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THE MAG - THE WEEKLY MAGAZINE BY FLASH!

O preço do sucesso. Gisela João lembra o que passou quando se tornou conhecida de forma meteórica: “No supermercado, as pessoas olhavam para aquilo que comprava”

Quando lançou o disco de estreia, em 2013, fadista não estava preparada para se ver no centro das atenções. Uma década depois, celebra agora, com dois concertos, em Lisboa e Porto, o disco que mudou a sua vida.
Por Miguel Azevedo | 18 de janeiro de 2024 às 22:18
Gisela João Flash
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Ainda Gisela João era uma criança de oito anos, a viver na sua terra natal, em Barcelos, e já se vestia de Amália Rodrigues. Tendo crescido numa casa onde as dificuldades não permitiam ir a concertos ou comprar discos, foi no rádio que começou a ouvir a diva do fado enquanto ajudava nas lides domésticas e tomava conta dos seis irmãos. "Eu era a mais velha e tinha que ser um exemplo para todos eles", recorda. Os versos do fado ‘Que Deus me Perdoe’ cantados por Amália, ainda hoje parecem ter sido escritos de propósito para contar a história dos seus primeiros anos de vida, como uma Cinderela do fado. "Se minha alma fechada pudesse mostrar /E o que eu sofro calada pudesse contar /Todas as pessoas veriam a desgraçada que sou /Quando finjo alegrias e quando choro cantando". 

Motivada pelo gosto que vinha da infância, quando brincava de "fazer roupinhas" com os trapos que a mãe lhe trazia da fábrica, acabou por mudar-se para Porto para estudar design de moda. Foi por lá que "se tornou mulher", como gosta de dizer, e que começou a formar-se verdadeiramente como fadista (viveu seis anos na cidade invicta). "Estava sozinha e tive de começar a trabalhar e a ter a responsabilidade de pagar as minhas contas e isso deixou-me uma marca gigante. Quando vou ao Porto, mal entro na ponte já as lágrimas me estão a correr pela cara", diz.

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Veio depois para Lisboa, pela mão de Maria de Fé. Pela capital abraçou o projeto Atlanthida, que colocava o fado e o tango de mãos dadas, mas não levou muito a iniciar a sua carreira a solo. O disco homónimo, lançado em 2013, foi um marco na história recente da música portuguesa e uma pedrada no charco na área do fado. O álbum é agora celebrado, dez anos depois, com dois concertos, este sábado no espaço 8 Marvila, em Lisboa e no dia 27 no Museu do Carro Elétrico, no Porto.  

Gisela João já tinha andado pelo Sr.Vinho (casa de fados de Maria da Fé), já tinha passado por salas como o Frágil, o Lux, o CCB ou o Teatro do Bairro e o seu nome já começava a ser falado, quando lançou o disco de estreia, um álbum contra-corrente que até oferecia uma nova versão de 'Casa da Mariquinhas', então com letra da raper do Porto, Capicua. O disco transpirava, no entanto, todo ele, fado tradicional. A voz de Gisela revelava dor pura mas modernidade ao mesmo tempo. Era respeitadora por um lado e irreverente por outro. "Para mim fado é isto. Não sei explicá-lo, mas sei que o sinto na minha pele", dizia. Camané apressou-se a elegê-la como a grande aposta musical para 2013. "Aquele disco mudou a minha vida. Foi transgressor, porque a corrente, na altura, ia noutro sentido e eu apareci com fado tradicional. Isso fez toda a diferença", justifica.   

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Mais do que assinalar os dez anos de carreira, Gisela João garante que os dois espetáculos de Lisboa e Porto serão uma festa que envolverá todos aqueles que a forem ver. "Apetece-me cantar e dançar com as pessoas". Em palco estará uma cantora que já "ganhou Mundo", muito mais "experiente e conhecedora", mas que não esquece a "menina", com 29 anos, que quando começou nestas lides vivia há pouco tempo na cidade grande. "Não sabia nada sobre este meio, não fazia ideia do que era sair em digressão, não sabia o que era um road manager e muito menos que tinha que pensar as luzes de um concerto. Não sabia nada", recorda Gisela admitindo que teve dificuldade em lidar com os primeiros anos de sucesso, quando subitamente se viu no centro das atenções. "Eu não sabia o que estava a acontecer-me. Sinto mesmo que durante muitos, anos, talvez até 2017, a vida andou-me a viver a mim. Não fui eu que andei a viver a vida (risos)". 

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gisela joao Foto: Instagram
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Hoje não é difícil olhar para trás, mas quando o sucesso a apanhou de surpresa não foi fácil ser a nova Gisela João. Alguns comparavam-na a Amália, outros chamavam-lhe a fadista mais promissora do século XXI. O tempo começou a ser tão escasso que Gisela chegou a colocar alarmes para ligar aos amigos como forma de manter algum equilíbrio e não perder o norte. A exposição ameaçava engoli-la. "Depois de lançar o meu primeiro disco, dei por mim a ir ao supermercado com as pessoas a olharem para tudo aquilo que eu comprava, a verem se eu estava a rir ou a chorar. De repente as pessoas reparavam com quem é que eu estava a falar na mesa do café; entrava numa loja de discos e estava lá a minha cara; passava numa banca de revistas e estava lá o meu nome".      

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Dez anos depois, conquistou mais do que esperava, cresceu como artista e como pessoa, mas Gisela João admite não ter usufruído verdadeiramente de tudo o que de bom lhe aconteceu. "A minha melhor amiga dizia-me que quando eu fazia um grande concerto, quando saía um artigo no jornal sobre mim ou quando eu aparecia na televisão, nos dias seguintes andava meio deprimida. Ou seja, eu não conseguia aproveitar as minhas vitórias". Porquê? "Porque pensava logo no que tinha de fazer a seguir: Este está feito, e agora?", era assim que eu pensava. Não me estou a queixar, porque tenho tido uma carreira muito feliz, mas ao mesmo tempo é assustador perceber que as coisas boas que fiz aumentaram as expectativas nos outros". Com o tempo aprendeu, no entanto, a relativizar algumas coisas, "como não responder às pessoas que me atacam ou que são menos agradáveis. Acho que a vida se encarrega sempre de mostrar aos outros quem é que nós somos, muito mais do que um post de instagram ou facebook".

 

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