As novas modas do sexo: do perfume de Anitta para a vagina ao 'skincare' íntimo e tendências sensuais que aquecem as redes sociais
Há um curioso mundo novo que coloca o que temos de mais íntimo na guerra entre o marketing da vergonha e a nova libertação sexual e esta semana tudo culminou com a batalha da "vabbing" contra o perfume de Anitta. Sabe o que é 'vabbing'? Ah pois.... nós explicamos. Prepare-se e entre nesta viagem da procura do prazer.
Há qualquer coisa sobre o cheiro da vagina que está a dividir opiniões e a criar tendências que estão a mover milhões de pessoas. De um lado, o cheiro mais íntimo da mulher surge ligado a fenómenos nada científicos mas que juram atrair parceiros sexuais; do outro lado, há quem queira mascarar os cheiros naturais com aromas de baunilha, chocolate ou morango. Os especialistas não parecem gostar muito nem de uma técnica nem de outra e toda a gente defende que é tudo pela libertação sexual.
Em primeiro lugar, falar em vagina aqui não é totalmente rigoroso. Muito do que vai se falar está relacionado com a vulva, a zona externa da vagina mas que não é normalmente reconhecida como tal. A genitália feminina há muito que é motivo para as marcas apostarem em produtos de bem-estar, mas este mês dois fenómenos estão frente a frente na Internet. O movimento a favor de "vabbing", no Tik Tok, e o novo perfume íntimo da cantora Anitta. Dois opostos sobre o mesmo tema.
"Vabbing" é mais uma das modas bizarras das redes sociais. Esta consiste em usar o fluido vaginal como perfume em várias partes do corpo para supostamente ativar feromonas e atrair parceiros sexuais. Nota: não há comprovação científica de que os seres humanos tenham feromonas como outros animais, mas a ciência tem pouca influência nesta tendência. De acordo com um relatório divulgado pelo 'Independent', a prática já atraiu 13 milhões de curiosos aos vídeos do Tik Tok, além da publicação de milhares de vídeos com testemunhos de quem testou o 'perfume' e jura ter tido sucesso.
"Houve vários estudos para testar a correlação entre a ação das feromonas e a excitação ou atração sexual. Com isto como base, ainda não podemos confirmar como ou mesmo se as feromonas 'funcionam' em humanos e afetam as nossas escolhas de parceiros. As evidências são insuficientes. ‘Vabbing’ fica portanto apenas com a função de desempenhar o papel de autoconfiança, que na verdade pode ser um afrodisíaco enorme", explicou a psicóloga Barbara Santini à ‘Glamour’ britânica.
Se há quem use os fluidos no seu modo mais... ‘artesanal’, também há quem prefira os perfumes e desodorizantes que imitam o cheiro, como o Vulva, lançado em 2016 pela marca Vivareos Special Products. E quem não se lembra da famosa vela de Gwyneth Paltrow "This Smells Like My Vagina" (isto cheira como a minha vagina), lançada pela Goop?
Como outros produtos da atriz, a vela também está envolvida em polémicas e algumas acusações, por supostamente explodir e incendiar-se quando fica acesa por mais de três horas. Uma das vítimas, um homem do Texas, pede uma indemnização de cinco milhões de dólares à atriz e empresária, mas a empresa respondeu que se trata de uma "alegação frívola e uma tentativa de garantir um pagamento descomunal de um produto muito divulgado na imprensa". Este ano, outra vela com cheiro da vagina de Gwyneth explodiu, desta vez na casa de uma jornalista britânica.
"A PEPECA DE MILHÕES"
No sentido oposto, Anitta, de 29 anos, está a dar que falar pelo lançamento do seu novo produto, o perfume de pepeca, como a cantora chama, o Puzzy. Mas calma, esta fragrância não é só para as mulheres. A artista brasileira lançou o perfume íntimo para todo o público interessado em alterar o cheirinho das "partes baixas", uma rotina que ela quer que seja igual à do uso do desodorizante. "Chega de tanta gente lucrar e ganhar palco através do meu 'polemicú'", escreveu a cantora no Twitter, numa referência às várias polémicas com o seu 'bumbum'. "Chegou a minha hora. Em breve, o meu perfume íntimo [estará] à venda nesse Brasil todo. A pepeka de milhões, o piu piu de milhões, as bolas de milhões, o 'polemicú' de milhões. Cheiroso para o resto da vida".
O marketing do produto é todo voltado à estreia deste tipo de perfumes no mercado brasileiro, embora as fragrâncias para a genitália já sejam vendidas no Brasil há vários anos, seja em ‘sex shops’ ou mesmo produtos artesanais comercializados de porta em porta. Foi assim inclusive que Anitta se tornou consumidora há cinco anos.
A descrição "perfume de pepeca" veio da primeira fragrância que uma amiga de Anitta, Marcella Malísia, criou. A empresária fazia as vendas aos amigos mais próximos, que passavam a palavra, e nos últimos meses levou o perfume para lojas online em todo o mundo. Anitta confessou em 2020 usar o perfume íntimo regularmente mas foi só no ano passado que levou a ideia para a farmacêutica Cimed, que deu outra dimensão ao que a amiga da cantora tinha criado. A farmacêutica espera ter um lucro de 40 milhões de reais (7,6 milhões de euros, no câmbio atual) com o perfume, segundo o 'Meio e Mensagem'.
O Puzzy tem garantias de que é dermatologicamente e ginecologicamente testado, 100% livre de álcool, hipoalergénico e sem parabenos ou a cantora não arriscaria colocar o seu nome. Mas afinal como se usa? Anitta e a sócia sublinharam esta semana numa entrevista no 'Pod Delas' que o perfume não deve ser posto no canal vaginal, no caso das mulheres. Regra geral, o produto foi pensado para ser usado sobre as cuecas, na virilha e no bumbum.
A dermatologista Mayara Nascimento explicou ao portal da 'GShow', da Globo, que "um produto de qualidade" para aquele mercado precisa "ser aprovado pela [reguladora] Anvisa, não pode ter álcool em sua composição de jeito nenhum, e tem que ser dermatologicamente e ginecologicamente testado." Check! Mas fica a questão sobre a normalização da transpiração e dos odores. "A minha preocupação em relação ao produto é a questão da aceitação. Como se a gente fosse contra um odor que é natural", argumentou.
O ginecologista Bruno Dourado vai mais longe. "O odor é importante e não deve ser inibido. Temos que entender que vagina tem que ter cheiro de vagina, não cheiro de perfume."
Na Europa também é possível encontrar produtos semelhantes em 'sex shops', mas os mais comuns são os desodorizantes e sabonetes com cheiros que duram algumas horas, a maioria voltada para as mulheres. Mas há sinais de que os produtos para os homens estão a chegar para ficar, como os sprays da Multivitamin e os géis da marca Below the Belt, pensados para manter os testículos secos.
AGORA A MODA É O 'SKINCARE' ÍNTIMO
O que também está a ganhar terreno são os produtos de skincare íntimos para mulheres, como óleos, cremes hidratantes, máscaras, tónicos, séruns e iluminadores, que são publicitados muitas vezes com a hashtag "love your vulva more" (ama mais a tua vulva). Este marketing não passa, claro, sem críticas.
"A sugestão tácita de que não estamos a amar-nos o suficiente a menos que gastemos o dinheiro para tentar dar às nossas vulvas o tom e a luminosidade de uma maçã do rosto é, certamente, um fenómeno digno de grande preocupação", lê-se numa análise do 'Guardian' sobre o "marketing da vergonha genital feminina". Nos tratamentos mais avançados, há clínicas de estética a oferecer limpezas de pele que melhoram o efeito da depilação e evita pelos encravados.
Para quem procura tratamentos mais naturais, há tendências a chamar atenção, como o bronze do períneo, que consiste em levantar as pernas abertas ao sol para uma energia extra, e a vaporização vaginal, que obriga as mulheres a ficarem sentadas a receber o vapor de uma infusão feita com água morna e ervas, manias que prometem uma série de benefícios sem comprovação científica.