por exemplo, em risco a participação do Real Madrid e do Barcelona na Liga dos Campeões, mas que acabou por ser recusada pela confederação europeia.
Mais tarde, e após uma reunião interna, os próprios presidentes das federações regionais e territoriais da RFEF pediram a Rubiales que renunciasse ao cargo, situação que ganhou ainda mais força quando novas imagens desmentiam a versão da federação espanhola, que dizia que Hermoso tinha levantado Rubiales antes do polémico beijo, com centenas de pessoas a encher a Plaza del Callao, em Madrid, em protesto contra Rubiales e Vilda, recorrendo ao mote "Se Acabó" ["Acabou-se"] num momento que ilustrava o ponto de não retorno no que toca à contestação de que é alvo a dupla de protagonistas desta controvérsia.Ou pelo menos assim parecia... até Rubiales ter recebido uma preciosa "ajuda" de um vídeo divulgado nesta terça-feira por Alvise Pérez, polémica personalidade associada à extrema-direita. Nas imagens, que farão parte da defesa oficial de Rubiales, é possível ver Jennifer Hermoso, de garrafa de espumante na mão, a rir-se do incidente do beijo, enquanto mostrava uma montagem que o compara àquele entre Iker Casillas e Sara Carbonero, na "flash interview" que se seguiu à final do Mundial de 2010, e as colegas de equipa clamam por uma repetição do beijo, na presença do presidente da RFEF.
Defensores de Jennifer Hermoso relembraram as suas palavras no supramencionado comunicado, particularmente a passagem que refere - "A situação chocou-me dadas as celebrações que aconteciam no momento. Com a passagem do tempo, e após aprofundar mais aqueles sentimentos iniciais, senti a necessidade de denunciar este incidente" - mas inegavelmente é uma revelação que irá agitar as águas e fraturar o público espanhol em relação a esta polémica.
No meio de tudo isto, nada impediu que as campeãs mundiais festejassem a conquista mundial em Ibiza, apoiadas por centenas de adeptos que estavam presentes na ilha. Por conhecer está ainda o desfecho deste cenário de contornos sensíveis, que poderá ter ecos ao longo dos próximos anos e poderá afetar diretamente Portugal, já que foi precisamente com Espanha, Marrocos e Ucrânia (cuja participação permanece em estado desconhecido), e as respetivas federações, que o nosso país gizou uma candidatura ao Mundial de futebol masculino de 2030.