
Poucos meses antes de Paula Amorim ter adquirido as propriedades históricas da Herdade da Comporta, que pertenciam a Ricardo Salgado, em 2019, um negócio milionário era assinado mesmo ali ao lado, antevendo uma competição no segmento dos muito ricos: o magnata norte-americano Michael Meldman comprava o Costa Terra Golf&Ocean Club, um projeto turístico na zona de Melides que estava a ser desenvolvido por Pedro Queirós Pereira, dono da Semapa, mas que com a sua morte deixara de fazer sentido para os herdeiros. Amorim e Meldman puseram mãos à obra praticamente em simultâneo e, coincidência ou não, acabariam por idealizar dois projetos muito próximos na sua identidade: resorts ultra exclusivos, vedados aos olhos mais curiosos, com todas as comodidades no seu interior, e que prometiam tornar-se no refúgio de milionário, empresários de topo e grandes estrelas em Portugal.
O de Paula Amorim localiza-se na Herdade da Comporta e foi anunciado como estando praticamente concluído. O de Michael Meldman, CEO da Discovery Land, fica em Melides e tem uma área que já está pronta e a outra ainda em desenvolvimento. É que, pelo meio, e com o sucesso da venda das primeiras moradias, o grupo percebeu que a Comporta poderia ser ainda mais lucrativa e expandiu o Costa Terra para a área onde antigamente ficava o Parque de Campismo de Melides.
Com a conclusão dos dois resorts mais luxuosos que algum dia o Alentejo viu, dois tubarões passam a navegar nas outrora águas pacatas alentejanas, num duelo de titãs. Se os Amorim têm Madonna no seu JNcQUOI, Meldman tem Nicole Kidman, Paris Hilton ou dos duques de Sussex a comprar casas em estilo 'simply living', onde se consegue sentir o cheiro a maresia por um valor que começa nos 4 milhões de euros.
Mas afinal, quem é Michael Meldman, o homem que se apaixonou pela Comporta, e que está a mostrá-la à nata de Hollywood? O interesse no magnata redobrou desde que, na última semana, foi revelado o nome da mais recente moradora do Costa Terra, nada mais nada menos do que Nicole Kidman, que já terá pedido alteração de residência para Portugal, planeado uma reforma dourada junto ao mar. Chegar até à estrela não terá sido difícil, até porque Meldman tem os contactos certos.
Tudo começou porque passou ao lado de uma carreira de advogado e, perante a ausência de rumo, um dia foi desafiado para ganhar aquilo que lhe disseram ser "dinheiro fácil". Meldman movia-se bem, tinha desenvoltura, pelo que a ideia era começar a vender casas num segmento de luxo, onde acabaria por fazer a sua carreira. De um funcionário imobiliário até criar a Discovery Land passaram-se alguns anos, durante os quais o empresário aprendeu tudo o que precisava e definiu como seria o seu conceito de negócio. Queria algo que se assemelhasse a um estilo de vida muito simples para quem tem tudo, inclusivamente milhões a perder de vista, gosta de golf e de uma vida de comodidades. "Com uma carreira no mercado imobiliário, rapidamente percebi que não havia um único lugar que reunisse golfe, belos destinos e comodidades impecáveis. Então, criei a Discovery Land Company", disse ao 'The New York Times'. Foi em 1994. Os primeiros condomínios foram construídos nos Estados Unidos, depois na República Dominicana e Melides.
Melhor amigo de George Clooney e Rande Gerber - magnata, marido de Cindy Crawford - o passa a palavra em Hollywood fez o resto. Só assim seria possível chegar a celebridades como Paris Hilton, Sharon Stone, que já investiram no empreendimento, ou Meghan Markle e Harry, para quem pesou o facto de o marido da princesa Eugenie de Inglaterra, Jack Brooksbank, também ter ligações ao projeto.
Quando o projeto estiver concluído, terá perto de um total de 1026 camas turísticas, das quais 804 estão executadas, 62 em construção e 160 aprovadas. Em 2022, já mais de 70 moradias de luxo tinham sido vendidas ainda em fase de projeto, sendo que tudo funcionará em torno de um campo de golf idealizado pelo famoso arquiteto americano Tom Fazio e com as áreas comuns a serem desenvolvidas pela designer portuguesa Alexandra Champalimaud. Totalmente isolado, os seus hóspedes nem precisarão de lá sair. Têm uma praia privativa - as tais que continuam a existir com cancela e a suscitar tanta polémica - um centro de saúde e bem-estar, numa mini cidade construída para dar privacidade máxima a quem por lá estiver.
No fundo, um conceito próximo daquele que o JNcQUOI de Paula Amorim implementou alguns quilómetros ao lado, onde os hóspedes se dedicam a um estilo de vida tão simples que pode parecer incompatível com o luxo, só que não o é. Porque aqui, quando nos referimos a simplicidade, queremos dizer que as idas à praia são feitas de buggy, que se consegue ouvir os passarinhos logo pela manhã ou que o silêncio à noite pode ser reconfortante, porque de resto todas as comodidades estão disponíveis mediante um estalar de dedos, entre restaurantes de autor, um spa com massagens com nomes pomposos, que prometem revitalizar até a alma e uma vida que pretende ser levada devagar, ou 'slow', se quiserem entrar no mood, com uma diferença abismal em relação aos tempos em que era o parque de Campismo da Galé que espreitava entre os pinheiros mansos.
A vista é a mesma, a água turquesa também, mas já não haverá minimercado para comprar tremoços ou meia dúzia de minis para acompanhar as sardinhas que por lá se assariam no carvão, nem famílias a chegar para as férias, espremidas em Toyotas à pinha, com crianças eufóricas perante a perspetiva de dias felizes. Mudam-se os tempos, os donos e a fauna, a Comporta (que se estende até Melides) já não é a mesma e tem agora um selo de exclusividade que atrai uma determinada franja da sociedade.