
O treinador português de futebol Paulo Fonseca chegou na passada segunda-feira a Lisboa, acompanhado pela mulher e pelo filho, Martim, de 2 anos de idade, vindo da Ucrânia, mais precisamente da cidade de Kiev, onde vivia e treinava o Shakhtar Donetsk.
Já em segurança, Katerina não esquece, no entanto, o drama que se vive no seu país. No instagram fez um longo desabafo marcado pelo sofrimento: "A alguns dias deixei a Ucrânia. Mas apenas fisicamente. Todo o meu desespero e dor transbordaram para tentar ajudar aqueles que permaneceram. A cada minuto afogo-me na dor humana: idosos indefesos sem comida, mulheres em trabalho de parto em hospitais bombardeados, os subúrbios de Kiev varridos da face da terra e gritos de socorro daqueles que ficaram lá", começou por escrever.
Continua: "Todos os dias sou literalmente apedrejada até a morte. Eu e milhões de ucranianos que estão sendo mortos por soldados russos. Gritamos em todos os ecrãs de televisão, nas redes sociais e nas capas do jornais do mundo inteiro. Mas as pessoas na Rússia ouvem nosso clamor? Perguntam-se sobre as razões do governo os ter privado das notícias que correm o mundo bloqueando as redes sociais, a rádio, a imprensa internacional e, em troca, oferecendo apenas as suas mentiras?", interrogou.
Katerina Fonseca prossegue o longo texto marcado pela dor e pela indignação: "Não importa o quanto eles mintam sobre a "operação especial" na Ucrânia e "ataques pontuais" em instalações militares; não importa o quanto eles mintam sobre o facto de sermos fascistas, pois isso justifica podermos ser mortos; não importa o quanto eles enganem, pois os seus soldados não são assassinos, mas "salvadores" da Europa", considera a jovem ucraniana.
"Eles apenas começaram, não terminaram. Porque em 2014, já eu fugia de minha casa em Donetsk de militantes russos, que ainda se mostravam "envergonhados" das suas divisas. Fugi do terror e roubo. Eu, e centenas de amigos e conhecidos, milhares de moradores de Donbass fugimos do Donetsk capturado. Hoje, centenas de milhares de pessoas fogem de toda a Ucrânia, dos invasores e assassinos. Que durante oito anos 'ficaram mais arrojados', passando para tanques e finalmente levando nas mãos a sua bandeira - a bandeira do país que iniciou esta guerra há oito anos e que continua até hoje", recordou a mulher de Paulo Fonseca.
E termina: "O mundo perdoou à Rússia, a Crimeia. Perdoou à Rússia Donbass, como antes perdoou parte da Moldávia e perdoou parte da Geórgia. Em 2014, o mundo voltou a calar-se permitindo que a Rússia voltasse a ocupar descaradamente territórios estrangeiros, livrando-se de palhaçadas e farsas com "referendos". O mundo perdoou na altura, mas não perdoará agora".