“Eu canto a realidade das pessoas" A incrível história de Marília Mendonça, a cantora que morreu de forma trágica e que deu voz às mulheres de verdade
Há uma relação entre a realidade da vida das mulheres e o sofrimento que Marília Mendonça conseguiu levar para as letras das suas canções e que as transformaram num fenómeno em 7 anos. Conheça a história da cantora de 26 anos que morreu num trágico acidente de avião.
Perguntaram a Marília Mendonça qual a razão da sua "ascensão tão rápida" e ela atribuiu o sucesso "à verdade" das suas músicas. "As pessoas se identificam com o que eu canto. Não são histórias maquiadas [maquilhadas], elas realmente acontecem com muita gente", afirmou ao 'G1'. Assim, tão simples. A verdade era a maior estratégia da cantora e compositora brasileira, conhecida como "maquininha" de hits.
A RAINHA DA 'SOFRÊNCIA' OU A VIDA COMO ELA É
De facto, Marília chegou ao gigantesco mercado da música sertaneja ao vender a primeira canção aos 16 anos, 'Minha Herança', que escreveu aos 12. Mais tarde, a cantora revelou que a composição surgiu quando foi traída pela primeira vez. A trabalhar como compositora desde 2011, Marília lançou o primeiro EP em 2014. A partir daí foram cerca de 25 concertos por mês. Só a pandemia obrigou a cantora a parar – por pouco, até descobrir o poder das 'lives'.
Na voz de Marília as mulheres traídas, as traidoras, as que viram copos, as que precisam de um conselho de amiga e as prostitutas ganharam palco. "Eu canto a realidade das pessoas, que não é das melhores. A gente sofre mesmo", disse no talk show 'The Noite', de Danilo Gentili.
Sobre este sofrimento, que lhe valeu o título de "rainha da sofrência", a cantora afirmou este ano, numa das últimas entrevistas com Léo Dias, que era a fonte da "arte autêntica". "A tristeza te leva muito mais à reflexão do que a felicidade. A felicidade é um estado de euforia e você não consegue refletir".
O resultado está nos recordes. No final do ano passado, o YouTube revelou que a 'live' de Marília de 8 de abril teve a maior audiência mundial do ano, com mais de 3,31 milhões de visualizações em simultâneo, ultrapassando o fenómeno K-Pop BTS (Bangtan Boys). Todos os seus vídeos somam 14 mil milhões de visualizações, número que a coloca na 13ª posição no ranking mundial.
A última homenagem que a cantora viu foi a de Caetano Veloso. Na música 'Sem Samba Não Dá', do novo disco 'Meu Coco', o cantor baiano cita o nome de vários artistas brasileiros. Marília surge duas vezes, numa das quais como "Mar(av)ília Mendonça".
O último álbum da cantora foi 'Patroas 35%', em parceria com a dupla Maiara e Maraisa, suas amigas de longa data, com quem começou a carreira de compositora. O trio já tinha uma indicação ao Grammy Latino deste ano e uma digressão marcada para 2022. Ainda este mês de novembro, Marília vinha a Portugal para três concertos agendados ainda para este mês.
A morte da cantora de 26 anos no dia 5 de novembro, na sequência da queda do avião onde seguia com outras quatro pessoas, deixou um vazio na música brasileira. Como a própria Marília disse no 'Lady Night Show', de Tatá Werneck, o fenómeno que ela liderava demorou muito para encontrar o seu lugar. "A gente não sabia ainda o que dizer para conquistar as mulheres. Não ser aquela boneca em cima do palco, falar mesmo o que tem para falar, não se comportar igual à 'bela, recatada e do lar'".
Marília era mãe há menos de dois anos.