
O apetite das televisões pelas imagens dos bastidores do futebol é voraz, e acentua-se quando se trata de campeões.
É o mesmo género de atração que faz o sucesso de um 'reality show': espreitar pela fechadura e ver a intimidade, descobrir os segredos, ver o Big Brother do futebol. No passado, isso já proporcionou aos portugueses programas diários, executados e emitidos durante os torneios.
Em 2012, um operador de câmara da Federação gravava imagens, entregues à SIC, que as emitia em horário nobre. Foi o primeiro teste do género, mas o 'Vamos Lá, Portugal' não foi um sucesso, limitado à escolha prévia, feita pela FPF, para proteger sensibilidades. Este volta a ser o ponto vulnerável do documentário sobre o Euro’16, que a RTP exibiu em dois dias, a seguir ao Telejornal, de novo com resultados abaixo do expectável.
Desta vez, a autoria foi da FPF, que deu um passo rumo à emancipação como produtora dos seus próprios conteúdos. O racional é simples: se os clubes têm os seus canais, qual o motivo para que a Selecção não tenha? As vantagens para o controlo das mensagens e para a rentabilização comercial são óbvias. As desvantagens também: o trabalho teve depoimentos e boas imagens, mas que se limitavam a mostrar outros ângulos do que já se tinha visto. Teve poucos bastidores, raros momentos de intimidade, e quase nenhum segredo. A excepção terá sido a revelação dos dotes de dançarino de Fernando Santos. Pouco para o que se queria ilustrar: a emoção de um triunfo, os bastidores da glória. Criar um "canal-Selecção" pode ser um achado valioso. Porém, há, ainda, muito a percorrer.