
O popular cantor Emanuel, um homem de 65 anos que já foi o "Rei da Música Portuguesa", nascido na pequena aldeia de Covas do Douro, no transmontano concelho de Sabrosa, vai ser agraciado dia 5 de novembro com a medalha de mérito municipal, sendo a primeira vez que tal distinção de mérito é entregue a um ilustre daquela terra. Nesta data importante que se avizinha, o artista abre o coração e conta coisas que nunca revelou.
Em declarações exclusivas à The Mag, Emanuel confessa orgulho pelo reconhecimento, mas simultaneamente timidez e humildade. "Vou ser agraciado com a medalha de mérito municipal de Sabrosa. É muito importante para mim. Continuo muito ligado à terra onde nasci, às minhas origens, à beleza da região e a toda a história duriense", relata, sublinhando o amor que sente pela terra pobre onde nasceu: "É toda uma terra de grande beleza, mas ao longo dos séculos sempre de grande sacrifício porque é uma terra difícil de trabalhar. Aquilo são montanhas. É bonito para quem lá vai, mas os nossos tiveram que trabalhar muito para sobreviver ali. Continuo a levar isso muito a sério".
Inquirido sobre o dia da festa que se avizinha, Emanuel explica tudo o que vai acontecer e manifesta também um desejo íntimo. "Vou gostar que os meus filhos estejam presentes, claro. E que a minha família mais chegada esteja presente. É a primeira vez que esta condecoração será entregue. É um evento a nível das CIM’s. A CIMDouro congrega creio que 19 municípios e portanto foi criado um espaço para que a organização possa expor os seus produtos e mostrar as pessoas que mais se destacam na região. O pavilhão está pronto e vai ser estreado dando medalhas de mérito a pessoas que eles consideram de grande relevância para o Douro. É de facto a primeira vez que este evento vai acontecer, porque só agora o pavilhão ficou pronto", esclarece.
QUEM VAI SER AGRACIADO É O CIDADÃO... AMÉRICO PINTO
Mas quem a presidente da câmara municipal de Sabrosa, Maria Helena Marques Pinto da Lapa, vai homenagear é o cidadão Américo Pinto da Silva Monteiro, o verdadeiro nome de batismo de Emanuel, e que tem na sua base uma história curiosa e caricata.
Na sua biografia, 'Nascemos Para Ser Felizes', Emanuel revela como a mãe Elisa se viu aflita na hora do seu nascimento, conta que pesou quatro quilos e oitocentas gramas na balança da taberna de Covas do Douro e que o pai Alfredo, muito religioso, andou a espalhar na aldeia que ia chamar ao rebento Jesus Emanuel. Ora, o pároco da aldeia não gostou da associação bíblica e boicotou o devoto Alfredo, dando instruções à socapa à responsável pelos registos para não aceitar o nome. Na hora do registo, no meio da atrapalhação, para não deixar o cachopo sem nome, Alfredo decidiu dar o nome do avô paterno do bebé, Américo, de quem o menino herdou os olhos azuis, algo que nem o pai nem os seis tios tinham conseguido.
VISÃO GLOBAL E UM DOURO COM BOM RETORNO NOS INVESTIMENTOS
"Estudei em Sabrosa, fiz lá o exame da quarta classe. Eu simbolizo um ilustre da região", diz Emanuel a sorrir, mas com pouca convicção: "Parece-me que neste momento sou o homem mais famoso daquela região. Eu sou muito terra a terra nestas coisas. Sinto-me bem pelo facto de me terem escolhido, mas os durienses têm que ver estas coisas de uma forma global".
Depois de ter conquistado inúmeros prémios na área da música e de os seus fãs e seguidores o terem brindado com discos de ouro e platina por centenas de milhares de discos vendidos, Emanuel orgulha-se da distinção que está prestes a receber, mas destaca algo que considera mais relevante. "O importante é que a região vá melhorando. Tem melhorado muito. Nos últimos 30 anos o Douro atraiu o interesse de muita gente, quer investidores, quer turistas. É uma região em crescimento sólido e consistente, quer do vinho ao turismo. Tanto quanto sei, todas as pessoas que investem no Douro têm tido retorno. Quem lá mora tem agora uma vida melhor. Quem lá vai fica feliz. É realmente uma terra que merece ser observada com atenção por quem não a conhece e valorizada por quem a conhece, por quem lá nasceu, que é o meu caso", sustenta.
O VALOR SENTIMENTAL E O RITUAL QUE SIMBOLIZA AS SUAS MEMÓRIAS
Com os anos as raízes e a ligação de Emanuel a Covas do Douro foi-se tornando mais ténue, mas há algo que nunca falha todos os anos para o cantor transmontano. "Não tenho lá casa. A família emigrou e migrou. Há muito tempo que não tenho lá familiares vivos próximos. Só primos e familiares distantes. Os meus pais e os meus tios saíram de lá há muitos anos e perde-se a ligação. Os mais velhos vão morrendo e esses laços perderam-se", lamenta.
Todavia, há algo que Emanuel nunca perdeu. "Aquela terra tem para mim um grande valor sentimental. Vou lá todos os anos, nem que seja para simbolicamente beber água na fonte. É a fonte central da aldeia de Covas do Douro, onde quando eu era miúdo nos abastecíamos porque não havia água canalizada e toda a aldeia se abastecia ali de água potável", revela, adiantando que também ele carregou muitos cântaros de água. "Eu próprio levei muita água de lá para casa. E depois era onde os miúdos e os graúdos se reuniam para as brincadeiras habituais. Eu passava religiosamente sempre o mês de agosto lá e nós, miúdos, à noite, íamos sempre para a fonte, para as brincadeiras, para as conversas vulgares da idade. É uma fonte de grande valor simbólico para mim", recorda com saudade.
Apesar de viver a mais de 500 quilómetros da terra que o viu nascer e de onde saiu com 10 anos rumo a Lisboa para ser padeiro em Cascais, Emanuel continua a defender a sua terra natal com unhas e dentes: "Covas do Douro tem uma paisagem lindíssima. É uma aldeia muito idílica, com uma paisagem extraordinária. Tudo ali é bonito e a fonte tem essa particularidade", salienta, recordando a dureza daquelas montanhas: "Era agreste. Para ter uma ideia, ir regar às hortas era meia hora a subir e meia hora a descer. Eu hoje sou quase um atleta (risos)".
HIPÓTESE DE O CAMIÃO DO 'DOMINGÃO' PASSAR EM SABROSA EM CIMA DA MESA
Como dia 5 de novembro é um sábado, haverá concerto de Emanuel e no dia 6 a festa continua por aquelas bandas, a The Mag quis saber se o camião do programa Domingão - uma ideia que o artista gizou a meias com o filho Samuel e onde circula pelo país ao lado da colega Luciana Abreu a apresentar vários cantores na SIC - ia estar presente na sua terra natal.
"A questão de o camião do 'Domingão' poder estar em Sabrosa foi ponderada, mas dia 6 há várias atividades inerentes à data. A festa será dia 5 e 6 de novembro e se o camião lá fosse tiraria o protagonismo às atividades culturais que têm toda a tarde. Foi equacionado, mas não seria justo. Só não foi para não concentrar o protagonismo todo da festa no camião e do programa e depois todas as outras atividades passavam a segundo plano e não era justo", defende.
VAI SER CONDECORADO E AINDA DARÁ MÚSICA AOS DURIENSES
O espetáculo musical de Emanuel vai inserir-se no I Festival dos Produtos Durienses, que coincide com a inauguração de um pavilhão, onde nos dias 5 e 6 de novembro estarão representados 19 municípios da CIMDouro, com stands de promoção com produtos e atividades de cada concelho. A inauguração do Mercado dos Produtos Durienses acontece no dia 5 e contará com a presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa.