Paula Amorim já manda na Comporta e o cerco aperta para que este seja um destino só para "a nata da nata"
Preços proibitivos e novos 'spots' super exclusivos garantem que a Comporta já não está de portas abertas para receber todos os portugueses. Nos meses de verão, enche-se de americanos e daqueles que têm o 'sotaque certo', de preferência para os lados de Cascais. Saiba o que há de novo e como tudo está a mudar por ali.
São muitas vezes chamados os Hamptons portugueses, em alusão ao famoso retiro norte-americano frequentado apenas pelos poderosos e muito ricos. Em qualquer ponto do globo há um sítio assim, em que os preços são tão proibitivos que, apesar de não ter lá qualquer cancela, não está, de todo, acessível ao comum dos mortais. E a Comporta dos nossos dias é assim.
Até a tasca mais modesta (que já há poucas e quando fecham dão lugar a restaurantes de luxo) serve a preços de Estrela Michelin e os hotéis disponíveis são absolutamente proibitivos. Por exemplo, uma pesquisa rápida mostra que, para o próximo fim de semana, já não há praticamente disponível e o único que ainda se pode reservar no Booking ronda os 500 euros. Os novos sítios da moda - A Quinta da Comporta e o Sublime - estão com lotação mais do que esgotada.
Talvez a razão se prenda com o facto de muitos todos-poderosos quererem dar as boas-vindas àquela que já é considerada a nova rainha da Comporta, pela facilidade com que 'chegou, viu e venceu'. Trata-se de Paula Amorim, a mulher mais poderosa de Portugal, que, em conjunto com a família - herdeira do império deixado por Américo Amorim - detém uma fortuna de 4,17 mil milhões de euros.
A dona do grupo JNcQUOI decidiu expandir o seu império para o sítio onde toda a gente quer ser vista e abre este fim de semana o seu restaurante mesmo em cima da Praia do Pêgo - que obrigou à mudança de ares do icónico restaurante Sal - associado desde sempre à família Salgado - 'desterrando-o' para o Carvalhal.
Depois de há cerca de três anos ter adquirido com o marido, Miguel Guedes de Sousa, os ativos imobiliários do Fundo da Herdade da Comporta por 157,5 milhões de euros, num total de 1,380 hectares de terreno, as duas empresas colocaram um ponto final nesta aventura conjunta e separaram os negócios. Portanto, agora a solo a empresa de Paula Amorim prepara-se para fazer uma revolução total naquilo que se conhece na Comporta, com a construção de novas moradias e negócios lucrativos, que já estão em marcha.
No entanto, a chegada dos "novos reis" à Comporta já está a ser olhada de lado por algumas instituições, que questionam a forma como Paula Amorim e o marido se instalaram na Comporta, sendo acusados de não olhar a meios para atingir os fins. A Associação Dunas Livres, por exemplo, denunciou as obras que foram feitas, garantindo serem pouco respeitadoras do meio ambiente. "É a nova lei da Costa Azul: o luxo pode tudo", começam por apontar o dedo para de seguida acrescentar. "Foi dada uma licença para o restaurante de luxo do projeto de clube privado da Amorim Luxury, chamado 'JNcQUOI Comporta' nivelar o areal em frente para colocar um deck. Um deck que requer escavação de toneladas de areia da praia à frente da linha de maré cheia?", questiona o movimento que defende a preservação das dunas.
A associação alerta ainda para o perigo de o espaço estar a preparar um acesso exclusivo à praia que irá garantir aos seus associados que mais ninguém frequentará esse areal, transformando aquele pedaço de areia numa espécie de praia privativa, violando desta forma a lei.
AMERICANOS, LUXO E... O POVO DE FORA Na Comporta fala-se cada vez menos português - e o que se fala é com "sotaque de Cascais" - e também já houve mais espanhóis. Atualmente, são os americanos que mais ocupam esta zona do Alentejo, onde tudo tem selo de luxo. Os supermercados são gourmet, as garrafas de água no café mais simples vendidas ao preço do ouro e tudo tem uma espécie de taxa-extra que nunca conseguimos perceber porque pagamos - talvez para respirar o mesmo ar dos muito ricos.
Na Comporta fala-se cada vez menos português - e o que se fala é com "sotaque de Cascais" - e também já houve mais espanhóis. Atualmente, são os americanos que mais ocupam esta zona do Alentejo, onde tudo tem selo de luxo.
Os supermercados são gourmet, as garrafas de água no café mais simples vendidas ao preço do ouro e tudo tem uma espécie de taxa-extra que nunca conseguimos perceber porque pagamos - talvez para respirar o mesmo ar dos muito ricos.
Não é de estranhar que, por isso, que os poucos espaços que vaguem queiram ser preenchidos por cadeias do segmento de luxo, como aconteceu recentemente com a Fashion Clinic, uma conhecida loja da Avenida da Liberdade, conhecida por só ter marcas de alta-costura, e que já está de portas abertas no Carvalhal. E também o Praia abriu este ano por aquelas bandas a confirmar que estamos perante um segmento de luxo.
No fundo, a diferença em relação às praias um pouco mais abaixo no mapa é pouca ou nenhuma, mas é na Comporta que se sabem as novidades dos amigos endinheirados, que as famílias de bem se encontram ano após ano numa atmosfera cada vez mais elitista, e que afasta o 'povo' lá para os lados de Vila Nova de Milfontes.