
Tinha 28 anos quando recusou, por três vezes, o convite de Aníbal Cavaco Silva para fazer parte integrante do Governo. Essas recusas foram um ato de coragem ou de desprendimento?
Acho que não foi nem uma coisa nem outra. Acho que foi uma coisa natural. Eu, aos 28 anos, tinha uma vida estável, fora da política. Vivia no Norte, fazia advocacia, ainda não tinha filhos. A mudança para Lisboa era uma mudança radical. Tinha que mudar do Norte para o Sul, tinha que deixar a advocacia e dedicar-me à política. E, portanto, tudo isso era um problema sério na minha vida pessoal. Era uma mudança forte e era, sobretudo, um desafio difícil na vida profissional. E por isso é que eu recusei, de facto, o convite uma vez, recusei segunda vez e acabei por aceitar à terceira. O mérito é mais do professor Cavaco Silva, porque eu nunca imaginei que uma pessoa como eu, ele insistisse duas vezes para que eu fosse para o Governo. E, portanto, era, não diria uma aventura, mas era um desafio cheio de riscos.
Alguma vez se arrependeu?
Eu não estou arrependido daquilo que fiz. Foi uma decisão difícil, não é uma questão de coragem nem de desprendimento, era uma questão apenas ligada à minha vida pessoal e profissional. Toda a gente sabe que eu já na altura gostava de política, toda a gente sabe que eu gostava de ter feito uma vida de advogado mais intensa e com mais anos, mas as oportunidades aproveitam-se e esta oportunidade não sei se alguma vez voltaria a repetir. Aproveitei a oportunidade porque me foi concedida a terceira hipótese de repensar e foi uma mudança radical de vida. Nunca mais nada foi igual, mas não me arrependo.
Acabou por ficar 10 anos no governo com o professor Cavaco Silva.
A primeira experiência foram 10 anos.
Foi aí que percebeu que a política ia fazer parte da sua vida sempre?
Sim, quer dizer, foi de facto uma mudança radical de vida. Eu diria que tenho, até aos 28 anos, uma vida com alguma intervenção política, mas é apenas alguma, pontual, esporádica. A partir dos meus 28, foram 22 anos consecutivos de política nacional, dos 28 aos 50 anos. A política ficou entranhada dentro de mim e foi uma carreira longa, porque foram 22 anos consecutivos só de política nacional, seja no Governo, seja no Parlamento, como líder parlamentar, como líder partidário.
Se pudesse viajar no tempo, teria feito alguma coisa diferente nessa época?
Provavelmente não. Não mudaria nada de substancial. Podia mudar coisas pontualmente, mas não mudava nada de substancial porque eu não me arrependo de nada de estrutural que tenha feito. Eu não me arrependo de ter ido para o Governo com 28 anos. Eu não me arrependo de, aos 38, já na oposição, ser líder parlamentar – foi talvez o cargo que eu mais gostei de desempenhar –, eu não me arrependo de, depois, por volta dos 45, 46 anos, ser líder partidário. Eu nem me arrependo sequer de, aos 50 anos, ter feito uma nova mudança de vida e ter deixado a vida política.
Mas o dr. Luís Marques Mendes também já assumiu que a sua imagem dessa época poderia ter passado de uma outra forma.
Sim, isso admito que sim. A minha imagem pública, por exemplo, quando saí do Governo, aos 38 anos, no fim do 'Cavaquismo', poderia estar um pouco degradada. Reconheço que sim.
Isso é o desgaste normal de quem está num cargo público?
É o desgaste normal de 10 anos de Governo. E reconheço, naturalmente, que provavelmente a imagem não estava muito em alta. Mas também não culpo ninguém por isso. Culpa minha e das circunstâncias. Mas depois as coisas mudaram e isto leva-me sempre à seguinte conclusão: a vida pública tem altos e baixos. A vida em geral tem altos e baixos e a vida pública, provavelmente, é um reflexo da vida real. E, portanto, nem sempre em casa, nem sempre fora de casa, nem sempre em alta, nem sempre em baixa. Acho que o importante não é tanto trabalhar para essa componente da popularidade, o importante é trabalhar na base da convicção e da credibilidade. Esta é a parte em que eu me mantive, digamos assim, mais ou menos coerente ao longo do tempo, fazendo apenas as coisas em que verdadeiramente acreditava. Isto é um bocadinho de convicção.
OS 'VÍCIOS' E A DISTÂNCIA DA FAMÍLIA
Dessa altura, para além do sabor dos cigarros, fica também o amargo de não ter acompanhado a família como gostaria? Uma família que estava a iniciar nessa fase.
Os cigarros foram um vício que me acompanhou durante anos, mas já deixei de fumar há 15 anos...
Ainda mantém o charuto?
Isso sim, mas é uma componente já só quase social. O resto, fumar, fumar, deixei há 15 anos. Agora, sim, nos primeiros 10 anos de Governo tenho pena de não ter acompanhado os meus filhos mais tempo. Fui acompanhando, evidentemente, mas devia ter acompanhado mais. Mas a vida governativa é muito intensa. E aqueles 10 anos foram de uma intensidade brutal e, por isso, uma pessoa, quando está com um desafio entre mãos muito sério, como ser governante, acaba por desvalorizar, dar menos atenção a outras funções. Foi aquilo que aconteceu comigo. Tive a sorte que a minha mulher me substituiu na perfeição. Em vários momentos fez de mãe e fez de pai. E eu estou agora, com os netos, a compensar aquilo que não fiz com os filhos.
E os seus filhos acabaram por "perdoá-lo"?
Acho que nem sequer houve necessidade de perdão. Viram tudo isso como natural. A mãe preencheu o espaço vazio que, em muitos momentos, havia do pai e, portanto, acho que eles nem sequer se aperceberam. É qualquer coisa que não chegou propriamente a fazer história.
E como foi depois recuperar essas ausências com a família?
O período mais difícil foi entre os 28 e os 38 anos. Os três primeiros Governos em que participei. A partir daí, a situação digamos que normalizou-se.
E será que também é um pouco o trauma desse tempo para que nenhum dos seus filhos tenha decidido por uma carreira política?
Nenhum deles se decidiu por carreira política, embora todos eles gostem de uma boa conversa de política. Eles gostam de saber, de acompanhar, gostam mesmo da especulação política. Portanto, eles têm um bichinho da política.
E algum deles ainda vai chegar lá?
Não. Mas o bichinho da política deles é mais, digamos assim, intelectual, cultural, de curiosidade. Não é o bichinho da carreira política. E, portanto, nenhum deles fez nenhuma carreira política, nem vai fazer carreira política.
A INFLUÊNCIA DO PAI
O seu bichinho da política veio precisamente do seu pai?
É, o meu bichinho veio em grande medida do meu pai, sim. O meu pai já fazia política antes do 25 de Abril [de 1974]. Quando se deu o 25 de Abril, em casa já se falava um bom bocado de política, por causa da atividade do meu pai. E, portanto, eu acho que o meu gosto pela política vem em grande medida do meu pai. Os meus filhos não seguiram carreira política nenhuma, embora gostem de uma boa discussão política. Eu acho que em grande medida porque ficaram vacinados. No caso deles acho que se aplica mesmo esta ideia do efeito 'vacina'. E vacinados porquê? Porque habituaram-se a ver o pai na televisão. E habituaram-se a ver o pai a ser criticado. Isto na política é normal. Qualquer pessoa que anda na política acha isto completamente normal e natural. Para os meus filhos, na altura, isto fazia-lhes um pouco de impressão. Eu julgo que este efeito 'vacina' contribuiu muito para que eles virassem as costas a qualquer ideia de carreira política. Mas eles estão muito bem nas suas vidas.
E, para si, enquanto ator político, é fácil lidar com essas críticas?
Quer dizer, não, fácil não é. Mas quem anda na vida política tem que estar preparado para isso. Quem não estiver preparado para ser criticado, o melhor é não entrar na vida política. A vida política exige uma grande resistência; resistência física, resistência psicológica, resistência a críticas, a comentários, a especulações. Umas são mais justas, outras menos injustas, mas é um pouco a lei da vida. Tenho a sorte, ao longo da minha vida, em que já estive longos períodos dentro da política, sobretudo 22 anos de política nacional consecutiva, entre os meus 28 e os meus 50 anos. Mas, dos meus 50 anos até agora, aos meus 67, já são 17 anos fora da vida política, ou seja, sem cargos políticos. E devo dizer que não me arrependo de ter estado na vida política, como não me arrependo de ter saído da vida política. Sempre de bem com a vida, numa situação ou noutra, sobretudo porque eu sou uma pessoa muito otimista, com espírito positivo, que vejo as coisas sempre muito mais pelo lado da confiança do que pelo lado da dificuldade.
Não se leva demasiado a sério, é isso?
Não, isso é um desastre. Uma pessoa levar-se muito a sério? Não, não. Primeiro, eu nunca me levo muito a sério. Segundo, nunca dou muita importância aos cargos, porque os cargos são efémeros. Eles desaparecem com uma facilidade olímpica e, portanto, o melhor é não os levar muito a sério. Nem nunca me deixo deslumbrar por qualquer tipo de poder, seja poder político, poder mediático. A melhor atitude, sempre, é uma atitude de humildade e de respeito. É aquilo que eu recomendo sempre a toda a gente e é, modéstia à parte, aquilo que eu fiz ao longo da vida. Não vale a pena uma pessoa deixar que o poder lhe suba à cabeça, porque isso é o primeiro passo para um trambolhão monumental e é um exercício de arrogância, o que é uma coisa péssima.
A CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
E, depois de 17 anos de vida "tranquila", o que o leva a voltar à vida política como candidato à Presidência?
Foi uma reflexão longa que eu fiz, de um ano e meio. Tive momentos ao longo desta reflexão em que me inclinava para uma candidatura e outros momentos em que recusava a ideia de uma candidatura. Acabei por decidir avançar por uma única razão: a ideia, modéstia à parte, de que, fruto da grande experiência e conhecimento que adquiri ao longo da vida, possa ser útil ao País. A minha ideia é a seguinte: o Mundo está no estado em que está, a Europa também não está bem, Portugal está profundamente dividido e polarizado, e, neste contexto de grande incerteza nacional e internacional, acho que a experiência política conta. Se vivêssemos um momento normal, as coisas até poderiam ser diferentes, mas nós vivemos um momento de enorme incerteza, em que qualquer falha pode ser um perigo. Ora, a experiência ajuda a ter traquejo, ajuda a ter conhecimento, ajuda a ter maior preparação. Ora, essa parte acho que ninguém discute...
Isso é uma 'farpa' ao candidato almirante Henrique Gouveia e Melo?
Não, não é uma crítica a ninguém, é uma constatação apenas. Mesmo as pessoas que não concordam comigo, ou que não gostam da minha maneira de ser, ou dos meus pensamentos – o que é normal, é legítimo –, mesmo essas pessoas reconhecem que eu sou uma pessoa experiente. Ora, eu acho que a experiência conta, porque a experiência gera segurança e gera confiança. Isto é um pouco como uma pessoa que tem que fazer uma cirurgia delicada. Num momento da verdade vai querer o médico mais experiente que possa ter à sua disposição. Aqui é a mesma coisa. Eu pensei muito nisto: o Mundo está no estado em que está, e a Europa não está bem, o País está muito dividido, então a minha experiência pode ser útil. Mas agora, os portugueses é que vão decidir e eu aceito humildemente a decisão que os portugueses tomarem.
A FORÇA DA MULHER, SOFIA
Já voltamos às presidenciais. Há pouco sublinhou a ajuda de Sofia, da sua mulher, um amor que tem 50 anos, que começou ali no 25 de Abril de 1974.
No 25 de Abril, sim, logo a seguir.
Tem resistido melhor o vosso amor do que propriamente os valores de Abril?
Acho que têm resistido as duas coisas. Quer dizer, o nosso namoro e casamento, isso, como é óbvio, está à vista, resistiu estes anos todos, e acho que resistiu sem grandes dificuldades. Mas eu acho que, sinceramente, os valores de Abril também. Quer dizer, porque os grandes valores de Abril são a Liberdade, são a Democracia, e em terceiro lugar, talvez, o Serviço Nacional de Saúde. Mas, bem, estes valores, ao fim destes anos todos, acho que ninguém os coloca em causa.
Isto era uma provocação...
Sim, claro. Mas quer dizer, pensando-se mais à direita ou menos à direita, ninguém quer deixar de viver em liberdade. Sendo-se mais conservador ou mais progressista, toda a gente gosta de viver em democracia, nem lhe passa pela cabeça outra solução. E mesmo no domínio da saúde, que é uma área mais polémica, eu julgo que não há português nenhum que não tenha grande paixão pelo Serviço Nacional de Saúde. Pode ser difícil lá chegar, mas o Serviço Nacional de Saúde é uma grande conquista de Abril.
E quais são as vossas principais conquistas, enquanto casal?
Eu acho que é a harmonia e a tranquilidade. Nós sempre vivemos neste quadro de harmonia e tranquilidade. Nunca houve propriamente entre nós guerras, crispações, divisões, grandes desentendimentos. Portanto, foi uma vida sempre feita, de facto, de harmonia e feita na tranquilidade.
A Sofia, em 1992, acabou por entrar na política...
Na política não. Não, ela nunca entrou na política.
Como assessora de secretário de Estado...
Ah sim, sim, está bem. Mas foi uma coisa pontual.
Terá sido uma 'vingança' pelos anos em que teve de fazer de mãe e de pai?
Não, não. Acho que foi uma experiência pontual, mas ela nunca.. quer dizer, acompanha a vida política, mas também nunca lhe passou pela cabeça uma ideia de carreira política. Ela está mais ao nível da ideia dos filhos do que o contrário.
O dr. Luís Marcos Mendes chegou a dizer que não tinha sido uma decisão acertada, por fazer parte do mesmo Governo em que o Sr. estava...
Ah sim, já me recordo. Ou seja, tem a ver com a questão de familiares a fazerem parte de gabinetes de outros membros do Governo. Na altura, nos anos 90, não foi visto, como um problema, mas visto aos olhos dos dias de hoje, digamos assim, poderia ter sido diferente. Se voltasse atrás, eu recomendaria que ela não tivesse feito isso, mas as coisas às vezes acontecem. Nós também não somos perfeitos, fazemos coisas bem feitas e outras com erros.
UM HOMEM DE FAMÍLIA... E A PAIXÃO PELO DESPORTO
Avô de seis netos, com o sétimo a caminho.
Sim.
Nesta fase da sua vida, é um avô mais presente do que foi como pai nesse período dos dez anos, entre os 28 e os 38 anos?
Sim, hoje sem dúvida. Sim, talvez um avô mais presente do que um pai que foi ausente em alguns momentos. Portanto, estou um pouco a compensar as falhas do passado. Mas, sobretudo, estou a desfrutar de um estatuto extraordinário, que é o estatuto de ser avô. Sou aquilo que em linguagem popular se chama um 'avô babado', embora acho que, como eu, há milhares em Portugal, porque quem já é avô, ou quem já passou por esse estatuto, sabe que é uma coisa absolutamente extraordinária. Há mais disponibilidade, há mais abertura e, de facto, consegue-se usufruir de situações e oportunidades que, porventura, pela vida intensa que uma pessoa levava quando era pai, não conseguia.
E acompanha-os nas brincadeiras, por exemplo, durante as férias? Ainda faz bodyboard?
Não, já não faço. As minhas costas não permitem. Eu sempre fiz muito desporto, ao longo da vida, e continuo a fazer. Com a idade vou é mudando o tipo de desporto que faço. Joguei futebol, joguei andebol, eu joguei ténis, muitos anos, eu fiz bodyboard também, alguns anos, mas isto vai deixando algumas sequelas, no meu caso, sobretudo nas minhas costas. Portanto, hoje eu tenho que ter desportos que não causem trepidação na minha coluna. Hoje, sobretudo, faço ginásio. Para mim, o desporto é uma parte indissociável da minha vida. Eu diria que há duas ou três coisas que são indissociáveis da minha vida: gosto muito de fazer desporto, gosto muito de ler e gosto muito de viajar. São três coisas que ajudam, digamos assim, à minha tranquilidade de espírito.
E que teve tempo para fazer nestes últimos anos mas que poderá deixar de ter.
Mas agora vou deixar de ter, exatamente. Até agora tive mais tempo, por exemplo, para viajar. Estes 17 anos fora dos cargos políticos permitiram-me tempo para viajar, para conhecer o Mundo, e tenho ainda outros projetos na cabeça em termos de viagens, mas que, para já pelo menos, vão ficar entre parênteses
Quando está de férias, no Algarve, prefere manter-se resguardado aqui por casa ou gosta da confusão própria desta época?
Nem uma coisa nem outra. Primeiro, evidentemente, que gosto de estar tranquilo e reservado. Prefiro jantar em casa todos os dias com os filhos e com os netos, e, uma vez ou outra, juntando alguns amigos mais íntimos, do que propriamente ir para restaurantes.
VIDA SOCIAL E ASSÉDIO NA RUA
Ia perguntar-lhe precisamente se gosta dos restaurantes da moda...
Não, não frequento muito restaurantes neste período de férias. Prefiro fazer férias mesmo em família, e com alguns amigos mais íntimos, que normalmente são amigos fora da política. E é isso que eu faço há muitos anos. Mas não é agora, não é este ano, é desde sempre, há 20 anos que faço assim. Agora, também devo dizer que não me aborrece nada andar na rua e falar com as pessoas e de ser interrompido pelas pessoas. Não me aborrece nada. De resto, vou todos os dias para a praia a pé (praia da Marina, em Vilamoura), e são três quilómetros. Vou sempre a pé, sempre, porque gosto de fazer caminhadas. Evidentemente que encontro sempre pessoas que me conhecem.
E é muito abordado na rua?
Sim, a cada passo. Mas eu sempre gostei disso. Não estou apenas a dizer este ano, porque estou em vésperas de uma eleição. Nos anos anteriores, as pessoas conheciam-me da televisão. Quando estou em família, gosto de estar em família, quando estou na rua, não tenho nenhum problema em falar com as pessoas. Sempre tive esta relação muito próxima e de uma certa simpatia com as pessoas em geral. Nunca vi uma pessoa na rua a ser antipática comigo. Nunca vi, nunca tive disso. E eu também não tenho razão nenhuma, até pela minha maneira de ser, para não cultivar esta relação de proximidade. Sempre fui assim. Não tem nada a ver com a proximidade de eleições. Tem a ver apenas com a minha maneira de ser, genuína e autêntica. Eu não sou o postiço.
Sempre assumiu a família, nunca a escondeu. Isso pode ser também um trunfo político?
Não é por uma questão de tática política, não é por uma questão de trunfo, é pela naturalidade. Não ando a expor a família todos os dias, mas também não ando a trancá-la em casa. Portanto, é como toda a naturalidade. Nós somos assim na vida, nem sempre em casa, nem sempre fora de casa.
A TELEVISÃO E A RELAÇÃO COM CLARA DE SOUSA
Falou da televisão há pouco. Sente saudades das noites de domingo ao lado da Clara de Sousa, na SIC?
Quer dizer, saudades da Clara de Sousa sempre, porque tenho-a na conta de uma grande profissional e ajudou-me imenso durante 12 anos a fazer comentários. Portanto, saudades dela tenho. Tenho saudades e admiração por ela. Mas eu já a tinha, porque eu acho que ela é uma grande profissional. Do melhor que há. Agora, nos primeiros meses, custou-me um pouco não cumprir aquela rotina de sair de casa, fazer o comentário, voltar a casa, ver as mensagens que recebia por causa do comentário que fazia. Nas primeiras semanas senti um vazio. Mas neste momento já me adaptei. É como tudo na vida. Quando aos 28 anos aceitei ir para o Governo, foi um choque; a saída do Governo, aos 38 anos, foi outro choque; o de ter sido líder parlamentar, de repente – eu que nunca tinha sido deputado –, outro choque. Deixei de ser líder parlamentar, e deixar aquele cargo que eu mais adorei, foi um choque; ser líder partidário há 20 anos, foi outro choque; deixar a vida política, outro choque. A vida faz-se de isto. A vida faz-se de choques. Uns mais positivos, outros mais negativos, mas são choques no sentido de mudanças. São desafios, são riscos. Mas eu faço o meu discurso sempre, a recomendar às pessoas, risco, inovação, vamos empreender, vamos inovar, vamos arriscar. Eu começo por dar o exemplo praticando isso. Nunca se esqueça que o meu primeiro grande desafio comportou o maior número de riscos possível a imaginar, e foi logo em 1975: estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Fiz o meu curso na Faculdade de Direito de Coimbra, ao mesmo tempo que estava a trabalhar no Governo Civil, em Braga. E, depois, como vice-presidente da Câmara. Foi um choque, foi um desafio. Comportava enormes riscos. Correu bem. Sou um super-homem? Não, não sou coisa nenhuma, nem nada que se pareça. Há tanta gente que faz o mesmo do que eu. Só é preciso um mínimo de disciplina e de organização.
Ou seja, foi obrigado a aprender todas essas funções e desafios enquanto estava a desempenhar esses cargos.
A minha vida, e digo isto com satisfação – não digo isto com nenhum drama –, a minha vida é um bocadinho o retrato daquilo que há anos a esta parte se diz: antigamente, um emprego que se começava era um emprego para toda a vida. Agora uma pessoa muda de emprego várias vezes ao longo da vida. Cinco, seis, sete vezes. Foi o que aconteceu comigo. Mudei de atividade várias vezes ao longo da vida e tentei fazer o melhor possível. Acho que, no essencial, não correu mal.
Isso faz de si um candidato mais preparado para estas eleições?
Eu não quero dizer mais preparado. Acho que estou preparadíssimo. Não quero estar agora a denegrir os outros. Quero, sobretudo, pôr as questões pela positiva e falar por mim. Acho que estou preparadíssimo. Se eu não estivesse preparado não me metia neste desafio. E porquê que eu estou preparado? Porque eu conheço muito bem o País, o Norte e o Sul. Porque eu conheço muito bem o poder local; foi lá por onde comecei a minha experiência política. Porque eu conheço muito bem o poder central; sou das pessoas em Portugal que têm maior tempo de vida governativa, quase 13 anos. Porque conheço bem o poder parlamentar; fui tudo o que é possível no plano parlamentar. Porque conheço muito bem a vida partidária; fui líder partidário. E porque até conheço bem a relação com a Presidência da República, porque estou há 15 anos no Conselho de Estado, que tem uma relação íntima com a Presidência da República. Portanto, não quero estar a comparar-me com os outros, muito menos denegrir os adversários, mas há uma coisa que eu acho que qualquer português, da esquerda à direita entende: este homem está preparado. E depois, acho que tenho também uma outra coisa, que faz alguma diferença, os portugueses conhecem-me. Além de mais de estes anos de política, mais dos anos de comentário – que é uma coisa diferente –, as pessoas conhecem-me. Conhecem os meus pensamentos, conhecem o que eu penso sobre a maior variedade de assuntos. Podem concordar ou discordar, mas sabem como eu penso. Até sabem que eu sou baixo e às tantas gostariam que fosse alto. Mas também isto não tem drama, porque na Presidência da República não é a altura que conta, é saber se o Presidente está à altura dos desafios. E, portanto, as pessoas conhecem-me. E fui escrutinado, todas as vezes e em todos os momentos. Julgo que isto é uma vantagem. Porque se as pessoas me conhecem, conhecem as minhas ideias, o meu pensamento, e acho que isso lhes dá confiança.
Comentador político, candidato à Presidência da República. Irrita-o as comparações com o Marcelo Rebelo de Sousa?
Não. Como é que hão de irritar? É difícil alguma coisa irritar-me. Eu sou calmo, tranquilo. Tenho muita energia, mas não me deixo facilmente irritar. Agora, as comparações com o professor Marcelo? Não. Porque qualquer pessoa que vê um e outro sabe que somos diferentes. Eu costumo dizer, para não enganar ninguém, somos amigos, é verdade, há muito tempo, mas somos muito diferentes. Até nos comentários éramos muito diferentes. O Marcelo era mais analítico, eu tinha mais o hábito de tomar posições sobre as matérias, portanto, até no comentário éramos muito diferentes. Na maneira de ser, também somos muito diferentes. Portanto, se eu for Presidente, como desejo, serei um Presidente diferente, porque se sou diferente no conteúdo, no estilo e na forma de Marcelo, também farei uma Presidência diferente. Isto é porque não há duas Presidências iguais e porque não há duas pessoas iguais. E esta é a riqueza da democracia.
Foi o primeiro candidato a avançar. Foi um risco calculado?
Quer dizer, um risco foi e calculado também. Eu avancei em fevereiro. Muito cedo. Num calendário muito semelhante ao que Jorge Sampaio adotou em 1995, ou seja, quase com um ano de antecedência. Fiz isto sobretudo por uma razão, por uma questão, digamos assim, de ética. Acho que não era correto manter-me mais tempo a fazer comentários, porque acho que as pessoas começavam a perceber, nas últimas semanas de comentários, que eu provavelmente estava inclinado a ser candidato e, portanto, manter-me na televisão a fazer comentários era uma coisa que eticamente não era correto, porque era estar a usar um lugar para fazer tempo de antena e, portanto, resolvi sair. Por exemplo, nisso, sou muito diferente de Marcelo. Marcelo Rebelo de Sousa foi candidato, mas foi comentador até outubro, quase em cima das eleições. Ora, eu deixei logo no início do ano, quase a um ano de eleições. Achei que eticamente era assim que devia ser. Essa foi a grande razão pela qual eu avancei logo, no início de fevereiro. Não era aceitável continuar a manter-me como comentador, quando as pessoas interiorizavam que eu já tinha tomado a decisão e portanto estaria de usar aquele espaço para fazer campanha eleitoral. E portanto, se foi assim tão cedo, evidentemente que era um risco. Agora, era um risco calculado, porque, evidentemente, tinha na minha cabeça como preencher o tempo. Ou seja, havia muito tempo para a frente. Havia um de dois riscos, ou o risco de uma pessoa fazer coisas a mais e desgastar-se, ou o risco de uma pessoa fazer coisas a menos e ser esquecida. Acho que, sinceramente, consegui aqui um meio termo em que não houve desgaste e também não houve esquecimento.
E como é que vê o surgimento, nestas últimas semanas, de tantos candidatos? Vai ser uma primeira volta mais difícil?
Normal, foi sempre aquilo que eu imaginava e fico com a certeza de que ainda vamos ter mais candidatos do que aqueles que avançaram até ao momento.
É o seu lado de comentador a vir ao de cima?
É. Mas vão surgir mais, sim.
O doutor Luís Marques Mendes tem por trás um partido político, PSD, vai estar na Universidade de Verão do partido no final de agosto. Depois temos depois um candidato, como o almirante Henrique Gouveia e Melo, que não quer o apoio oficial de partidos políticos, e temos António José Seguro, que também não é propriamente o candidato do Partido Socialista. Qual a importância de ter apoio partidário?
E não é apenas a democracia faz-se com partidos. É que mesmo os cinco Presidentes da República que o País teve até hoje, todos tiveram apoios partidários. Todos, sem exceção. Ramalho Eanes teve apoios partidários, Mário Soares teve apoios partidários, Jorge Sampaio teve apoios partidários, Cavaco Silva teve apoios partidários, Marcelo Rebelo Sousa teve apoios partidários. Todos tiveram e todos depois foram independentes. E é esta marca também que eu tenciono seguir. Eu tenho apoio partidário, mas mesmo o meu partido sabe que sou muito independente. E não digo isto agora, já provei. Nos meus comentários televisivos, durante 12 anos, várias vezes fiz críticas ao meu próprio partido, ou várias vezes fiz críticas a Governos do meu próprio partido e, às vezes, até irritei os meus companheiros de partido. E os portugueses sabem isso. Quando eu ando na rua, e as pessoas me falam dos meus comentários – e falam com saudade muitas vezes –, aquilo que mais dizem é isto: o senhor é muito isento. Encontro imensas pessoas na rua que me dizem: não sou do seu partido, mas voto em si porque o senhor é muito isento. E esta foi, em grande medida, a imagem que eu deixei.
E esse foi um exercício difícil ou não?
Difícil, porque criticar a própria família é sempre difícil. A nossa família política não deixa de ser a família política, mas é a família, e portanto custa sempre. Mas isto é como repreender um filho, também custa, mas muitas vezes tem de ser. Eu não podia estar a fazer comentário político a fazer tempo de antena. Se estivesse a fazer tempo de antena, ou seja, se eu dissesse sempre bem do meu espaço político, não tinha feito 12 anos de comentário político, tinha feito três ou quatro, porque as audiências quebravam e eu era corrido. Não tenha nenhuma dúvida, fiz 12 anos consecutivos, porque as minhas audiências estavam sempre em alta, e quando estão sempre em alta não se muda. Mas para estar sempre em alta, tinha de ter um fator de credibilidade, porque as pessoas sabiam muito bem qual é a minha área política, e portanto, por isso mesmo, eu adotei sempre este princípio que para mim é genuíno, quando há que elogiar, elogia-se, quando há que criticar, critica-se. Uns concordam, outros discordam, mas isto é a lei da vida. Quem não quer isto, não se envolve nesta atividade. Portanto, já provei que sei ser isento, imparcial e independente, e é isso que eu tenciono ser, e é por isso que hoje também sinto um grande prazer, em ter uma candidatura que é muito abrangente, vai do centro-direita ao centro-esquerda. Tenho muitos apoiantes que são de centro-esquerda, tenho membros do Governo de António Costa. Eduardo Barroso, que é o meu mandatário em Lisboa, ainda há dias escreveu um artigo a dizer que nunca na vida votou no PSD e no CDS, mas que vota em mim, e é o meu mandatário. Quer dizer, tenho imensas pessoas que são da área do centro-direita, que são mais do centro, e outras que são do centro-esquerda, e isto sim é aquilo que eu quero, é a ideia de unir por um lado e de representar todos. Porquê? Porque todos temos em comum uma coisa que é o País. Eu até tenho apoiantes da área da CDU. O Toy, que é um cantor e um compositor bem conhecido, já disse publicamente que nas últimas eleições legislativas votou na CDU, mas é meu apoiante, quase desde o início. Acho que há um reconhecimento que nas eleições presidenciais está à escolha a pessoa, não outras razões, e que a sua preparação e a sua isenção contam muito.
Olhando o País e o Mundo, a ordem mundial e as democracias estão em perigo?
Acho que nós estamos sobretudo num estado de desordem mundial. Há quem diga que a ordem mundial saída do pós-guerra acabou. Eu diria que não acabou ainda, mas está mais próximo do fim. Há quem diga que já estamos numa nova ordem mundial, não, acho que estamos a acabar uma, mas ainda não começou outra. Estamos num período de transição. E um período de transição que é um período de desordem, e qualquer período de desordem é sempre, de facto, um risco muito sério. Portanto, nós estamos num tempo muito difícil. Para mim, o exemplo mais sério, embora menos falado, é este que lhe vou dar: Nações Unidas. As Nações Unidas foram sempre a grande entidade a quem o Mundo recorria para tentar mediar, regular e resolver conflitos. Neste momento, as Nações Unidas não existem, são irrelevantes, são impotentes. E isto é a coisa mais grave que pode acontecer. Porque, mais sério do que um conflito que emerge no Mundo é nós sabermos que não há nenhuma entidade independente, à escala global, que o consegue resolver. E, portanto, isto é muito sério. As Nações Unidas, que foram sempre a grande válvula de segurança, neste momento, não existem. Portanto, o Mundo está perigoso, está difícil? Está. Depois, o segundo grande exemplo é a nova administração americana, que dá um sinal para o Mundo inteiro que não é um sinal favorável às democracias. É, exatamente, o sinal no sentido oposto, dos populismos, dos radicalismos, dos movimentos antidemocracia. É este o sinal que vem de cima, da administração americana, e, se de cima vem um mau sinal, corre o risco de contaminar a humanidade. Mas, como eu vejo sempre as coisas também pelo lado positivo, devo dizer o seguinte: a administração americana tem os defeitos que tem, mas não vai ser eterna e, portanto, o Mundo, e sobretudo as democracias, têm que ter resiliência e capacidade de aguentar, porque estes problemas não vão ser eternos. Há que ter esperança num mundo diferente e melhor.
O QUE PROPÕE MARQUES MENDES?
E, no meio de todo este caos, que Presidente quer ser Luís Marques Mendes?
Eu diria que quer ser um Presidente moderador por um lado e mediador por outro. Pode parecer um jogo de palavras, mas não é. São duas realidades diferentes e complementares. Quero ser um Presidente moderador porque o País precisa de moderação, precisa de equilíbrio, precisa de tolerância. Nós precisamos de ser um País cada vez mais tolerante, em que um pensa de uma maneira e outro pensa de outra, mas respeitam-se mutuamente e em que as divisões não têm que ser fator de crispação. Têm que ser fator apenas do direito à diferença, isto é tolerância, isto é moderação e uma sociedade moderada e tolerante é uma sociedade mais saudável. O Presidente tem de fazer esta pedagogia. É aquele que está em melhores condições para fazer esta pedagogia e esta pedagogia nunca foi tão importante. Tem que ser também um Presidente mediador e mediador, o que é? É mediar. E o que é que é mediar? É fazer pontes. E o que é que são pontes? São entendimentos. Sobretudo entre quem governa e quem está na oposição, para resolver problemas, para evitar crises. Quer dizer, há anos que Portugal tem problemas que se agravam; na saúde, na habitação, na justiça. Só três exemplos. E agravam-se porquê? Não se resolvem. E não se resolvem porquê? Porque não há os entendimentos necessários entre quem governa e quem está na oposição, porque não há Governos com maioria absoluta. Ora, o Presidente tem um papel indispensável de fazer estas pontes, ou seja, de mediar, de aproximar as partes, de as chamar e de lhes pedir que ponham os interesses do País acima dos interesses partidários. O Presidente é eleito diretamente pelos portugueses, tem uma autoridade muito grande, e essa autoridade não pode ser apenas para tirar selfies.
Isso é uma crítica ao atual Presidente da República?
Não, não é uma crítica. Até por isto: não é só para tirar selfies, embora tirar selfies também possa ser importante porque cultiva uma relação de proximidade com as pessoas, portanto, não tem mal nenhum. Mas não pode ser só isso. Também tem que ser esta capacidade de fazer pedagogia a favor da moderação e de fazer pontes para resolver problemas. Insisto, fazer pontes para resolver problemas. Nós não podemos continuar anos a fio com os problemas que já existiam no passado. As pessoas querem mudança. Mudança. E a mudança é a mudança de soluções, de políticas. E é nisto que o Presidente da República pode ser um instrumento essencial, de mudança. Mudança não é mudar o partido A, B ou C, o Governo que está ou que deixa de estar, é mudar as soluções, e isso só se faz com entendimentos.
Vai ter um trabalho redobrado dentro do próprio Parlamento?
Trabalho redobrado, face ao passado, sim, porque o Parlamento está mais dividido, mais fragmentado e mais polarizado do que nunca. Essa foi a grande razão que me levou a avançar com a candidatura, a situação interna, de grande fragmentação. E como eu tenho uma grande experiência política ao longo dos anos, Governo, Parlamento, acho que estou em condições para fazer estas pontes. Até por um outro facto: a minha vida política foi feita a fazer entendimentos. Eu fiz entendimentos para dar o voto aos imigrantes nas eleições presidenciais. Há 20 anos, os imigrantes não votavam nas eleições para o Presidente da República, foi um entendimento que eu fiz com o Partido Socialista. Eu fiz entendimentos num Pacto da Justiça, 2006, para resolver problemas sérios que na altura existiam na Justiça Penal. Eu fiz, em 2005, um entendimento para que os mandatos dos autarcas fossem limitados, a 12 anos. Coisas que muitos tentaram e nunca tinham feito. Eu fiz um entendimento para permitir que nas leis eleitorais possa haver um ciclo nacional, que hoje muitos reivindicam, por causa dos votos perdidos, sobretudo no interior do País. Isto são vários entendimentos. Apenas alguns. A minha vida política é feita de diálogo, de entendimentos, uns à esquerda, outros à direita. Portanto, quando eu hoje falo de entendimentos, não falo por ser candidato, falo porque já fiz. Mas se eu já fiz quando tinha menos poder, como Presidente da República julgo que tenho outras condições e o País precisa muito disso, de diálogo, entendimentos, pontes, com vista a uma mudança de políticas e de soluções.
E o Presidente precisa de mais poderes ou não?
Não, não. Acho que o sistema funciona bem como está e os poderes que estão na Constituição parecem-me suficientes.
Mas agora fala-se muito de uma revisão Constitucional.
Sim, fala-se, mas não me parece que haja nenhuma razão nacional para fazer uma revisão Constitucional. Parece-me que é um bocadinho mais de show off, do que propriamente de necessidade de revisão Constitucional. Todas as questões fundamentais que o País tem podem ser resolvidas sem revisão Constitucional. Todos os problemas da habitação podem ser resolvidos sem revisão Constitucional; todos os problemas da saúde podem ser resolvidos sem revisão Constitucional; todos os problemas essenciais da Justiça, a mesma coisa. Portanto, vamos é resolver os problemas concretos das pessoas. Revisão Constitucional acho que não diz nada a nenhum cidadão. Mas os partidos é que decidem, não sou eu.