Já não há fuga possível para Frederico, o príncipe que nunca quis ser rei
É já no domingo, 14 de janeiro, que a Dinamarca terá um novo monarca após a surpreendente abdicação da rainha Margarida II que esteve 52 anos no trono. O filho mais velho sucede-lhe, mas essa nunca foi a sua ambição. Ao contrário do irmão mais novo, Joachim, esse, sim, com sede de protagonismo e poder.
Não se sabe se o recente escândalo em que o príncipe Frederico se viu envolvido – foi apanhado a passear pelas ruas de Madrid com Genoveva Casanova, ex-mulher de um respeitado aristocrata espanhol, Cayetano Martínez de Irujo, filho da inesquecível duquesa de Alba – precipitou a abdicação da rainha Margarida, a soberana que esteve 52 anos no trono do país danês, ou se tudo isto não passou de pura coincidência. Só que não se pode deixar de fazer esta correlação, já que tanto o suposto "affair" do príncipe como a decisão da monarca acabaram por assumir a imagem de uma "causa – efeito".
São apontadas muitas razões para que Margarida II tenha decidido retirar-se. Cansaço, vontade de viver os últimos anos da sua vida sem a imensa responsabilidade que sempre pendeu sobre os seus ombros ou não querer para o filho o destino que teve Carlos da Inglaterra ao ser obrigado a esperar mais 70 anos para subir ao trono. Tudo motivos plausíveis para abdicar, é certo. Só que há quem acredite que a rainha o fez para "castigar" Frederico, ele que nunca mostrou vontade em ser rei.
VIDA DE 'BON VIVANT' QUE TANTO AGRADAVA AO PRÍNCIPE
Ao príncipe sempre lhe agradou ter um papel secundário. Estar na retaguarda. Ter todas as benesses de ser um privilegiado e ter nascido em berço de ouro, enquanto o grosso do trabalho e as responsabilidades recaíam todos para o lado da rainha. Tinha consciência de que sendo o primogénito, um dia seria rei. Só que Frederico preferia que esse desígnio do destino se concretizasse o mais tarde possível. Aos 55 anos considera que ainda é cedo para suceder à mãe. Só que ela decidiu e está decidido.
E terá decidido para lhe dar finalmente as obrigações para as quais estava predestinado. Margarida terá considerado que estava na altura de o filho "crescer". Determinou que tinha chegado a hora de acabar com a vida de ‘don juan’ que Frederico levava e que poderiam vir a dar grandes dores de cabeça e fazer imensa mossa na monarquia. Ao que parece, pôs os interesses da Dinamarca acima da vontade do príncipe herdeiro e, ao mesmo tempo, deu-lhe uma imensa lição.
SER REI? IDEIA "INTIMIDATÓRIA, OBSCURA, SOMBRIA"
Frederico não escondeu a falta de vontade em assumir o trono. Num documentário emitido pelo seu 50º aniversário o primogénito da rainha da Dinamarca admitiu que era ainda muito menino quando percebeu o que o esperava e que essa tomada de consciência não foi boa: "Vi a minha vida apagar-se e que dali em diante tinha de me comportar como um adulto. Foi muito incómodo. Sobretudo, porque não havia muitas pessoas que pudessem explicar-me o que isso significa", disse o príncipe sem usar qualquer tipo de reservas. Admitiu também que a ideia de ser rei se lhe afigurava como "grande, intimidatória, obscura, sombria e desagradável".
Talvez fosse essa sua dificuldade – para não dizer incapacidade – em assumir o papel que lhe estava reservado pelo nascimento que fizeram com que Frederico se visse envolvido em diversos escândalos de juventude. Chegou mesmo a estar envolvido num imenso escarcéu mediático ao ter sido abordado pela polícia por conduzir em excesso de velocidade e com uma taxa de álcool acima do permitido.
Foram muitos os que pediram que Frederico prescindisse dos seus direitos dinásticos em favor do irmão mais novo, Joachim, que perante essa possibilidade ainda esfregou as mãos de contente, pois ele sim teve outras ambições. Tudo menos ficar na sombra de Frederico. Só que a rainha mostrou ser uma mulher de pulso. Geriu bem esta crise familiar e enviou o filho para estudar na universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Uma decisão que fez acalmar os ânimos e que reconciliou os súbditos com o príncipe herdeiro.
RESIGNADO E PREPARADO
Uma reconciliação que foi total quando Frederico que se casou com a bonita e elegante Mary Donaldson, uma encantadora advogada australiana. No dia do casamento, os dinamarqueses em particular e o mundo em geral emocionaram-se com as lágrimas que assomaram aos olhos do noivo enquanto aguardava pela sua amada. Hoje, o casal real tem quatro filhos: Christian, o primogénito de 18 anos, Isabella, de 16, e os gémeos Josephine e Vincent, de 12.
Agora, queira ou não, Frederico já não tem escapatória: será o próximo rei da Dinamarca. A ascensão ao trono está agendada para as 14 h do próximo domingo no Palácio de Christianborg, em Copenhaga. Esta data encerra em si uma curiosidade histórica: no próximo dia 14 de janeiro cumprem-se 52 anos que Margarida subiu ao trono e 52 anos que faleceu o seu pai (avô do novo rei), Frederico IX. Outrora avesso à exposição pública, Frederico X é hoje um homem preparado para assumir as suas funções como rei da Dinamarca, Gronelândia e das Ilhas Faroé.