
Com 86 anos de idade, o percurso de Tomás Taveira fica marcado pela polémica e pelo escândalo, que agora foi recordado pela mini-série da TVI que, sem ser biográfica, terá sido inspirada nos acontecimentos que marcaram Portugal no final da década de 1980. Como arquiteto, Taveira ficará para sempre lembrado como o autor das Torres das Amoreiras, que nessa mesma década revolucionou a paisagem de Lisboa e dividiu opiniões. Não obstante, no seu percurso profissional, chegou a ser apelidado de "papa" do pós-modernismo português.
No entanto, a vida de Tomás Taveira ficará para sempre recordada pela infame cassete VHS de 30 minutos. O escândalo rebentou em 1989, o ano da "desgraça", quando o arquiteto vivia o auge do sucesso e da fama – para além do trabalho de arquiteto, de professor universitário e dos negócios no imobiliário, era proprietário de discotecas como o Banana's, o Ad Lib ou o Twin’s, no Porto, e era habitual chegar de Rolls-Royce às festas mais badaladas onde era presença assídua na companhia da mulher, Amarílis. Era, nessa época, uma das figuras mais mediáticas. Essa gravação haveria de espalhar-se por Lisboa como rastilho de pólvora entre as elites e, ainda hoje, pode ser encontrada em sites pornográficos.
As gravações que continham encontros sexuais entre Tomás Taveira e várias mulheres, gravados à revelia das participantes pelo arquiteto, em 1987, no seu escritório da Avenida da República, com cenas de pornografia hardcore, num total desrespeito para com as parceiras de sexo ocasional, naquele que ficou conhecido como o "Caso Taveira", terão saído do controlo do arquiteto dois anos antes do escândalo.
A infame cassete terá desaparecido do seu gabinete – Taveira acreditava ter sido levada por uma amiga íntima – mas apenas um mês antes da reportagem do 'Expresso' de 14 de outubro de 1989, assinada por Joaquim Vieira, é que o arquiteto tomou consciência da gravidade do escândalo. Tomás Taveira foi avisado sobre os rumores que percorriam a capital sobre a existência de imagens íntimas suas.
“Cassete porno excita Lisboa”, tinha sido a manchete do semanário 'Tal&Qual', de 22 de setembro de 1989. “Um vídeo com as experiências sexuais de um famoso personagem da alta-roda lisboeta está a despertar a cobiça de meia-cidade. Gravado por uma câmara escondida no seu escritório, o filme fugiu-lhe das mãos e anda por aí. Todos querem tê-lo, mas é caro: o vendedor pede 20 mil contos. O Tal&Qual já o viu”, lia-se na primeira página do jornal.
O jornal, então dirigido por José Rocha Vieira, não comprou as imagens, mas publicou a história sem revelar a identidade do "famoso personagem". Como o 'Tal&Qual' não quis comprar as imagens, o vendedor dirigiu-se a um empresário associado a revistas de escândalos chamado André Gamboa Neves. Tomás Taveira ainda tentou evitar a publicação da revista 'Semana Ilustrada', propriedade do empresário, apelidado de "Larry Flint português", mas sem sucesso.
AS NEGOCIAÇÕES NO RITZ
Em entrevista ao 'Expresso', em 1989, André Neves conta que teve um almoço de negócios com Tomás Taveira no Banana's (discoteca de que o arquiteto era um dos proprietários), com os dois a gravarem a conversa. De acordo com o 'Diário de Notícias', voltariam a encontrar-se posteriormente no hotel Ritz, onde tentaram um acordo que chegou aos 36 mil contos (cerca de 180 mil euros aos valores atuais) sem resultado. As fotografias acabaram mesmo por sair para as bancas.
Inicialmente, Tomás Taveira terá tentado ludibriar os jornalistas, garantindo que não era ele quem se encontrava nas imagens. No entanto, no segundo encontro das negociações com André Gamboa Neves, no Ritz, já não tinha argumentos para negar que era ele o protagonista. André Gamboa Neves pede dinheiro para que as imagens não sejam tornadas públicas. Negoceiam a publicação de uma reportagem de oito páginas sobre a obra do arquiteto paga a preços milionários pelo próprio.
Tal como a FLASH! já tinha recordado anteriormente, Taveira propõe mil contos por página (cerca de cinco mil euros), ao que o Gamboa se atirou ao ar. "Comprei a cassete por 20 mil contos." "20 mil contos por aquela mer**?", respondeu Taveira, com base na gravação das conversas daquele encontro a que o 'Expresso' teria tido acesso. O diretor fixa então o preço em seis mil contos por página, mas o acordo não se concretizou e o resto é História.