O AVC que Nuno Markl sofreu, na passada quinta-feira, foi mais do que um susto de saúde, foi grave o suficiente para que, ao dia deste quarta-feira, dia 26 de novembro, o humorista ainda se encontre internado no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, ainda que as notícias sejam animadoras e o profissional recupere a cada dia que passa. Já com outro ânimo e disposição, foi desde a cama do hospital que Nuno Markl entrou em direto na emissão da Rádio Comercial para mais um 'O Homem que Mordeu o Cão'.
Um momento muito emotivo que tocou a toda a equipa que faz as 'Manhãs da Comercial', os milhares de ouvintes e o próprio Markl que assumiu ter ficado mais lamechas desde que sofreu o Acidente Vascular Cerebral. "Bom dia. Título deste episódio: Estou vivo. Atenção eu quero começar por avisar que ando muito emocional e choro por tudo e por nada e pode acontecer nesta edição ir-me abaixo. Aliás, Pedro Ribeiro e Vera Fernandes já assistiram a isso. Estou chorão. Sou essa pessoa agora, vão ter de lidar com isso”, começou logo por avisar.
E continuou: "Tenho muita coisa para contar, obviamente. E quero agradecer, uma vez mais, ao meu filho porque se não fosse ele eu não estaria aqui. Foi um orgulho tudo aquilo que ele fez porque para quem não sabe em que consiste um AVC pode acontecer de várias maneiras."
Numa publicação das redes sociais, Markl já havia dito que Pedro, de 15 anos, fruto da anterior relação com Ana Galvão, tinha sido o seu herói, mantendo a calma e acionando os meios de socorro, o que lhe permitiu ser rapidamente atendido, numa celeridade que fez a diferença e que acabaria por lhe salvar a vida.
No entanto, foi no seu depoimento para a rádio que Markl acabaria por esmiuçar o episódio dramático, partilhando a cronologia dos acontecimentos que, aos 54 anos, o atiraram para uma cama de hospital. "No meu caso foi da forma mais deprimente que pode acontecer porque eu estava a fazer cocó. Não é um sítio decente para estar a ter um AVC. Percebi que não me conseguia levantar da sanita e não conseguia mexer-me então acabei penosamente e ainda com as calças para baixo arrastar-me para o chão da casa de banho. Aí eu achei se calhar tenho de chamar o meu filho”, lembrou o humorista.
Perante o quadro, e apercebendo-se de que algo estava muito errado, o humorista teve de decidir o que fazer e como falar com o filho sem o alarmar, ainda que tal fosse complicado, pois a sua fala já estava muito arrastada. "Eu não o queria assustar de forma nenhuma. Parecia um bêbado a falar e ele chega e vê-me naqueles preparos. O sangue frio que ele manteve em toda a situação e apesar de eu estar a dizer ‘calma, calma, isto é uma coisa que se resolve’ e ele diz ‘não, vou ligar para o 112’. Ele liga e dou por ele a explicar tudo detalhadamente o que está a acontecer e preocupado comigo e que a minha cabeça está muito para baixo, que preciso de uma almofada… Depois chegam os bombeiros – e um abraço para os bombeiros da Parede – e ele a explicar aos bombeiros e há um momento em que percebo vou ter de deixar cair algumas coisas, nomeadamente, a dignidade. Há um momento em que o bombeiro diz para a colega ‘ok, temos incontinência’ e eu a tentar explicar ‘calma, calma, é que eu estava sentado na sanita não sou incontinente’. Eu já não sei quantas pessoas me viram nu desde que isto começou e tudo isso são coisas que se tem de deixar cair e temos de ser humildes”.
No meio de todo o drama, Nuno Markl ainda recorda um momento mais divertido que teve um dos bombeiros que o assistiram como protagonista quando percebeu que a notícia se podia espalhar: “Havia vizinhos a começar a chegar e a tentar perceber o que se passava e eu só ouço o bombeiro a dizer ‘calma, é só uma dor de dentes’. Adorei isso”, recorda Markl.
O RITMO DE TRABALHO INTENSO
Não é segredo para ninguém que os últimos meses de vida de Nuno Markl foram bastante preenchidos, com o humorista a acumular trabalhos na rádio e em televisão. É público que Markl tinha vários desafios a decorrer em simultâneo, o que poderá ter conduzido ao aumento dos níveis de ansiedade e de stress.
O humorista tinha terminado as gravações da 7.ª temporada de 'Taskmaster' – formato que partilha com Vasco Palmeirim, para a RTP1 – na passada quarta-feira, 19 de novembro, num programa que o encheu de orgulho, mas também que acrescentou várias horas de trabalho diários à sua agenda.
Na rádio, Nuno Markl faz parte do grupo de animadores das manhãs da Comercial, com a rubrica 'O Homem que Mordeu o Cão' que já deu origem a três livros, um programa de televisão e a um espetáculo ao vivo com digressão nacional. Para além disso, tinha estado a dar entrevistas e a fazer sessões de autógrafos a propósito do lançamento do livro ‘O Homem Que Mordeu o Cão: Uma Mão Humana Forrada a Veludo, Homem’.
Em vésperas de terminar as gravações de 'Taskmaster', Markl tinha um desabafo nas redes sociais, ao seu jeito bem-disposto mas que denotava algum cansaço: “Entre gravações e guiões, isto é uma empreitada bastante monumental que absorve as nossas vidas em blocos de dois meses e tal, intensivos. Estamos no fim da escrita e gravação da temporada 7. Adoro fazer isto, mas macacos me mordam se não vou respirar de alívio depois de meter aqui o último ponto final!”
Agora, o humorista encontra-se a recuperar no hospital, após ser transferido para o Egas Moniz, e com consciência de que é imperioso cuidar da sua saúde, celebrando os pequenos progressos no boletim clínico, garantindo que já consegue mexer o braço afetado e também que a hemorragia cerebral já está a ser absorvida. No meio de tudo isto, tornou-se quase comovente as demonstrações de amor em torno do humorista.
