
O primeiro dado relevante sobre 'Rabo de Peixe' é que a generalidade dos leitores provavelmente não vai ter oportunidade de ver a série de que toda a gente fala. E muitos dos que falam não terão visto mais que o trailer ou a promoção. Isto porque estamos a falar de um produto da plataforma Netflix, que se paga à parte, o que não está ao alcance de qualquer carteira.
Podemos considerar imoral o facto de o Estado ter ajudado a produzir uma narrativa que passa numa plataforma destinada apenas aos privilegiados que a podem pagar. Mas isso é uma falsa questão. Olhemos, não para esse detalhe, mas para o todo: qualquer progresso na indústria audiovisual acaba inevitavelmente por contaminar todo o mercado. 'Rabo de Peixe' é uma narrativa com um ritmo e uma intensidade enormes, ao estilo das melhores séries contemporâneas.
A história está muito bem escrita, essa é a parte melhor do produto, porque leva ao limite da ficção um acontecimento real - o naufrágio que encheu a ilha açoriana de cocaína. As quatro personagens principais têm uma dinâmica extraordinária, onde só incomoda o abuso de um vernáculo que serve apenas para piscar o olho ao público jovem. José Condessa e Helena Caldeira, a Sílvia de cabelos cor-de-rosa, têm desempenhos soberbos. Albano Jerónimo tem uma personagem que lhe marcará a carreira. Tecnicamente, é tudo irrepreensível. "Rabo de Peixe" é filha do seu tempo, um tempo de narrativas absorventes na televisão, que cortam a respiração, e que apostam na captura plena da atenção do espectador.
Esta série portuguesa é isso: quando se entra, a vontade é ver o próximo episódio, e logo o outro, e assim sucessivamente, até ficarmos aliviados com a notícia de que vem aí uma segunda temporada.
INFORMAÇÃO - FIM DO PESADELO
Talvez no final da comissão Parlamentar de Inquérito à TAP muitos portugueses não se recordem da notícia que lhe deu origem: uma indemnização vergonhosa de 500 mil euros paga a uma antiga administradora da empresa que entrou para o governo pouco tempo depois de receber esse dinheiro. A notícia foi revelada pelo 'Correio da Manhã' faz esta sexta-feira exatamente 6 meses. A saturação dos portugueses foi muito acentuada pela overdose de diretos em que insistiram, quase doentiamente, três dos quatro canais de informação nacional. Horas infindas de depoimentos sem qualquer relevância, e muitas vezes com meras repetições de frases batidas. Um canal de televisão é um valor relevante para a comunidade. É fundamental refletir sobre o que se passa nos canais de cabo, que muitas vezes abdicam do seu próprio critério editorial só para encherem horas de emissão. Um tema recorrente a que voltarei sempre que se justifique.
PROGRAMAÇÃO - SIC JÁ GANHOU 2023
É a transposição televisiva dos jogos de tabuleiro para toda a família: diverte, é de consumo rápido, distrai e reconcilia-nos com a televisão generalista. A receita de voltar a formatos antigos é muito usada pela gestão de Daniel Oliveira, na SIC. Formatos antigos, e apresentadores com história têm sido fatores de diferenciação. Na verdade, isso nem sempre tem dado certo. Neste caso, é na mouche! Os serões de domingo estão controlados. A SIC já ganhou 2023, e prepara-se para chegar a setembro com muitas probabilidades de ganhar todos os meses do ano.
SOBE - MARCO HORÁCIO
Depois de uma aventura malsucedida na TVI, onde praticamente ficou sem nada para fazer, eis que regressa à SIC pela porta grande da parede do "Salve-se Quem Puder", que se prepara para arrasar todo o verão.
DESCE - JOSÉ FRAGOSO
O mês de junho tinha tudo para ser único para a RTP, mas na verdade o canal 1 ficará novamente em último. Se não foi agora, dificilmente a estação pública conseguirá derrotar pelo menos uma das privadas.
DESCE - PEDRO NUNO SANTOS
Vai como rosto de uma página negra da política portuguesa, em que horas infindas de depoimentos sucessivos afastaram ainda mais os portugueses da instituição parlamentar.