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Os segredos da Comporta: viagem aos bastidores dos Hamptons portugueses onde é preciso conhecer as pessoas certas para ser feliz

Começou por ser dos pescadores, depois piscou o olho aos Espírito Santo e hoje atrai investidores de todo o mundo. Depois do colapso do BES uma nova bandeira foi hasteada a mostrar que o poder mudou de mãos na Comporta: Paula Amorim e Miguel Guedes de Sousa compraram a propriedade histórica que pertencia a Ricardo Salgado, onde ergueram o seu novo resort, e desalojaram o mítico Sal da Praia do Pego. Entre o que permanece e o que mudou, fomos descobrir o que é que, afinal, têm de tão especial os novos Hamptons portugueses e deixamos um aviso: se não conhecer as pessoas certas, poderá passar ao lado do segredo.
Rute Lourenço
Rute Lourenço
06 de agosto de 2025 às 16:52
Comporta atrai investidores globais e figuras mediáticas como Madonna e Carolina do Mónaco
Comporta atrai investidores globais e figuras mediáticas como Madonna e Carolina do Mónaco

O primeiro bar de praia que a empresária Isabel Carvalho e o marido, António, abriram na Comporta, no início dos anos 90, mal deu para pagar o Verão. A clientela era escassa, essencialmente conhecidos e amigos de amigos, os mosquitos ferozes, e os meses passaram-se sem enchentes, filas, nem sinais de que aquela pacata localidade alentejana algum dia pudesse vir a ser apelidada de ‘Hamptons de Portugal’. “A Comporta na altura não tinha praticamente ninguém, o bar funcionava com um grupo de 50 amigos, tinha uma clientela bastante reduzida, mas fazíamos coisas muito engraçadas, piqueniques e fogueiras na praia. Era outra Comporta, em que nos divertíamos muito, não era propriamente para ganhar dinheiro”, começa por contar à FLASH! Isabel Carvalho, ou Isabelinha, como por lá é conhecida, que se tornaria numa das empresárias mais bem-sucedidas da Comporta, ao abrir portas, primeiro ao restaurante Museu do Arroz – entretanto já encerrado - e mais tarde A Ilha do Arroz, onde se mantém. “Eu sempre acreditei que seria possível pôr a Comporta no mapa e ter ali uma clientela de um nível bastante alto”, afirma a empresária.

Antes de colocar a Comporta no mapa mundo, porém, foi preciso pô-la no roteiro de férias de uma determinada elite portuguesa. E claro que haverá muito mais para descrever como começou a ascensão da Comporta, mas em traços gerais a história conta-se da seguinte forma: a família Espírito Santo foi uma das primeiras a apaixonar-se pela localidade, começaram a comprar umas casinhas na Herdade da Comporta e a cada novo verão havia mais amigos convencidos de que aquele era um pequeno paraíso. O grupo crescia, alicerçado num diferente conceito de luxo em que nada lhes faltava, mas onde a rede de telemóvel, que até era fraca, propiciava à conexão com uma natureza tão rica, de pinheiros, águas turquesa, areia branca e marisco fresco sempre à disposição, apanhado pelos vizinhos pescadores.

“Na altura, quem chegava misturava-se com os pescadores e tinha um modo de vida muito simples e natural, em que o luxo não era mais do que a simplicidade de um sítio onde não há shoppings. No início, só havia meia dúzia de restaurantes, todos eles muito simples, depois surgiu o Aqui há Peixe e nós, com O Museu do Arroz, e foi aí que tudo começou.”

O boca a boca, numa determinada franja da sociedade, faria o sucesso da Comporta que, durante muitos anos, face à falta de oferta turística, se manteve quase como uma ‘Bela Adormecida’, num crescimento morno que antecederia o boom que teria início depois de 2012.

No entanto, descoberto o paraíso, seria impossível travar a sua exposição ao mundo. A localização começou por fazer da Comporta um alvo apetecível para os espanhóis – geograficamente é a praia mais próxima de Madrid – e a cada ano que passava novas línguas começavam a ser ouvidas por aquela zona do Alentejo. Os dados não mentem: entre 2012 e 2022, a receita com o IMT, o imposto pago ao Estado sempre que existe uma transação imobiliária, passou de 2 milhões de euros para quase 33 milhões para o Município de Grândola, que nesse período saltaria da 33ª posição para a 7ª (logo atrás de Lisboa) na lista dos municípios mais ricos do país.

Ao longo desse período de transição, muito se alteraria. Mais do que a terra da fraternidade, Grândola passou a significar oportunidade, para todos os lados. Os locais foram aliciados a vender as rústicas casinhas por valores que começavam no 1 milhão, a promessa de uma lotaria envenenada que significava que, para serem ricos, teriam de aceitar uma espécie de expatriação, renunciar à terra que os viu nascer.

Além disso, houve outro fator decisivo que acabaria por ser indissociável da história da Comporta. Em 2014, com a queda do BES, o património da família Espírito Santo seria dizimado e parte do fundo da Herdade da Comporta vendido. Era o poder a mudar de mãos.

A casa de Ricardo Salgado na Comporta
A casa de Ricardo Salgado na Comporta

O NASCIMENTO DE UMA NOVA COMPORTA

Da quase inexistência de ofertas, hoje, cada lote de terreno vago é alvo de disputa por investidores turísticos dos quatro cantos, pois há muito que a fama da Comporta transpôs fronteiras. A par do crescimento, todos os verões, há novas figuras mediáticas a colocar o Alentejo num roteiro de destinos fancy. Madonna foi quase uma embaixadora, antes disso, Carolina do Mónaco já se refugiava naquele pacato paraíso perdido no mapa e nem Meghan Markle e Harry resistiram ao luxo português, alojando-se num dos novos empreendimentos, o Costa Nova, que garante a privacidade que celebridades de topo procuram nas férias.

Acaso ou não, os ventos de mudança coincidiriam com o momento em que a Comporta passou a ter novos donos, em 2019, quando Paula Amorim e Miguel Guedes de Sousa, em conjunto com o magnata francês Claude Berda, compraram a Herdade da Comporta, a histórica propriedade que pertencia aos Espírito Santo.

Chegaram com tudo: anunciaram a construção de um novo resort, no meio da natureza, e desde cedo mostraram que o corte com o passado seria imediato e total. Não deixa de ser simbólico o local onde, em primeira instância, instalaram o seu restaurante JNcQUOI: em plena praia do Pego, desalojaram o mítico Sal, de Vasco Hipólito, e hasteavam a sua bandeira no spot por excelência de Ricardo Salgado.

Embora publicamente ninguém o queira assumir, entre os empresários já estabelecidos na Comporta, uma aura de desconforto pairou no ar com a chegada de Paula Amorim e Miguel Guedes de Sousa, que não estavam ali para fazer amigos, mas sim para multiplicar dinheiro e estatuto. Hoje, não deixa de soar a estratégico que na apresentação do seu novo resort à imprensa estrangeira (em Portugal só um órgão de comunicação social foi convidado) o que salte à vista no logotipo da marca seja Comporta em letras garrafais e JNcQUOI num tamanho mínimo, que mais parece um teste à miopia. É como se os empresários confirmassem ao mundo que se a Comporta são os novos Hamptons, eles são os seus magnatas.

A consagração acontece dentro de dois anos, quando o resort estiver concluído. São 64 villas, vendidas a 15 mil euros o metro quadrado. O projeto está dividido em vários espaços: A Club House, onde os membros poderão ter acesso ao spa, racket club, piscina e kids club, beach club – com restaurantes e animação noturna – o hotel propriamente dito e as villas, com acesso direto e exclusivo à praia. Tudo isto envolto num manto de privacidade entre pinheiros e numa área de acesso restrito que tornará, certamente, este espaço no novo refúgio de sonho dos muito ricos. 

"Estamos a redefinir o conceito de vida de luxo em Portugal e agora vamos elevar isso ao próximo nível. É com orgulho que lançamos o JNcQUOI Club Comporta para o mundo. Um novo capítulo se inicia — onde elegância, experiência e exclusividade se encontram num dos destinos mais deslumbrantes da Europa", afirmou Miguel Guedes de Sousa, que quando o resort estiver pronto irá rivalizar com outros projetos de luxo que investem forte na Comporta, como a cadeia hoteleira Six Senses, que tem prevista a inauguração do seu resort para 2028.

As mudanças deixam quem viu nascer a Comporta com sentimentos dúbios: se por um lado o progresso é inevitável e necessário, sempre que se muda há o risco de haver um desvio de identidade.  “Eu não estou assustada, porque acredito que o Grupo Amorim vai fazer ali um bom trabalho, agora não é a ‘minha’ Comporta. Mas dentro daquilo que é a ‘minha’ Comporta, não me parece que eles vão errar no resort que estão a fazer. Também há o projeto da Zara, o Hyatt com um outro projeto enorme. Eu acredito que quando tudo estiver pronto, se calhar quem já cá não está sou”, diz Isabel Carvalho, meio a brincar meio a sério.

O que nos leva à próxima questão. Afinal, qual é a verdadeira essência da Comporta? Hoje, quando pensamos numa espécie de roteiro do luxo, incluímos alojamentos exclusivos como a Quinta da Comporta, o Sublime ou o Atlantic Club, restaurantes como a Ilha do Arroz, o tradicional Sal, Cavalariça, JNcQUOI, Jacaré ou uma passagem nas Piadinas Zanotta. Dá-se um salto à Fashion Clinic do Carvalhal, para quem não resiste a um par de compras nas férias, e há também a promessa de umas tacadas de golf e mergulhos cristalinos nas horas que sobram. Mas será esse o espírito a que quem vive a Comporta desde sempre se refere? Aquela onde se começou por ‘brincar aos pobrezinhos’ e agora já pouco resta desses tempos desprovidos de luxos?

Isabel Carvalho não tem dúvidas de que muitos daqueles que vão para tentar descobrir essa Comporta que tanta fama granjeou podem terminar as férias a queixar-se de que não entenderam o que é que esta tem de tão especial. “Há muita gente que chega à Comporta e não entende o interesse porque vai sem conhecer praticamente ninguém, mas conhecendo as pessoas e os grupos certos chega-se ao mês de julho e agosto e não há um dia em que não haja uma festa, um jantar ou cocktail em casa de alguém. As coisas passam-se muito em casa e a um nível muito privado. E se as pessoas não conhecem, ficam um bocadinho desiludidas.” Um luxo  que nem sempre o dinheiro pode comprar...

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