
Foi um ano de ouro para o jornalismo de investigação, mas foi também o ano em que voltaram os tiques controleiros à RTP. Estes dois traços marcantes de 2019 parecem contraditórios, mas, na verdade, são as duas faces da mesma moeda.
Quanto mais ativo é o jornalismo, quanto mais investiga, mais os poderes tendem a fechar-se sobre si próprios naquelas áreas em que ainda tal é possível. Ora, na estação do Estado, por maioria de razão, os anos eleitorais dão azo a todo o tipo de apetites políticos, condicionamentos de agenda e proteções do poder através de uma criteriosa gestão de alinhamentos.
Por isso mesmo, era inevitável o confronto entre o jornalismo livre e o poder que tenta condicionar tudo e todos. O ponto fulcral que interceta estes dois acontecimentos do ano na informação televisiva é o programa 'Sexta às 9' e a sua responsável, Sandra Felgueiras.
Felgueiras é uma jornalista ainda jovem que desenvolveu competências sérias na investigação jornalística. Mantém em antena um programa semanal, com equipa curta, meios deficientes e debaixo da pressão diretiva para encurtar a ambição. O adiamento de uma reportagem que incomodava o poder colocou-a, mais à sua equipa, na frente de batalha dentro da RTP contra o regresso ao passado.
Quem agora a enfrenta talvez não lhe conhecesse a coragem para levar até ao fim as batalhas que considera importantes. Coragem que faz dela a personalidade informativa do ano entre as três estações generalistas. A pior notícia para os seus inimigos é que vai continuar a ser assim no ano que vem.
GRELHA DERROTA O CHEF
Manter o ritmo do primeiro episódio seria sempre muito difícil, porque a estreia foi alvo de cuidados irrepetíveis. A segunda emissão do cozinheiro já não chegou para ganhar. Mesmo assim, a derrota ficou a dever-se em grande parte à péssima gestão de intervalos, que estendeu a passadeira vermelha à concorrência.
MEDINA SEM SOM
A rubrica fixa de comentário do autarca de Lisboa, na TVI24, foi a mais recente vítima das dificuldades operacionais e tecnológicas da estação. Segunda-feira, Pedro Pinto e Fernando Medina começaram a falar, e ninguém os ouvia. A emissão teve de voltar um passo atrás para dar tempo a que se resolvesse o problema e pudéssemos finalmente ouvir Medina.
ÂNGELO RODRIGUES
Transformou-se num produto televisivo apetecível. O formato que acompanha a recuperação do ator permanece no segredo dos deuses, mas é certo que tem forte potencial. Será uma espécie de 'Big Brother' do regresso à vida de Ângelo Rodrigues. O programa de sábado passado, à noite, teve um resultado apreciável, mas correu muito mal a Cristina Ferreira. Falhou perguntas simples e obrigatórias sobre o que se passou com Ângelo. Se foi a estação que lho pediu, para salvaguardar o futuro, devia ser a primeira a dizê-lo, em defesa da apresentadora.
'CONTA-ME COMO FOI'
O regresso desta série popular à RTP reforça os sinais de que a direção de programas tenta elevar a ficção a um novo patamar. Agora, os produtos procuram o seu público, única forma de provar a justeza das apostas. No fundo, triunfa a linha ideológica que defende que o serviço público pode ser muitas coisas, mas tem, necessariamente, de ter público. Parece óbvio, mas o passado recente da RTP não tem sido esse.