"Está na altura de começar a tirar as máscaras". Pedro Simas, o virologista mais famoso da "guerra anti-covid", explica por que razão temos de desconfinar rapidamente
Tem sido o grande observador do coronavírus e uma dos rostos em que Portugal confia nesta luta contra a pandemia. Um ano e meio após o início da "guerra", o virologista Pedro Simas garante que "estamos numa fase terminal da pandemia" e que as vacinas estão a cumprir a sua função: salvar vidas. Com um discurso de esperança, alerta para a necessidade de desconfinar e preparar a sociedade para o que aí vem.
Pedro Simas. Um dos nomes mais ouvidos no último ano e meio em Portugal. É investigador cientifico, professor universitário e virologista e, em plena pandemia, uma das vozes mais respeitadas entre os portugueses que, sempre que se sentavam para o ouvir, ansiavam por uma mensagem de esperança.
Esse dia chegou. Depois de meses de luta contra o coronavírus, Pedro Simas acredita que, com moderação, podemos estar a chegar ao fim de um período infernal. "A forma como leio os dados diz-me que estamos numa fase terminal da pandemia pré-endémica, porque temos mais de 70% da população vacinada, mais de 62% de pessoas com vacinação completa. E sabemos que as vacinas são seguras, eficientes e salvam vidas", começa por explicar à FLASH!.
Contudo, há algo que todos temos que nos mentalizar: "Este vírus não vai desaparecer da nossa vida." Porém, estão criadas as condições para que, com moderação, as pessoas comecem a deixar para trás as máscaras. "É muito importante continuar a vacinar mas já é altura de desconfinar, de começar a tirar as máscaras."
E É SEGURO USAR MÁSCARAS? DEVEMOS FAZÊ-LO? PORQUÊ?
Pedro Simas explica detalhadamente os motivos pelos quais podemos e devemos começar a deixar este acessório que se tornou indispensável às nossas vidas. "Temos um plano de desconfinamento vinculado à percentagem de vacinação - só quando tivermos 85% da vacinação é que vamos retirar as restrições – mas não creio que o número de infeções na população vá baixar muito para além do que vemos hoje, com 70% da população vacinada."
É exatamente por estes motivos que o virologista afirma que "neste momento era muito importante começar a aliviar o uso da máscara e a desconfinar, usando os índices de hospitalizações, nomeadamente em Cuidados Intensivos, como guia. Infelizmente vão sempre morrer algumas pessoas com esta infeção, mas em muito menor número do que antes de vacinarmos os grupos de risco." Se podemos dar este "grito de liberdade", tudo acontece devido à vacinação individual, que nos protege quanto à "infeção severa e a morte".
"Neste momento é muito importante desconfinar não estando ligado à taxa de vacinação" QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DO USO DA MÁSCARA A LONGO PRAZO?
Pedro Simas acredita que o uso de máscara prolongado pode ter consequências, principalmente no que diz respeito a outros vírus respiratórios: "Há uma grande preocupação, porque com o uso das máscaras interrompemos o ciclo natural dos outros vírus respiratórios durante quase dois anos. Isto significa que a imunidade para estes vírus baixou e que devemos eliminar o uso da máscara para restabelecer o seu equilíbrio na populaçã; possivelmente com a exceção de algumas pessoas de alto risco."
"A máscara tem que ser retirada na maior parte da população para restabelecer o equilíbrio normal de outros vírus respiratórios e não ao contrário"
No que diz respeito ao SARS-CoV-2, o virologista acredita que, no próximo inverno, "não vai haver problema maior em termos de hospitalizações e mortes". Porém, antevê que "temos que estar preparados para aceitar que o vírus vai continuar a circular, vai causar infeções, vai causar constipações, e as recomendações deviam ser as mesmas que para os outros vírus respiratórios endémicos. Não deveríamos manter as medidas anteriores em que, perante um surto, se fecharam escolas e mandaram as pessoas para casa de quarentena".
VACINAÇÃO: O MELHOR SALVA-VIDAS
Confiante na eficiência das vacinas, Pedro Simas garante que estas estão a cumprir o objetivo. "A eficiência das vacinas está em salvar vidas e em mitigar a disseminação do vírus de uma forma exponencial e, portanto, o que verificamos é que as vacinas são extremamente eficazes a proteger a vida humana, contra a infeção severa e a morte."
O investigador explica também que este era a principal meta a atingir: travar as mortes e, por isso, "a primeira etapa foi vacinar os grupos de risco". "Criámos essa imunidade e depois criámos uma imunidade na restante população para parar a disseminação exponencial do vírus na comunidade, para acabar com a pandemia. Esta é a chamada imunidade de grupo, mas háuma grande confusão à volta desse termo..."
"Este vírus não vai desaparecer da nossa vida"
AFINAL O QUE É A IMUNIDADE DE GRUPO?
Muito se tem discutido sobre o que é realmente a imunidade de grupo e se vamos ou não atingi-la com a a vacinação. Pedro Simas explica que "há um conceito de imunidade de grupo que é aplicado originalmente a vírus como o do sarampo no qual, por exemplo, se 95% da população estiver vacinada, o vírus deixa de circular. Mas isso é específico para vírus que, após a infeção, as pessoas ficam imunizadas para o resto da vida. É o caso do sarampo, mas também da rubéola e da papeira. A vacinação para estas doenças também confere esse tipo de imunidade, para a vida: chama-se imunidade estéril".
Mas o SARS-CoV-2 é diferente. "Essa imunidade para o coronavírus nunca vai existir porque as vacinas são extremamente eficientes a proteger a vida humana e fazem a diferença entre as pessoas terem uma infeção que as leva à morte ou uma mera constipação através da imunidade celular e dos anticorpos, mas depois não são muito eficientes a prevenir a infeção. Ou seja, estes vírus vão continuar sempre a circular entre a população, com uma taxa de infeção muito menor. Por isso é que há algumas pessoas que dizem que nunca se vai atingir a imunidade de grupo."