Jornalista Mário Augusto chora a morte da mãe: "Escapuliu-se depois de a todos ter apertado a mão"
O jornalista conta num texto emotivo como foram os últimos momentos com Laura.
O jornalista Mário Augusto despediu-se esta sexta-feira, 6, da mãe, Laura, que morreu aos 84 anos.
"É um estranho esvoaçar que cumpre os ciclos da vida. Chegam uns num choro de descoberta, partem outros que viveram muito e que nos fazem chorar, mesmo sabendo que assim é e sempre foi. Nestes dias e nestas circunstâncias de dor há uns momentos em que vemos o filme ao contrário, por momentos rebobinámos o nosso filme em Super 8 e lá vemos outra vez a correr aqueles passeios de domingo, a mãe a pentear-nos janotas, o orgulho dela quando alguém nos elogiava, a simpatia rechonchuda de bebé que, como se sabe, aos olhos dela era sempre o mais bonito de todos", continuou.
"Nesse filme da vida que vemos passar na memória nestes instantes mais tristes, não há cenas de birra ou da palmada, a tabuada que ela nos cantarolava para que nós a decorarmos melhor. Há o beijo, aquela gargalhada pela travessura, aquela vez em que aos doze anos decidi pegar no carro do meu pai e conduzi-lo estrada fora e ter a minha mãe e a vizinhança a correr atrás aos berros... aí que el se mata! Parecia um filme italiano do neo-realismo", recordou.
"Não me matei, só me espetei a fazer uma curva, deixando carro um bocadito amachucado. Ela lá me protegeu da zanga do pai. Era a mãe presente que nunca percebeu no que eu me metia quando fiz a opções profissionais que sempre apoiou. A mãe como as boas mães que não se deitava ou adormecia enquanto eu não chegasse da noitada e sempre acreditava em mim... mesmo sabendo que às vezes eram mentiritas que ela topava a léguas", admitiu Mário Augusto.
Sobre os últimos momentos de vida da mãe, o jornalista disse que Laura "esteve rodeada de filhos e netos como quando alguém faz uma viagem e nós vamos despedir". "Estivemos todos lá com ela, que ontem nos olhava como quem conversa. Quis agarrar a mão de todos, um a um, netos, namoradas, filhos, genro e nora, a todos ela apertava com uma mão frágil até adormecer num respirar ofegante".
"Achamos que iria dormir assim, boa pulsação igual aos outros dias, por isso decidimos ir todos dormir quase às duas da manhã", admitiu. "A Margarida, a minha irmã com nome de flor resistente, ficaria a dormir lá em casa. Todos foram embora. Por minutos ela apanhou-se sozinha e partiu. Tranquila, como sempre foi nos silêncios e como gostava de estar. Escapuliu-se depois de a todos ter apertado a mão e nos ter olhado com o seu tranquilo olho azul", revelou.
Em 2020, Mário Augusto contou também no Facebook que mãe tinha perdido um pouco a vontade de viver. "Só os netos lhe roubam sorrisos e alguma garra de vida nos dias uns atrás dos outros", contou naquela altura.