
Terça-feira da semana passada, os canais de informação, e também alguns generalistas, transmitiram, do princípio ao fim, o debate da moção de confiança do Governo de Luís Montenegro. A expectativa era elevada. Se não passasse, o Governo caía, como caiu. O desenlace foi o mais previsível, aquele para o qual todo o País estava preparado. Mas o andamento dos trabalhos na Assembleia da República provocou um crescendo de tensão e suspense, como se de um filme de Hitchcock se tratasse.
O chefe do Governo desafiou o líder da oposição, este respondeu fazendo finca-pé nas suas condições, as bancadas dos dois lados, quais coros gregos a prenunciarem a tragédia, apupavam e aplaudiam, à vez, cada intervenção. Ainda houve mais uma pausa para negociar, a qual aumentou a dúvida sobre o desfecho da votação. Por fim, inapelável, ela chegou, como se se tratasse do fim de uma peça de teatro. Assim descrita, parece uma obra de arte. Porém, o nível da linguagem e, até, a quantidade de insultos entre deputados antes, fez lembrar um episódio mal amanhado de um reality show. Passámos as últimas décadas a deixar a escola degradar-se, com as novas gerações a crescerem com cada vez menos palavras, com uma capacidade ínfima de manter a dignidade em público.
O recato da vida privada foi substituído pela exposição permanente das redes sociais, que exacerbam toda a mesquinhez humana. O debate parlamentar que fez cair Luís Montenegro foi uma metáfora perfeita da era dos reality shows e das redes sociais. Duzentas e trinta pessoas fechadas numa sala a discutirem umas com as outras. Parece o 'Big Brother'? Se calhar, é.
Programação
TVI a pedalar
Com emissões especiais dos programas de day time e das novelas em horário nobre, com o reality show em recuperação e com a informação, desta vez, a dar uma ajuda, a TVI arrancou esta semana para mais uma vitória em março. Será, possivelmente, mais apertada, mas a SIC não tem capacidade de resposta no meio do garrote financeiro em que vive.
Informação
O mundo em casa
Ao contrário de outros anos, desta vez os canais de notícias não cairão, seguramente, no erro de transformarem as suas grelhas na monocultura de política. Os espectadores descobriram o gosto de ter mais e melhor informação internacional, com programas como o de Germano Almeida no canal NOW, e ninguém está em condições de suspender a atenção ao mundo mesmo com umas eleições antecipadas no horizonte.
Audiências
A Subir
Fernando Mendes
Esta semana, ‘O Preço Certo’ teve esporádicas visitas ao horário nobre, e mostrou que pode ter sucesso noutro horário que não apenas nas 7 da tarde.
A Descer
José Eduardo Moniz
Sábado, o canal líder ficou em terceiro lugar, atrás de SIC e RTP1, com pouco mais de 11% de share. Os generalistas encolhem todos.
A Descer
Francisco Pinto Balsemão
Prejuízos superiores a 60 milhões de euros retratam a crise da empresa. Diz que “este é o ano de virar a página”. O CEO da Impresa, cada vez mais virado para o digital, usa espontaneamente metáforas da imprensa escrita. Curioso.