
O 'Pesadelo na Cozinha', estreado domingo à noite na TVI, é mais um sintoma de que a coisa não está fácil em Queluz de Baixo.
A ideia é colocar o chef Stanisic a testar restaurantes, detectar o que falha e ajudar a corrigir, transformando tascas humildes ou pequenas casas de hambúrgueres em potenciais estrelas da gastronomia, ou pelo menos em lugares decentes, o que já não é pouco.
Pelo meio, Stanisic descobre, e denuncia, comida estragada, empregados imprestáveis, fogões imundos ou óleo a escorrer sobre a chapa dos grelhados. Um manancial de bizarrias culinárias, digamos assim, num formato que até pode constituir uma arma fortíssima para o cabo, mas que, ou muito me engano, ou não vai conseguir agradar a toda a família, no fundo o objectivo da televisão nos serões do fim de semana.
Desde logo, porque o que prevalece é este tom de "programa do incrível", frio e sem emoção, onde as personagens são meros figurantes, sem densidade nem biografia.
A contaminação das estações generalistas pela lógica de nicho proveniente do cabo é um movimento moderno em Portugal, mas muito negativo para a televisão. A migração sem critério de formatos de um meio para o outro vai acentuar a fuga dos espectadores rumo à televisão paga, esvaziando os canais tradicionais.
Em vez de estarem a acrescentar valor às generalistas, estas opções misturam tudo e acabam por anular a personalidade dos diversos canais. Formatos adequados ao cabo no horário nobre das generalistas é algo impensável, sob qualquer critério de gestão, e um pesadelo para os espectadores.