
Assim que se estabeleceu como líder do Chega, percebeu-se que André Ventura iria assumir um estilo mais disruptivo, populista e que a sua forma de comunicar com os eleitores se iria afastar da convencional. Foi, por isso, dos primeiros políticos a ter conta no Tik Tok, onde é bastante assíduo e pisca o olho às gerações mais jovens, publicando três a quatro vídeos por dia, que podem ir de simples brincadeiras, resumos das suas participações em programas televisivos ou comentários sobre o que está na ordem do dia, numa visão de menos de um minuto de determinado assunto, que acaba por centrar no seu ponto de vista.
O investimento nesta rede social faz com que tenha sempre milhares de visualizações em todos os vídeos, com alguns a terem passado a fronteira, tornando-se virais. O recurso ao humor acaba por ser a forma de conseguir captar o interesse de outras gerações para a política, bem como o ataque aos rivais e os temas fortes, que são os mais partilhados pelos jovens.
O avanço de Ventura com tudo nas redes sociais acabou por gerar a necessidade de os restantes partidos como que se adaptarem e irem atrás do Líder do Chega, mas a verdade é que, ou por não ser o seu palco natural, ou por não serem tão ativos, os restantes candidatos mostram mais dificuldade em conquistar seguidores, principalmente entre o Tik Tok.
A título de exemplo, Luís Montenegro tem pouco mais de mil seguidores naquela rede social, sendo que uma das últimas publicações foi a nova espécie de hino da AD, 'Deixem o Luís Trabalhar', uma música recentemente lançada e que valeu várias críticas, com o tema a ser considerado de mau gosto e a ser inclusivamente comparado pelos seguidores à música do 'Pingo Doce.'
Neste capítulo, Pedro Nuno Santos leva um bocadinho melhor sobre o seu rival direto, contando com perto de 6 mil seguidores, ainda assim um número muito residual quando comparado com os quase meio milhão que já atingiu. Na sua conta, o líder socialista aborda tanto as questões que estão na ordem do dia, como tenta chegar um bocadinho mais ao coração dos leitores, através de partilhas mais pessoais, provavelmente seguindo o exemplo de Lili Caneças, que o aconselhou a ser menos sério.
Na guerra das redes sociais, as únicas contas que se aproximam - ainda que brevemente - de André Ventura são as de Mariana Mortágua que, ao seu estilo polémico, vai partilhando vídeos para perto de 75 mil seguidores. Aproveita o Tik Tok para desmontar temas chave e para responder diretamente a alguns dos seus opositores, como acontece frequentemente com André Ventura.
E se para quem acompanha os principais espaços noticiosos é fácil perceber que nas narrativas construídas pelos políticos nas redes sociais faltam todos os restantes lados, este pode ser, muitas vezes, o perigo para quem não consome a narrativa completa.
"As redes sociais deram alguma autonomia aos partidos na forma como comunicam com os eleitores e como constroem os eventos de campanha, o que significa que têm a possibilidade de gerir completamente a imagem que querem passar com os eventos e que, muitas vezes, não coincidem em absoluto quando nós vemos a mesma cobertura no jornalismo”, já abordou Rita Figueiras, investigadora na área da Comunicação Política e professora na Universidade Católica, em conversa com a Renascença, sendo inegável que esta se tornou numa plataforma encarada com seriedade pelos políticos para a chamada caça ao voto, ainda que, para os partidos mais conservadores, este seja um caminho ainda muito no início.