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O último bastião! As negas e a origem da guerra de Ricardo Araújo Pereira, que recusa sentar-se com André Ventura: "Não vem porque eu não quero"

Confronto entre o humorista e o político tornou-se mais visível por causa do programa 'Isto é Gozar com Quem Trabalha', mas curiosamente começou antes disso, em 2019, e por causa de um amor comum aos dois: o Benfica. Desde então, a guerra tem subido de tom, com Ricardo Araújo Pereira a mostrar-se irredutível em relação a Ventura. O líder do Chega chama-lhe "palhaço do regime", ele diz que o político preside ao "refugo do refugo". Entenda a polémica.
Rute Lourenço
Rute Lourenço
05 de novembro de 2025 às 19:24
Ricardo Araújo Pereira recusa sentar-se com André Ventura no programa
Ricardo Araújo Pereira recusa sentar-se com André Ventura no programa

A guerra já é antiga, mas subiu de tom no último fim de semana, depois de Ricardo Araújo Pereira ter feito uma piada a propósito do facto de o líder do Chega  depois de o comentador Pedro Costa ter perguntado porque é que "berrava tanto".

"André Ventura vai à televisão e arrasa tudo o que são comentadores e jornalistas, a não ser que lhe digam: 'fale um bocadinho mais baixo'", brincou o humorista no programa de domingo à noite. Ventura não gostou e reagiu prontamente à piada, num tom ofensivo, em que instigava o humorista a convidá-lo para um frente a frente no seu programa.

"Se tivesse alguma coragem convidava-me para o confronto no próprio programa, mas o palhaço do regime prefere ataques cobardes todas as semanas e levar ao colo os seus amigos de esquerda caviar", escreveu, fazendo-se assim de convidado para o formato.

Só que para aqueles que têm acompanhado a postura de Araújo Pereira ao longo dos últimos anos torna-se claro que dificilmente isso algum dia acontecerá. Para entendermos o confronto, temos de recuar a 2020, quando o humorista estreou o seu programa da SIC 'Isto é Gozar com quem Trabalha'. Sempre de olhos postos nas ações dos políticos, RAP satirizava o que se passava na sociedade portuguesa, com o formato a tornar-se conhecido por, durante a campanha eleitoral, receber os principais líderes políticos para um momento humorado. Ora, logo nesse ano, Ventura - ainda com uma representatividade muito reduzida em Portugal - era candidato às Presidenciais, mas não foi convidado para se sentar com RAP, algo que o humorista justificou brevemente durante uma conversa com Joana Marques, Inês Lopes Gonçalves e Ana Galvão na Renascença. "Esse quadrante tem mais dificuldade em que alguém ria dele”, reagiu, deixando bem claro: "Não vai porque eu não quero, até seria desagradável para ele porque de cada vez que falamos dele, vai para o Twitter aos gritos dizer 'aleijaram-me', aquelas coisas de atirar-se para o chão agarrado a uma perna. Seria desagradável para ele convidá-lo porque parece uma flor muito delicada”.

E se nesse primeiro ano a coisa ainda passou praticamente despercebida, a inexistência do mesmo convite nos seguintes geraria uma queixa do líder do Chega à ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social], em 2022. Ventura alegava, então, que o formato tinha de dar igual palco a todos os candidatos, cumprindo a lei que dita que no, âmbito das eleições legislativas, "todos os partidos têm um direito de igualdade quanto aos tempos de antena". No entanto, o humorista sempre se escudou de que o seu programa não tem um cariz informativo e que, logo, está excluído dessa premissa, sendo que a ERC não tomaria uma posição firme, recomendando apenas que a SIC compensasse o Chega  pelos “desequilíbrios gerados num determinado programa em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas”.

Perante a polémica, Ricardo Araújo Pereira abordaria mais tarde o assunto para reforçar que não tem deveres éticos, por não estar obrigado a um mesmo código deontológico por que se rege a informação.  “Nem que eu estivesse num canal público eu tinha esse dever. Vim para esta profissão para não ter deveres nenhuns. A irresponsabilidade é o que se valoriza”, já respondeu no passado o humorista.  “Não há nenhuma representatividade naquilo”. “Houve partidos com assento parlamentar que eu não convidei, só que ninguém chora por eles, ninguém vai fazer queixa à ERC. O programa tem duas partes. Na primeira eu rio-me deles, na segunda eu rio-me com eles. Eu acho obsceno rir-me com o André Ventura, ele é de facto diferente. O PCP tem gravata na língua, o Ventura não”, salientou.

Ainda em 2022, em entrevista à RTP, RAP voltaria a esclarecer o assunto, para que não restassem margem para dúvidas. "Ele disse que eu não tinha coragem de o convidar para um debate, mas o programa não é um debate. É um programa de entretenimento e não de informação”. Nesse mesmo ano, na SIC, reforçaria essa postura. “André Ventura não vem porquê? Porque eu não quero. Na verdade, não é mais do que isto. Ele está sempre a resmungar que eu não o convido, como todos os grandes estadistas”.

Fora momentos de humor, o humorista também tem usado a sua voz pública para criticar Ventura, nomeadamente naquilo que considera as suas incoerências. "O André ventura não está constrangido por nada. Nem pelos factos, nem pelo bom senso, nem pela decência mínima. Ou seja, ele pode dizer tudo o que lhe apetece, protestar contra um festival de hambúrgueres que não existe e segue, pode ter um grupo parlamentar que se assemelha a uma quadrilha e segue. Não há nada que o belisque. Ele preside a um partido que é refugo do refugo."

No entanto, se a guerra se tornaria visível por causa do programa do humorista, estava teve início, curiosamente, um ano antes, em 2019, e por causa de um amor comum aos dois, o Benfica. Ora, na altura, o político, que era eleito deputado pelo Chega, participava, frequentemente, em programas desportivos, em painéis em que prestava o seu apoio ao clube da Luz, tendo uma imagem muito conotada com as águias, o que levou a que um grupo de sócios onde se incluía RAP, o escritor Jacinto Lucas Pires e o historiador Henrique Raposo, escrevesse uma carta aberta ao Benfica, a exigir que o clube se desmarcasse de André Ventura. Foi apenas o início de uma discórdia pública que esta semana levou a mais uma troca de galhardetes entre os dois.

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