Aos 40 anos, João Pereira tem a responsabilidade de ocupar o lugar deixado vago por Rúben Amorim no Sporting. É um novo ciclo para aquele a quem os colegas admitem que a idade trouxe a "calma e sabedoria" que muitas vezes lhe faltou fora do campo. Competitivo, rigoroso consigo e com os outros, não gosta de perder nem a feijões e sempre com (demasiada) emoção as conquistas e principalmente as injustiças dentro de campo.
Esse perfil ficou bem claro desde o início da sua carreira, que começou cedo. Aos nove anos, já jogava no Benfica - o seu clube de coração, com o futebol a dar-lhe uma disciplina a que facilmente podia ter fugido por ter crescido num dos bairros mais problemáticos de Lisboa, o Casal Ventoso.
"Cresci a dois passos do lugar onde nasceu João Pereira. Eu na Rua Correia Teles e ele num pátio um pouco mais abaixo, na Rua Maria Pia, a poucos metros da Meia Laranja, o lugar de fronteira onde passavam os desvalidos, os que se perdiam, os que desciam para o Casal Ventoso 'agarrados' à vida apenas pela obsessão da próxima dose de heroína", escreveu Luís Osório, jornalista e antigo diretor da 'Capital'.
Ainda assim, João Pereira manteve o foco naquilo que mais gostava de fazer e sabia que não podia afrouxar nos estudos, se quisesse continuar a dar uns toques na bola. "Ele era bom aluno [na Casa Pia], sabia que tinha de tirar boas notas para continuar a jogar. Chegou a não treinar uma semana por estar de castigo, e não foi por ter negativas, mas por ter tido uma positiva baixa", referiu à 'Sábado' Flávio Casal.
Não desiludiu os pais, Adelino Pedro e Fernanda, que se agarraram ao único filho, depois de terem perdido uma filha precocemente. Quem conhece João Pereira, diz que, apesar do mau feitio em campo, tem um coração de ouro, e ainda hoje mantém uma relação de grande cumplicidade com os pais a quem, revela a 'Sábado', o antigo atleta dá sempre a antiga casa quando se muda para uma nova.
Nas camadas jovens do Benfica torna-se grande amigo de Rúben Amorim, que mais tarde o viria a aconselhar para o Sporting, no momento em que a sua carreira como futebolista chegou ao fim.
"O João Pereira fora de campo é um paz de alma, dentro de campo é um mete nojo. Eu conheço o João Pereira desde miúdo. Eu zangava-me com João Pereira no campo de quase andarmos à porrada. Ele sai do campo e se for preciso espera por ti no túnel e diz: 'então mano, como é que estás?' Parece que tem dupla personalidade", já afirmou Rúben Amorim sobre o amigo.
Esse lado mais explosivo do craque tinha, todos admitem a ver tanto com a sua personalidade, como pela entrega. Era quase sempre o mais responsável do grupo, o que fez com que, quando jogasse no Braga, lhe tivesse sido entregue a pasta da contabilidade e de andar a cobrar multas aos colegas.
"Era um jogador irreverente, sempre muito agressivo, muito competitivo, muito metido no jogo. E fora do campo era uma pessoa demasiado exigente, com ele próprio e com os colegas. Basta ver que quando cheguei a Braga ele era o contabilista da caixa das multas dos jogadores", contou à 'Sábado' Domingos Paciência.
Ainda assim, o lado explosivo touxe-lhe alguns dissabores. Em 2021, o defesa não gostou de ter sido expulso contra o Tondela e não calou a sua revolta, insultando o árbitro assistente e o quarto árbitro. "Vão para o c..., vão se f...!", disse em alto e bom som, acabando por ser suspenso e multado por injúrias.
No entanto, assim que saía de campo e 'limpava' a cabeça já não era nada com ele. É, por isso, sempre muito estimado pelos colegas, que lhe atribuem um coração de ouro de um homem com os valores certos e que privilegia sempre a família.
CASADO SEGUNDO A TRADIÇÃO HINDU Se o futebol o levou a passar por vários clubes e a viver experiências fora de Portugal, na vida pessoal só tem olhos para uma mulher: Natacha Esmail. Os dois já namoravam há cerca de seis anos quando decidiram trocar alianças e fizeram-no em duas cerimónias distintas, e repletas de luxo: uma hindu, devido à origem da noiva, e outra católica. Têm dois filhos e, ao longo dos últimos anos, Natacha deixou praticamente tudo para acompanhar o craque. No entanto, quando decidiu que queria dar seguimento à carreira no futebol, enquanto treinador, o assunto gerou tensão em casa. "Fiquei chateada. O João dizia sempre que quando acabasse a carreira queria ser treinador, mas eu perguntava sempre: quando é que vamos assentar, ter bebés, ficar sempre no mesmo país...", contou a mulher do técnico, acrescentando que tinha planos para estabilizar quando João Pereira pendurasse as chuteiras... que foram por água abaixo. No entanto, mais tarde acabaria por dar razão ao marido, incentivando-o a na carreira. "Depois percebi que ele tinha muito potencial como treinador e que era um desperdício se ele não o fosse. E aí, foi ao contrário, comecei a dar-lhe livros de liderança, a incentivá-lo a fazer cursos de inglês", já partilhou Natacha, numa versão corroborada por João Pereira.
Os dois casamentos de João Pereira, que deu o nó segundo a tradição hindu e, de seguida, a católicaJoão Pereira"Levava grandes duras. Ela dizia: 'então e a minha vida, não vamos parar? E a escola dos miudos, vamos sempre andar de um lado para o outro? Depois as coisas foram passando, e eu disse-lhe que não vivia sem isto..."Hoje, Natacha é a sua apoiante número 1 e na apresentação de João Pereira como treinador fez questão de estar ao seu lado, sem esconder o orgulho que sente no que o companheiro já conquistou em tão pouco tempo.
CASADO SEGUNDO A TRADIÇÃO HINDU
Se o futebol o levou a passar por vários clubes e a viver experiências fora de Portugal, na vida pessoal só tem olhos para uma mulher: Natacha Esmail. Os dois já namoravam há cerca de seis anos quando decidiram trocar alianças e fizeram-no em duas cerimónias distintas, e repletas de luxo: uma hindu, devido à origem da noiva, e outra católica.
Têm dois filhos e, ao longo dos últimos anos, Natacha deixou praticamente tudo para acompanhar o craque.
No entanto, quando decidiu que queria dar seguimento à carreira no futebol, enquanto treinador, o assunto gerou tensão em casa.
"Fiquei chateada. O João dizia sempre que quando acabasse a carreira queria ser treinador, mas eu perguntava sempre: quando é que vamos assentar, ter bebés, ficar sempre no mesmo país...", contou a mulher do técnico, acrescentando que tinha planos para estabilizar quando João Pereira pendurasse as chuteiras... que foram por água abaixo. No entanto, mais tarde acabaria por dar razão ao marido, incentivando-o a na carreira. "Depois percebi que ele tinha muito potencial como treinador e que era um desperdício se ele não o fosse. E aí, foi ao contrário, comecei a dar-lhe livros de liderança, a incentivá-lo a fazer cursos de inglês", já partilhou Natacha, numa versão corroborada por João Pereira.
