A evolução das mentalidades, assim como a popularidade das redes sociais, levaram a uma verdadeira transformação naquela que é a compreensão dos conceitos relativos à orientação sexual, depois de, durante décadas, ter subsistido a tendência de tentar colocar todos num número minúsculo de caixas: heterossexual, homossexual ou bissexual.
Contudo, o reconhecimento de muitas outras formas de sexualidade conduziu a um repensar destes conceitos, inclusive a sigla LGBT transformou-se em LGBT+ ou até LGBTQIA+, algo que pode ter causado alguma confusão e até rejeição para quem não se encontrava familiarizado com estes termos e viu esta transição apenas como um capricho, mas que consegue abranger as mais diversas orientações sexuais, sem risco de exclusão.
Aqui, pretende-se desmistificar os termos mais e menos frequentes em relação à orientação sexual, um "guia" que se configura como importante numa altura em que cada vez mais pessoas sentem que existe um ambiente mais tolerante para tentar compreender a extensão e as características da própria sexualidade – ainda que, infelizmente, a discriminação e os comportamentos discriminatórios não estejam perto de desaparecer por completo.
Para além dos termos já amplamente utilizados no discurso popular, como heterossexualidade ou homossexualidade, outros termos têm ganhado terreno ou inclusive dado novas interpretações e conotações a conceitos já existentes. Ei-los:
PANSEXUALIDADE E BISSEXUALIDADE
No passado mês de março, numa entrevista ao podcast Joe Rogan Experience, a cantora Demi Lovato revelou-se pansexual – alguns anos antes, já a colega de profissão Janelle Monáe havia referido que se identificava com a pansexualidade.
Este conceito, através do prefixo grego -pan, que significa ‘tudo’ ou ‘inteiro’, transmite que o indivíduo sente atração sexual por equivalentes de todos os tipos de orientação sexual ou género, independentemente de como se identifiquem.
Mas então como difere este conceito do de bissexualidade? Ele surge quando membros da comunidade LGBT+ decidiram que o prefixo -bi, ‘dois’, não era totalmente rigoroso ou esclarecedor, porque, no seu entendimento, significa que apenas se reconhece a existência de dois géneros. Todavia, para outros, isto não corresponde totalmente à realidade e, por isso, assumem-no sem problema.
TRANGÉNERO OU TRANSEXUAL?
Tem sido cada vez maior a visibilidade dada a pessoas trans nos media tradicionais – como, por exemplo, a proeminência da atriz Laverne Cox, na série ‘Orange is the New Black’, ou a chegada à casa da edição portuguesa do ‘Big Brother’, do concorrente Lourenço Barcelos. Também por isso, a plataforma dada a esta comunidade tem crescido de forma significativa e com ela a chamada de atenção a esta distinção.
O termo transexual é originalmente um termo médico, e, na sua definição, é mais restrito que o termo transgénero, dado que implica a transição a nível sexual, através de cirurgia. Já o termo transgénero é adequado a qualquer pessoa que não se identifique com o género atribuído à nascença, incluindo, por exemplo, alguém que se considere não binário, isto é, que se coloque fora do binómio masculino-feminino. Assim, é geralmente recomendada a não utilização do termo transexual, visto até por alguns como um conceito discriminatório (ainda que isto seja divisivo), e a preferência por transgénero.
O oposto de transgénero é cisgénero, alguém cuja identidade de género coincide com aquela que lhe foi atribuída à nascença.
A COMUNIDADE 'QUEER'
A palavra ‘queer’ foi durante muitos anos nos países anglófonos usada como um insulto para pessoas da comunidade LGBT+, mas a tentativa bem-sucedida dessa comunidade de adotar ela própria esse conceito levou a uma reimaginação do termo. Efetivamente, é dos conceitos com maior nuance deste rol e provavelmente aquele com uma interpretação menos precisa. Por princípio, ‘queer’ pode ser qualquer pessoa pertencente à comunidade LGBT+ – um artigo da ‘Cosmopolitan’ refere que é uma oposição à heteronormatividade, isto é, de considerar apenas a heterossexualidade como a orientação sexual por omissão e de estruturar toda a sociedade tendo-a como base.
Existe ainda alguma controvérsia relativamente à extensão deste conceito, dada a identificação de algumas pessoas heterossexuais mas poliamorosas ou da comunidade 'kink' (fetichista) como ‘queer’, significando também a oposição da monogamia, algo contestado por um setor dos membros ‘queer’ da comunidade LGBT+.
A ASSEXUALIDADE E A IDENTIDADE ROMÂNTICA
A falta de atração sexual por outros indivíduos é denominada como assexualidade, uma comunidade (também chamada por comunidade ‘Ace’, um diminutivo de assexual) cuja proeminência tem igualmente chegado ao ‘mainstream’, apesar da baixa representatividade atual: na série ‘Bojack Horseman’, da Netflix, a personagem Todd, interpretada por Aaron Paul, descobre a sua assexualidade, não se identificando previamente como tal devido à pouca difusão desta orientação sexual.
No entanto, isto não significa que os membros desta comunidade não se possam apaixonar ou manter relações amorosas com outros indíviduos, tendo a sua própria identidade ou orientação romântica (heteroromântica, homorromântica, panromântica, etc.) ou não (existindo quem se identifique como arromântico).
