
"Pergunto-me quanto este idiota está disposto a pagar"; "Vamos descobrir". As citações fazem parte de uma troca de mensagens entre os médicos Salvador Plasencia e Mark Chavez, ambos foram formalmente acusados esta semana de terem responsabilidade pela morte de Matthew Perry em outubro do ano passado, vítima de uma overdose de cetamina [medicação que serve para induzir ou manter estado de sedação ou aliviar a dor] aos 54 anos.
A resposta para a dúvida do doutor Salvador Plasencia são dois mil dólares por quatro frascos de cetamina em apenas uma ocasião. No mês anterior à sua morte, Matthew Perry terá gasto 55 mil dólares para adquirir o medicamento através de uma rede contatos, noticiou o ‘Guardian’. A [cetamina adquirida de forma legal custa cerca de 12 dólares.
A trágica morte da estrela de ‘Friends’ revelou este mês uma rede de tráfico em Hollywood que coloca a nu como um medicamento como a cetamina, usado de forma legal para tratar depressões e como anestésico, chega a custar mais de 40 vezes mais o seu valor quando entra em surdina nas mansões luxuosas de Los Angeles. No caso de Matthew, dois médicos, um assistente, um amigo e a ‘rainha da cetamina’ agiram em conjunto, segundo o Ministério Público, mesmo sabendo dos riscos para a saúde do ator. E se eles começarem a fazer acordos para reduzir as acusações, muitos outros nomes vão começar a aparecer.
O fornecimento das grandes doses do medicamento acontecia de duas formas principais, segundo as autoridades. O assistente de Matthew Perry ou comprava a cetamina com o médico do ator ou comprava a um traficante que ia buscar no armazém da ‘rainha da cetamina’.
QUEM É INVESTIGADO NO CASO DA MORTE DE MATTEW PERRY?
Jasveen Sangha, de 41 anos, é conhecida como uma das maiores vendedoras de cetamina em Los Angeles, tendo entre os seus clientes apenas figuras do topo, cujos nomes ainda não vieram a público.
A mulher foi detida na semana passada e declarou-se inocente mas foi obrigada a permanecer na prisão. O Ministério Público não esconde qual é o verdadeiro interesse em manter Jasveen na prisão. O advogado Neama Rahmani explicou ao ‘Page Six’: "Ela tem dois problemas. Um, está agora ligada a duas mortes relacionadas com drogas; e dois, estava alegadamente a traficar metanfetamina."
O Ministério Público afirmou num comunicado que Jasveen Sangha tomou conhecimento dos riscos em 2019, depois de alegadamente ter vendido a dose de cetamina que vitimou o jovem Cody McLaury. "Depois que um membro da família de McLaury enviou a Sangha uma mensagem de texto dizendo que a sua cetamina havia matado McLaury, Sangha conduziu uma pesquisa no Google: ‘a cetamina pode ser listada como causa de morte’".
Quando a morte de Matthew Perry foi noticiada, no final de outubro, Jasveen Sangha mandou uma mensagem a Erik Fleming: "Apague todas as nossas mensagens".
A polícia encontrou na mansão da mulher 79 frascos de cetamina, aproximadamente 1,4 kg de comprimidos que continham metanfetamina, cogumelos psilocibinos (conhecidos como cogumelos mágicos), cocaína e medicamentos prescritos que poderão ter sido obtidos de forma fraudulenta.
Se não conseguir uma forma de negociar a sua acusação, a ‘rainha da cetamina’ poderá enfrentar entre 10 anos de prisão até à prisão perpétua.
O ASSISTENTE DE TODAS AS HORAS
O assistente pessoal de Matthew Perry, Kenneth Iwamasa, de 59 anos, foi a última pessoa a ter contato com o ator e esta quinta-feira, 22, foi formalmente acusado pela morte do seu chefe depois de ter administrado a dose fatal.
Kenneth Iwamasa confessou no tribunal na semana passada que administrava o medicamento "seis a oito vezes por dia" sem formação médica, referiu o site ‘PageSix’, e no dia da morte do ator respondeu aos pedidos de Mathew Perry para dar três injeções.
Foi o assistente quem encontrou Matthew Perry morto na banheira de hidromassagem da sua casa em Los Angeles. A sentença de Kenneth poderá chegar a 15 anos de prisão por ter conspirado com a ‘rainha da cetamina’, com o traficante Erik Fleming e com o médico Salvador Plasencia para obter o anestésico ilegalmente.
O MÉDICO DAS GRANDES DOSES
O médico de Matthew Perry, Salvador Plasencia, de 42 anos, foi formalmente acusado de sete crimes relacionados com a morte do ator, incluindo distribuição de cetamina e duas acusações de alteração e falsificação de documentos.
Especializado em medicina interna e pediatria, o médico declarou-se inocente das acusações e saiu em liberdade enquanto aguarda julgamento, inclusive poderá tratar os pacientes na sua clínica em Malibu, desde que coloque um aviso no estabelecimento sobre as acusações contra ele, noticiou a ‘CNN’.
Salvador Plasencia era um dos contatos do assistente de Matthew Perry para conseguir a cetamina. Se for condenado, arrisca-se a uma pena entre 10 e 20 anos de prisão.
O MÉDICO DO BEM-ESTAR
O outro médico, Mark Chavez, especializado em "medicina de estilo de vida" e medicina desportiva, declarou-se culpado de uma acusação por distribuição de cetamina, tendo admitido ter vendido o medicamento a Salvador Plasencia, que adquiriu através de documentos falsos entregues a um fornecedor do medicamento da sua clínica.
Mark Chavez também admitiu ter passado uma receita em nome de um paciente antigo, sem o conhecimento dessa pessoa, para obter frascos que foram posteriormente vendidos ao seu colega e, por sua vez, a Matthew Perry. Poderá enfrentar 10 anos de prisão.
O REALIZADOR TRAFICANTE
O ex-realizador e ex-produtor Erik Fleming, de 54 anos, inicialmente apresentado como amigo de Matthew Perry, declarou-se culpado por ser o traficante do ator e confessou ter obtido 50 frascos de cetamina com Jasveen Sangh, a ‘rainha da cetamina’, metade destes frascos foram comercializados nos quatro dias antes da morte de Matthew Perry. Arrisca-se a uma pena de 25 anos de prisão.
"Esses réus se importavam mais em lucrar com o Sr. Perry do que em cuidar do seu bem-estar", disse o procurador dos Estados Unidos Martin Estrada num comunicado. "Traficantes de drogas que vendem substâncias perigosas estão a apostar com a vida de outras pessoas por ganância. Este caso, junto com nossos muitos outros processos contra traficantes que causam mortes, envia uma mensagem clara de que responsabilizaremos os traficantes pelas mortes que eles causam."
E SE ELA FALAR?
O advogado Neama Rahmani explicou ainda ao ‘Page Six’ que a suspeita-chave de toda esta investigação, Jasveen Sangha, tem "muitas razões para cooperar a fim de reduzir a sua pena".
"Ela pode nomear qualquer pessoa ligada a ela, qualquer pessoa que lhe tenha fornecido ou a quem ela tenha fornecido", acrescentou. "As celebridades de Hollywood devem estar a tremer... Qualquer pessoa que tenha alguma coisa a ver com Jasveen Sangha deve estar muito preocupada neste momento."
As autoridades revelaram que mensagens antigas de Jasveen mostram-na a descrever o seu suposto fornecedor como "master-chef" e "cientista". Ainda não se sabe a quem ela se referia nas mensagens.
Uma antiga estrela do programa ‘Celebrity Rehab’, Bob Forrest, admitiu àquele mesmo site que existem redes de drogas ultra-secretas em Hollywood, que funcionam apenas com uma mensagem de mensagem, um pagamento através de uma aplicação do telemóvel e uma caixa de correio para receber a droga.
Os famosos toxicodependentes também se encontram frequentemente com outros toxicodependentes em discotecas e festas, onde trocam contatos dos traficantes. "Eles estão a consumir droga, nós estamos a consumir droga e eles dizem: 'Ei, deixa-me apresentar-te o tipo a quem a arranjo’. Depois, é um rasto interminável de conectividade", esclareceu Bob Forrest.
Um antigo traficante de drogas para famoso contou ainda que "há tantos médicos de Los Angeles que fazem qualquer coisa, incluindo mentir, pelas celebridades". "Acho que Matthew Perry era um especialista em identificar esses médicos", comentou ainda. "Paga-se em dinheiro, depois vai-se à farmácia e compra-se metadona, Valium, Xanax, o que se quiser. É só para pessoas ricas".